top of page

Existe União Europeia sem o Reino Unido?*

Caio Salame Lobo

Graduado em Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia

MSc. em Estudos Europeus pela Université Catholique de Louvain, com especialização em Políticas Europeias

Analista de Negócios

Atualmente trabalha com monitoramento político e defesa de interesses

Após os recentes resultados das eleições do Reino Unido, a atual coalizão entre os Tories, liderados pelo primeiro ministro David Cameron e os Liberais Democratas, liderados por Nick Clegg ressurgiu como um governo comandado apenas pelos Tories e por David Cameron. O grande impacto imediato é a saída dos Lib-Dems da coalizão e os Tories assumindo o controle da política do país. Mais além, é esperado o cumprimento da promessa feita por David Cameron de promover um referendum para a população do Reino Unido decidir se continuará na União Europeia (UE) ou não.


Naturalmente surge o temor de uma possível saída do Reino Unido da UE. Este pensamento tem se tornado cada vez mais constante na Eurobubble (pessoas que trabalham nas instituições da UE ou com temas ligados à mesma). Mas qual seria o significado desta potencial saída?


Concretamente, a UE sem o Reino Unido representaria, em números, o seguinte cenário:


  • Produto Interno Bruto da UE: o PIB do bloco passaria de US$ 18.5 trilhões para US$ 15,6 trilhões. Número menor que o PIB dos Estados Unidos, que atualmente é deUS$17,4 trilhões;

  • Orçamento da UE: passaria dos atuais €141 bilhões para €125 bilhões. Uma diminuição de 11% no orçamento comunitário;

  • População: dos atuais 507 milhões de europeus, a UE contaria com 443 milhões, visto que o Reino Unido possui aproximadamente 64 milhões de pessoas em território nacional;

  • Parlamento Europeu: os 751 Membros do Parlamento Europeu (MEPs) teriam 73 MEPs a menos.


Do ponto de vista político, uma eventual saída do Reino Unido levaria a um cenário que, em nível macro, se distanciaria das medidas de livre mercado e pró-mercado único. Nas entranhas da política negociada em Bruxelas, o Reino Unido é visto como um país que preza por um aprofundamento do mercado único europeu e é um dos que evita a implantação de políticas comerciais protecionistas por parte da UE.


Nesta mesma lógica, é interessante perceber que, ainda que o Reino Unido seja o mais ativo nos discursos contra um maior aprofundamento das políticas da UE, alguns países-membros usam deste artifício em negociações. Isto se deve ao fato de que ainda que não concordem com determinadas medidas da UE, não costumam vociferar contra determinadas medidas, pois sabem que o Reino Unido o fará nas mesas de negociação.


Portanto, com a saída deste país, os demais se encontrarão em uma situação onde será necessário se colocarem em posições que eram mimetizadas pelo Reino Unido. Acredita-se numa maior tendência ao surgimento de países eurocéticos, previamente ignorados pela mídia e pela opinião pública.


No que diz respeito à política externa, a saída geraria um natural enfraquecimento da histórica aliança dos Estados Unidos e do Reino Unido, visto que a saída da UE geraria desconforto para a política externa norte-americana. Além disso, daria um novo ímpeto no eixo Washington-Berlim, visto que este seria o aliado natural dos EUA diante de uma nova realidade de capacidade de influencia nas políticas da UE.


Bruxelas é a cidade no mundo onde se concentra a maior quantidade não apenas de repórteres, mas também de lobistas, pessoas que trabalham na defesa de interesses dos seus clientes. A saída do Reino Unido romperia meios naturais dos EUA de influenciar a Eurobubble.


Finalmente, no que diz respeito ao cenário futuro da UE, pessoalmente acredito nas idéias do antigo primeiro-ministro e atual eurodeputado líder da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE), Guy Verhofstadt. Ele analisa de maneira pertinente tanto a necessidade de reforma dos tratados da UE quanto um futuro cenário para acomodar o Reino Unido e os demais países que consideram as regras atuais não claras o suficiente.


Já Verhofstad propõe que, primeiramente, um novo tratado seja negociado para a UE, onde cada país teria opções no que diz respeito à relação com a UE. Ele propõe duas situações: uma, onde o Estado faria parte do bloco como um membro que comunga da moeda única, política econômica, exército e política externa unificada e seriam comandados pelo novo bloco. Estes membros gozariam de plenos poderes. Poderiam negociar e decidir políticas futuras, da forma como acontece atualmente. Os demais países que não estão de acordo com esse ímpeto integracionista, como seria o caso do Reino Unido, deveriam optar pelo outro tipo de participação, algo como um Membro associado.


Nesta opção, o Estado teria acesso ao mercado único da UE com a livre movimentação de bens, serviços, capitais e trabalhadores, e devera aplicar as regras e regulamentos na medida em que fosse necessário evitar distorções no comércio internacional. Naturalmente, nesta segunda opção o país perderia os seus direitos de voto e de decidir as políticas do bloco. Independente de qual seja o caminho escolhido pelo Reino Unido, o certo é que grandes mudanças e intensos debates são esperados nos próximos anos.




*O artigo representa a opinião do autor, sem qualquer vínculo com a instituição onde trabalha




REFERÊNCIAS

http://europa.eu/about-eu/countries/member-countries/unitedkingdom/index_en.htm

http://www.politico.eu/article/an-eu-for-full-members-only/

http://www.vieuws.eu/eu-institutions/animation-brexit-in-numbers-what-would-europe-look-like-without-the-uk/

http://euanalytics.ideasoneurope.eu/2013/08/14/the-size-of-the-british-opt-outs/

http://www.jornal.ceiri.com.br/europa-nao-e-sinonimo-de-bruxelas-margaret-thatcher-e-a-uniao-europeia/

Veja também
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Destaques

Um site que é a cara do curso de Relações Internacionais. 

Notícias do dia
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Redes sociais 
  • Instagram Social Icon
  • YouTube Social  Icon
  • Blogger Social Icon
  • Wix Twitter page
  • Wix Facebook page
Follow us 
  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Blogger Icon
bottom of page