A Questão Nuclear: negociações entre o Conselho de Segurança e o Irã
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Na última quinta-feira, dia 02 de abril, a comunidade internacional esteve atenta às negociações entre o Irã e o grupo 5 + 1, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido), além da Alemanha. O objeto de discussão foi o programa nuclear do país do Oriente Médio, ponto de conflito recorrente no Sistema Internacional.
Ao passo que o governo iraniano alega constantemente que o país enriquece urânio para o uso civil, ou seja, medicina e afins, o Ocidente, sobretudo os Estados Unidos (EUA), teme que o país desenvolva armamento nuclear e constitua uma ameaça à segurança internacional.
Em meio a argumentações diversas quanto ao cumprimento ou não do TNP (Tratado de Não Proliferação nuclear), que o Irã diz cumprir, Israel – nação “amiga” do Ocidente – não é signatária, as discussões parecem infindáveis. Até então, a situação verificada era de descompasso, com a nação persa mantendo-se firme ao seu programa e, por consequência, sofrendo sanções através de resoluções do CSONU (Conselho de Segurança das Nações Unidas), do governo norte-americanos e da UE (União Europeia). Apesar disso, Mahmud Ahmadinejad chegou a declarar que "A nação iraniana não sucumbirá a intimidações, invasões ou violações de seus direitos", provando que as posições incisivas das potências constituem um fator a dificultar o consenso.
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A reunião entre os representantes dos governos ocorreu na Suíça. Na ocasião, ficou acordado que a capacidade nuclear do Irã será limitada, garantida através de supervisão da AIEA (Agencia Internacional de Energia Atômica). Em contrapartida, as sanções impostas pelas resoluções do CSONU serão suspensas.
Muito embora o entendimento entre os países seja preliminar, trata-se de algo inédito nos últimos anos. Assim, cabe ao internacionalista ir além do ôntico e buscar entender, apesar das comemorações do acordo, as razões de sua necessidade. Por que a questão nuclear do Irã tem sido um ponto de atrito por mais de uma década? Indo mais além, por que os ocidentais desejam impedir o surgimento de novas potências nucleares? E, por que existem países como o Irã, que buscam resistir à ordem estabelecida?
Para tanto, é útil valer-se do “realismo ofensivo” de John J. Mearsheimer, teórico de Relações Internacionais que busca entender a dinâmica dos conflitos no pós-bipolaridade. O autor entende que a multipolaridade e a busca da satisfação dos interesses dos Estados deixam o SI mais propenso às beligerâncias.
Segundo Thales de Castro (2012), Mearsheimer classifica como “revisionistas” os países descontentes com o status quo da distribuição de poder dentro do sistema internacional (p. 333-334). Desta forma, as políticas hegemônicas presentes sobretudo na multipolaridade, levam inexoravelmente à tragédia. Isto porque as potências emergentes insatisfeitas tendem a apresentar um comportamento ofensivo frente às políticas das potências hegemônicas.
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Sob esta ótica, pode-se ver que os países do 5+1, com destaque para os Estados Unidos exercem políticas hegemônicas, evidenciadas no próprio desejo de manter para si o monopólio de armas nucleares. O Irã, por seu turno, qualifica-se perfeitamente no que Mearsheimer chama de países “revisionistas”, uma vez que se demonstra insatisfeito com a distribuição de poder (neste caso, o nuclear) verificada no SI, e mantém uma postura ofensiva frente a isso, vide a fala de Ahmadinejad.
Ainda assim, o acordo foi alcançado. É bem verdade que não através do consenso, e sim por meio das pressões provocadas pelas sanções do CSONU ao Irã.
Mesmo com a importância do consenso obtido na última semana, Mearsheimer e muitos outros neorrealistas se recusariam a admitir que a problemática possa ser resolvida exclusivamente através de acordos e cooperação. Cabe aos internacionalistas refletirem sobre o acontecimento a fim de elaborarem explicações além do consensual.
REFERÊNCIAS
MEARSHEIMER, John. The Tragedy of Great Power Politics. Nova Iorque, WW Norton, 2001.
CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais / Thales Castro. – Brasília: FUNAG, 2012.
G1. Potências e Irã definem diminuição de capacidade nuclear iraniana. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/04/potencias-e-ira-definem-diminuicao-de-capacidade-nuclear-diz-agencia.html. Acesso em 04/04/2015.
BBC. Entenda a polêmica envolvendo o programa nuclear do Irã. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/05/100517_entenda_ira_nuclear_mv.shtml. Acesso em 04/04/2015.