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A Negociação em Genebra: um caminho para solução do conflito Sírio?


O conflito sírio entra em 2016 em seu quinto ano. Nessa metade de década, mais de 200.000 vidas foram perdidas, e milhões foram dispersos, desabrigados e transformados em refugiados. A natureza da contenda tem reanimado velhas disputas, reconfigurado um Sistema Internacional já bastante entrecortado e, sobretudo, testado a capacidade das instituições internacionais e dos esforços multilaterais em busca da paz.

As negociações de paz iniciadas no início de fevereiro, colocam frente a frente oposição e situação sírias, além de agentes importantes no conflito, como Rússia e EUA. Diante disto, o secretário de Estado americano, John Kerry, pediu que ambas as partes negociem de boa fé, e com seriedade. Por outro lado, o mediador das Nações Unidas, Staffan De Mistura, assinala que não há confiança em nenhum dos lados, mas que se deve dar atenção a negociação em andamento.

Esse cenário, controverso e até desfavorável para alguns Estados, dá o tom das negociações. Em meio a uma corrida presidencial já iniciada, os americanos combatem veementemente o regime de Assad, no poder há quinze anos, ao passo que os russos não vêem outra saída senão através da permanência do alauíta, aliado do Kremlin. Além do momento delicado, Obama sabe que, embora atue incessantemente, não será a sua gestão a dar números finais na situação. Em contrapartida, suas ações determinarão o que o próximo presidente terá de enfrentar, além de encontrar um protagonismo do Irã e ações suspeitas do regime saudita, aliado de Washington.

A Rússia, com o midiático Putin, vê na Síria uma ponte para sua reestruturação no jogo político internacional. Além de ser um ótimo palco para mostrar seu material bélico ao mundo, serve para atacar os rivais do regime de Assad. Ataques esses que vêm sendo constantemente criticados, por ajudarem o Estado Islâmico a se expandir. Em seu livro “A Fênix Islamista”, a jornalista Loretta Napoleoni mostra que o ‘estado fantasma’ do EI sabe aproveitar-se muito bem dessas situações, inclusive conquistando muitos moradores das regiões ocupadas.

Conquistar o cessar-fogo, levar mantimentos aos necessitados, discutir o futuro político da Síria, além de estratégias contra o avanço do EI estão na pauta das negociações, que parecem estar distantes do ideal imaginado. Raghida Dergham, em artigo publicado no Al-Arabiya, afirma que a oposição síria precisa de referenciais contundentes, haja vista que o processo é marcado, segundo ela, por ações russas.

Porém, ainda segundo a correspondente, a situação, com efeito, não se trata de um clássico embate entre ganhadores e perdedores. Trata-se de priorizar os interesses daqueles que sofrem, que morrem e continuam a morrer com o conflito, e não um jogo de amizades políticas e interesses geopolíticos, militares e econômicos.

Encarar as negociações de paz em curso como as soluções definitivas para a paz é, por si só, ser portador de grande otimismo. Não está em jogo somente a vida do regime sírio, mas sim a de toda uma região, que se vê sacudida com uma leva de terrorismo e com a debandada de milhões de habitantes, que tocam em um ponto crítico de grandes potências. Uma reverberação que leva em consideração as minúcias religiosas, sociais e políticas de um país não se resolverá com a má vontade dos negociadores. Mas deve indicar o caminho para, pelo menos, estancar a sangria e tratar lucidamente da questão.


REFERÊNCIAS

Syria Talks Are Declared Open as Mediator Begins Shuttle Diplomacy. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2016/02/02/world/middleeast/syria-talks-take-tentative-step-forward-despite-new-attacks.html?_r=0> Acesso em: 02 de fev. 2016.

Betting on Russia’s need to withdraw from Syria. Disponível em: <http://english.alarabiya.net/en/views/news/middle-east/2016/02/01/Betting-on-Russia-s-need-to-withdraw-from-Syria.html> Acesso em: 02 de fev. 2016.


Geneva talks show that the U.S. has given up on Syria. Disponível em: <http://english.alarabiya.net/en/views/news/middle-east/2016/02/01/Geneva-talks-show-that-the-U-S-has-given-up-on-Syria.html> Acesso em: 02 de fev. 2016.


The United States Botched the Syria Talks Before They Even Began. Disponível em: <http://foreignpolicy.com/2016/02/01/the-united-states-botched-the-syria-talks-before-they-even-began/> Acesso em: 02 de fev. 2016.


NAPOLEONI, Loretta. A Fênix Islamista: O Estado Islâmico e a reconfiguração do Oriente Médio. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015

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