As mídias internacionais na cobertura de conflitos
- Ana Raquel Cordeiro – Internacionalista formada
- 18 de mai. de 2015
- 3 min de leitura

Margarethe Born Steinberger, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUCSP (1997-2003), em seu livro “Discursos políticos da mídia”, apresenta o pensamento sobre a nova ordem geopolítica internacional como sendo também é uma ordem internacional midiática. Neste contexto, os meios informacionais, em sua maioria, são utilizados pelas grandes potências com o intuito de favorecer suas agendas políticas, além de se tornar uma indústria cultural, no qual os meios de comunicação de massa detém o poder de configurar mentalidades a médio/longo prazo e, por consequência, fundir o apoio necessário à consolidação da liderança mundial.
A tese da autora pode ser identificada pela análise histórica do Sistema Internacional (SI), onde guerras foram vencidas e/ou perdidas por determinadas potências devido à grande exposição aos conflitos, sejam eles de forma visual, escrita e auditiva. A Guerra do Vietnã é um grande exemplo, pois quando a população estadunidense tomou consciência dos horrores da Guerra, se posicionaram contra o conflito no sudeste asiático. Os EUA e os demais Estados do SI, ao perceberem a influência que as imagens e os discursos produzidos pela mídia geram sobre a sociedade tornaram a mídia uma das principais “armas” de guerra norte-americanas, passando a manipular e até mesmo alterar informações.
No entanto, o século XXI apresenta uma mídia mais emancipada dos domínios do Estado, e com isso surge uma nova forma de se realizar coberturas em conflitos internacionais através da mídia. Uma das maneiras de perceber esta emancipação é analisar as abordagens midiáticas através de suas agendas de interesse, onde só se apresenta à população informações selecionadas.

Outro aspecto que revolucionou a forma de se cobrir conflitos é que estes podem ser vistos e analisados por diversos ângulos, sejam eles câmeras de celulares, “feeds de notícias” e até no Twitter. James Der Derian (2010) chama isso de “Efeito Nokia”. Este efeito mostra a realidade de que hoje qualquer indivíduo com um celular que filme ou tire foto, pode fazer notícia e até fazer cobertura de um conflito, o que tornou o próprio individuo um pouco mais emancipado da mídia.
Esta onda de “emancipação” é tida pelo filósofo das Relações Internacionais, Richard Ashley, como um processo irreversível e necessário. Apesar das informações e notícias transmitidas pela mídia internacional transcenderem fronteiras políticas, econômicas, religiosas e culturais, criando mecanismos que influenciam na tomada de decisão da sociedade, faz-se necessário a desconstrução de tudo o que nela é mostrado e representado para que seja possível ir além do que é transmitido via imagens e discursos.
Diante desta realidade, o meio acadêmico é considerado como palco principal para formar cidadãos críticos em relação a tudo o que se observa a respeito da (e na) mídia., Isto acontece por meio da promoção da ressignificação do discurso midiático em sala de aula, do ensinamento de que, para se entender o Sistema Internacional, é necessário conhecer seus atores, cabendo aos educadores a tarefa de despertar em seus discentes o senso de julgamento, para que assim, estes não se tornem reféns dos discursos midiáticos.
REFERÊNCIAS
ASHLEY, Richard K. The Poverty of Neorealism. Massachusetts. Editora: Spring. 1986.
DIONISIO, Ana. A mídia e a hegemonia dos EUA durante as duas guerras do Golfo (1991 e 2003). 82 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Relações Internacionais) Universidade da Amazônia. Ananindeua. 2014.
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