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A trajetória do ex presidente uruguaio Pepe Mujica e as reflexões futuras para a América Latina

Adriano Bastos Rosas

Acadêmico do 8º semestre de Relações Internacionais da UNAMA


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Ao adentrar no século XXI a América Latina encontrava-se em uma difícil situação. As lideranças político-econômicas regionais – tais como México, Brasil e Argentina – sofriam os reflexos da má gestão no processo de restruturação e ampliação que o Sistema de Mercado Internacional ingressara na década anterior. A vontade de atuar e se fazer reconhecer no mundo globalizado contrastava com a tradição da dependência tecno-científica e da subserviência da região aos interesses das grandes potências da Europa ocidental e também dos Estados Unidos da América. Socialmente, muitos países ainda careciam de políticas eficazes e eficientes em sentido a reduzir às desigualdades latentes.

Foi diante deste cenário de discreta recuperação e estabilização que os cidadãos de muitos Estados na região optaram por apostar em uma administração que acreditavam ser menos tradicional, elegendo, sobretudo para os cargos políticos mais elevados do país, candidatos que se identificavam com o socialismo – seja o soviético, seja o foquismo chinês – e com a teoria da Dependência, desenvolvida durante os anos de Ditadura e que, intelectual e/ou violentamente, se manifestaram em oposição à mesma. José Mujica Cordano (1935 –), agricultor, ex-guerrilheiro e presidente da República Oriental do Uruguai de 2010 até o início de 2015, encontra-se inserido neste contexto.


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Considerado pela mídia internacional como um presidente reconhecido por sua originalidade e austeridade, Pepe Mujica – como é mais conhecido – diferenciou-se de seus semelhantes na região, sobretudo pela coerência e sobriedade de seus posicionamentos, admitindo que nem uma extrema esquerda, e tampouco direita são caminhos viáveis para que seu país avance à democratização e ao sucesso no plano econômico.

Em contrapartida à postura agressiva e dissociativa de outros presidentes sul-americanos, os quais vêm estimulando o não diálogo entre classes e a construção de monstros como estratégia para se manterem no poder, Mujica – tal qual seu antecessor, Tabaré Vázquez – buscou em sua administração conciliar os interesses econômicos da politicamente consolidada direita no país, com políticas sociais de reforma agrária, construção de novos centros universitários e, principalmente, a política de integração sócio-habitacional.

Diante do polêmico ingresso da Venezuela no MERCOSUL, em 2012, o presidente se manifestou solidário à situação paraguaia, buscando, todavia, promover o diálogo em favor do enfrentamento, traço que manteve em outras negociações regionais e globais.


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Contribuíram também para sua administração os influentes partidos de oposição e a opinião popular uruguaia. Caso relevante nesta relação foi a decisão se o país iria ou não investigar casos de desaparecimento e assassinato, ocorridos no governo ditatorial, diante de pressões internacionais e do apelo de ONG’s no ano de 2011. Ainda que se manifestasse a favor, o presidente respeitou a opinião popular, que, duas vezes votou em plebiscito contrária à investigação, bem como aos argumentos dos opositores e do judiciário de que a mesma seria inconstitucional devido à sua retroatividade.

Deixando o cargo novamente nas mãos Vázquez no pleito de 2014, é esperado que a administração permaneça engajada na política conciliatória, coerente e autêntica de Mujica, permanecendo na trajetória de considerável sucesso que o país tem percebido na última década.




REFERÊNCIAS

LE MONDE. "Pepe" Mujica, le president anormal. Disponível em: http://www.lemonde.fr/a-la-une/article/2014/05/05/pepe-mujica-le-president-anormal_4411719_3208.html. Acesso em: 06 de Março de 2015.


O GLOBO. Mujica: "Aplicamos um princípio simples, reconhecer os fatos". Disponível em: http://oglobo.globo.com/mundo/mujica-aplicamos-um-principio-simples-reconhecer-os-fatos-11827657. Acesso em: 07 de Março de 2015.


THE ECONOMIST. A conversation with president José Mujica. Disponível em: http://www.economist.com/blogs/americasview/2014/08/uruguay. Acesso em: 07 de Março de 2015.

Justice or democracy? Disponível em: http://www.economist.com/news/americas/21573982-argument-over-past-crimes-justice-or-democracy. Acesso em: 07 de Março de 2015.






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