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O Conflito dos refugiados na Hungria sob a perspectiva de Georg Simmel


Nos últimos anos, os conflitos de baixa intensidade têm crescido ao longo do território africano e do Oriente Médio. Territórios esses, que historicamente são conflituosos. A África e o Oriente Médio sofrem com ciclos diferentes de problemas, desde a colonização/descolonização, a implementação de democracias, o intervencionismo internacional e a insurgência local. Além disso, as guerras contínuas e a precarização da vida em países como Síria, Iraque, Afeganistão e outros, geraram intensos fluxos migratórios em direção a países centrais e/ou com melhores condições de vida.


Neste sentido, por estar geograficamente mais próxima e por ter as melhores condições para estas populações, a Europa tornou-se o destino mais procurado entre os refugiados para o início de uma nova vida. Todavia, o alto número de imigrantes está provocando uma crise humanitária ao longo do continente europeu, o que levou o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) a pedir medidas em conjunto para a resolução deste recente problema. Apesar de toda a integração vivenciada no bloco europeu, não há uma política imigratória comum para tratar destes novos refugiados.


Um dos países que serve como porta de entrada para estes imigrantes dentro do continente europeu é a Hungria, por fazer fronteira e estar próxima a países desejados pelos imigrantes, como a Áustria. Com um número absurdo de imigrantes adentrando o território no início do mês de Setembro, o mundo chocou-se ao ver as mazelas que estes povos têm sofrido para buscar uma nova vida.


Há semanas, milhares de pessoas dormem nas estações de trem, nas ruas e na fronteira na esperança de que países como a Alemanha e a Áustria os aceitem. De acordo com o intercambista brasileiro na Hungria, Mateus Fumes, por mais inadequadas e insalubres que sejam as condições de vida destes imigrantes ao redor da cidade de Budapeste e seus interiores, “grande miséria são as pessoas que morrem atravessando” para chegar ao país. Mesmo sem assistência e boa-vontade política necessária, a população húngara garante condições mínimas para a estadia dos migrantes durante sua passagem.


A Hungria passa por um processo de despreparo e desespero ao ver a quantidade de pessoas que adentram seu território, chegando a medidas extremas como a construção de fronteiras físicas mais resistentes e a prisão de pessoas que as danificam. Apesar do Governo Húngaro não estar preparado para garantir os direitos destes migrantes, a população húngara e europeia como um toco, foi tocada pelo drama destas famílias. E, mesmo com o choque causado à primeira vista, o apoio à incorporação dos imigrantes a sociedade europeia é visível.


Para CARVALHO (2007), o conflito social gera uma socialização dos sujeitos. Percebemos que o conflito existente a partir da entrada legal e ilegal de pessoas dentro do território de um dos continentes mais ricos do mundo foi impactante, mas mesmo assim, a sociedade europeia ao perceber isto, sensibilizou-se. O dualismo do conflito, como forma de gerar desavenças e socialização, é representado neste sentido. Sem dúvidas, há uma grave crise humanitária que poderá resultar em crises econômicas, políticas, etc, mas analisando os seus aspectos positivos – os quais caminham junto com os negativos – vemos o surgimento de uma nova perspectiva da comunidade europeia pró refugiados e contra violência.


O conflito, neste sentido, conseguiu alcançar a sua máxima de modificar a sociedade (WOLFF, 1950, p. 19). Logo, está ocorrendo uma radicalização na vida social dos europeus, como também dos imigrantes africanos, sírios, afegãos e muitas outras nacionalidades. Suas vidas, a partir tanto do conflito em suas regiões de origem, como na nova terra, foram modificadas substancialmente.


O desafio agora é da Europa, como grande propagadora da democracia e da paz, fazer valer seu poderio humanista e político, criando maneiras para saber lidar com esta situação. Como sempre tem feito nos últimos anos, ao surgir uma grave crise, a Europa se transforma na tentativa de acabar com ela.


Caso o continente não tome esta iniciativa, ele poderá cair no mesmo erro dos países de origem destas pessoas migrantes ao utilizar a violência. O poder precisa ser sustentado e, ao mesmo tempo, ser garantidor de melhores perspectivas de vida. Ademais, os países da Europa são alternativas para a fuga da violência, são a “felicidade da esperança” (SIMMEL, 1986, p. 56) de milhares de pessoas que deixaram de ser tratadas de forma humanizada em suas terras de origem.


Referências:


CARVALHO, Giane Alves. Conflito, violência e tragédia da cultura moderna: reflexões à luz de Georg Simmel. Revista Brasileira de Segurança Pública. Ano 1. Edição 2, 2007.


G1. Milhares de refugiados cruzam fronteira entre Hungria e Áustria. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/mil-refugiados-cruzam-de-madrugada-fronteira-entre-hungria-e-austria.html>. Acessado em 10/09/2015.


G1. Hungria detém refugiados após início de nova legislação sobre migração. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/hungria-detem-refugiados-apos-inicio-de-nova-legislacao-sobre-migracao.html>. Acessado em: 15 /09/2015.


REUTERS. Hungria pode colocar Exército na fronteira para impedir entrada de refugiados. Disponível em: <http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKCN0R50H920150905>. Acessado em 10/09/2015.


SIMMEL, Georg. Sociología: estudios sobre las formas de socialización. Madrid: Alianza, 1986.


Wolff, Kurt H. The Sociology of Georg Simmel. Glencoe, IL: The Free Press, 1950, pp. 13-17. Disponível em: <http://www.cf.ac.uk/socsi/undergraduate/introsoc/simmel12.html>. Acessado em: 13/09/2015.

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