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Richard Ashley: do pensamento ortodoxo ao reflexivismo


Os trabalhos recentes do teórico das Relações Internacionais (RI), o norte-americano Richard Ashley, revelam uma transformação na carreira acadêmica do estudioso de política internacional. A início, ele edificou o saber ortodoxo e positivista acerca da dinâmica mundial, contudo os acontecimentos finais da Guerra Fria proporcionaram uma revolução importante em sua produção de conhecimento e também no modo analisar as relações internacionais.


Ashley é doutor em Ciência Política pelo Massachusetts Institute of Technology e defendeu, em 1977, a tese intitulada “The Political economy of war and peace: the sino-soviet-american triangle and modern security problematique”. A análise do teórico perpassou pelos conceitos ontológicos de “equilíbrio de poder”, “anarquia estrutural”, “sistema de autoajuda”, “interesses”, entre outros, os quais são considerados expressões chave do Neorrealismo.


A década de 1970 foi permeada pelo Segundo Debate, no qual neorrealismo e neoliberalismo travaram grandes embates teóricos com vistas à formulação de uma teoria geral das Relações Internacionais. Naquele mesmo período, outras abordagens da disciplina surgiram e iniciaram uma resistência no que se refere à explicação das dinâmicas internacionais.


Se por um lado as teorias neo-neo tentavam interpretar os acontecimentos internacionais de maneira sistêmica, positivista, como se as relações sociais fossem modelos matemáticos, as contra-teorias – influenciadas pelo movimento da Virada Linguística e Epistemológica – buscavam explicar os fatos através da teoria social. Ou seja, estas levavam em consideração os valores imateriais, a identidades dos agentes e valores subjetivos que influenciam a política internacional.


Neste sentido, de acordo com o pensamento de Friedrich Nietzsche e sobremaneira do filósofo francês Michel Foucault, foi introduzida nas Relações Internacionais a abordagem Pós-Moderna. Esta abordagem possui vários teóricos importantes, tais como Robert Walker, Richard Ashley, James Der Derian, Michael Shapiro, entre outros.


Ashley, inserido na fase pós-moderna, passou a criticar duramente o neorrealismo, considerando a teoria, inclusive, como uma abordagem “pobre” e repleta de “erros”. Isto pode ser conferido em sua obra intitulada “The Poverty of Neorealism”, publicada em 1984. Na busca incessante de “cientifização” da vertente – com vistas à construção de uma abordagem universal para as relações internacionais – o teórico via no realismo contemporâneo um conjunto de produções de verdades relativas que fora produzidas e reproduzidas pelos sujeitos. Portanto, uma teoria disseminada por interesses particulares.


Neste sentido, o alvo de desconstrução do teórico é justamente a principal ontologia de RI: O Estado – e suas “estruturas inerentes” (soberania, legitimidade, monopólio da violência). Diante disto, tanto Ashley, quanto outros teóricos pós-modernos propõem a desconstrução dos conceitos tomados como imutáveis na dinâmica da política internacional.


Na verdade, até mesmo a ideia de “política internacional” e a existência das “relações internacionais” são problematizadas. As dinâmicas internacionais (e as características delas) são construções conceituais relativas aos emissores das práticas discursivas, e se tornam “legítimas” porque são reproduzidas e reificadas ao longo do tempo. Por isso, a maneira pela qual se produz resistência a tais discursos é desconstruindo-os. Portanto, as ideias acerca das relações internacionais, do Estado, e da política internacional não são consideradas realidade. Estas são tidas como produções de verdade que objetivam e colocam a população em estado de sujeitos manipuláveis.


Por fim, identifica-se que a teoria pós-moderna é subversiva. Isto significa que não colabora para a formação de qualquer que seja o ordenamento do sistema (qualquer que seja o sistema). Sob esta perspectiva, Richard Ashley se apresenta também desta forma, deslegitimando e desconstruindo a hierarquização do conhecimento e dos conceitos tidos como verdades nas Relações Internacionais.



REFERÊNCIA


ASHLEY, Richard. The Poverty of Neorealism. International Organization, Vol. 38, No. 2. (Spring, 1984), pp. 225-286.

Disponível em: http://ic.ucsc.edu/~rlipsch/Pol272/Ashley.pdf.

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