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Análise Sobre a Retirada das Tropas Russas na Síria



As atuais dinâmicas do Oriente Médio geram grandes desafios para aqueles que tentam se aventurar em estudá-la e compreendê-la. Porém, utilizando-se da Teoria dos Complexos Regionais de Segurança (TCRS), desenvolvida pela Escola de Copenhagen, tem-se um método de análise a nível regional que permite uma melhor visão sobre determinados eventos. Uma das premissas da TCRS é que a questão da segurança entre os Estados é interdependente, de tal maneira que a segurança de um país não pode ser separada do outro (BUZAN; WAEVER, 2003, p.43). Essa interdependência gera os Complexos Regionais de Segurança (CRS), definidos como “durable patterns of amity or enmity taking the form of subglobal, geographically coherent patterns of security interdependence”. (BUZAN; WAEVER, 2003, p. 45). Em um aspecto geral, há quatro níveis de análise que moldam a TCRS, que segundo Buzan et.al.(1998) é denominado “security constellation”. Ela é composta de (I) análises sobre as políticas domésticas dos Estados da região, particularmente no que se desenvolve sobre suas vulnerabilidades, (II) pelas relações entre os Estados, (III) as interações da região com regiões vizinhas e (IV) o papel de potências globais dentro da região (BUZAN; WAEVER, 2003, p.51). A história mostra que dentro do Complexo Regional de Segurança do Oriente Médio (CRSOM) já houve o embate de influência entre EUA e URSS durante a Guerra Fria (BUZAN; WAEVER, 2003). Diante disto, pode-se destacar que houve uma certa unipolaridade, entre a década de 90 e os anos 2000, dos EUA. E, mais recentemente, devido ao surgimento da crise na Síria, a Rússia volta ao palco no Oriente Médio, ao lado de seu aliado desde a Guerra Fria, a República Árabe da Síria. As tropas russas estavam, desde setembro de 2015, em território sírio com o objetivo de ajudar o governo do presidente Bashar Al-Assad a combater a organização terrorista Estado Islâmico. Depois de 6 seis meses de apoio militar, no dia 14 de março deste ano, o presidente russo Vladimir Putin anunciou a retirada de grande parte das suas tropas da Síria. Segundo Putin, em entrevista a um jornal local, “A tarefa que encomendei ao ministério da Defesa e às forças armadas foi cumprida e, portanto, ordenei o ministério da Defesa que a partir de amanhã comece a retirada da maior parte dos contingentes militares da República Árabe da Síria”. A “tarefa cumprida” a qual Putin se refere, com os níveis de análise da TCRS (I), (II) e (IV), consistiu em: consolidar a posição do presidente sírio Al-Assad, facilitar que as forças sírias recuperassem áreas estratégicas e garantir o papel do presidente como um fator-chave em arranjos ou negociações futuras. O governo sírio possuía (e ainda possui) como maior vulnerabilidade, a dificuldade de ter que enfrentar vários fronts de batalha simultâneos (enfrentar a oposição moderada ao governo e as organizações terroristas), buscando recuperar territórios. Com a estabilização do governo sírio, ele pode fornecer os serviços básicos ao bem-estar e buscar medidas de resolução de conflito mais pacíficas com a oposição. A partir do nível de análise II, depreende-se que da relação entre os Estados, a estabilização do regime sírio poderia provocar o fim de campos de treinamento do Estado Islâmico, que afetam países que estão dividindo fronteira e recebem ataques, como Líbano e Turquia, ou que possuem células desta organização terrorista, como o Iraque e Jordânia. Por fim, em relação ao nível de análise IV, identifica-se que a Rússia mostra a sua independência dos EUA, visto como o principal “solucionador de problemas” a nível mundial, e logo, mostra que pode fazer frente a influência global americana. Segundo Anton Khaschenko, em entrevista, “era muito vantajoso criticar a Rússia, que combate o terrorismo internacional, acusa-la de todos os pecados mortais, de notícias fabricadas sobre vítimas civis e acusações da crise migratória europeia. E agora resulta que a Rússia, que só entrou por um período curto, conseguiu fazer o trabalho que a coalizão internacional não conseguia fazer em anos”. A atuação russa teve 9 mil missões aéreas de combate, destruindo 209 instalações de produção de petróleo, ajudando as tropas sírias a retomar 400 localidades e o controle de mais de 10 mil km² de território. A retirada de grande parte das tropas russas forneceu também um cenário mais propício a negociações entre o regime de Al-Assad e as forças rebeldes. Além destes atores, a Rússia também aconselhou a incluir os curdos nas negociações de paz, de maneira que não haja nenhuma divisão, de fato, do território sírio. Entretanto, há acusações de que a Rússia tenha atacado a oposição ao governo Al-Assad, matando mais de 2.000 opositores. Por fim, pergunta-se qual será a posição dos EUA. Uma verdadeira redução na violência, um cessar-fogo viável, e a busca de um processo de paz viável na Síria irá requerer também a posição dos EUA. A retirada de drones, forças especiais e caças, seria o primeiro grande passo em direção à paz. Resta saber se os EUA, que antes era disposto a medir forças com a Rússia, estará disposto a seguir medidas que possam levar ao fim do conflito. REFERÊNCIAS

BUZAN, Barry; WAEVER, Ole, DEWILDe, Jaap. Security: A New Framework for Analysis. Boulder, CO: Lynne Rienner, 1998. BUZAN, Barry; WAEVER, Ole. Regions and Power: The Structure of International Security. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. G1. Putin anuncia as retiradas das tropas da Síria. Disponível em <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/putin-anuncia-retirada-das-tropas-russas-da-siria.html> Acesso em: 29 de mar. 2016. BBC. Por que a Rússia anunciou de surpresa a retirada de tropas da Síria?. Disponível em <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160315_russia_retirada_tg> Acesso em: 29 de mar. 2016.

SPUTNIK NEWS. Por que razão a Rússia está tirando suas forças da Síria?. Disponível em <http://br.sputniknews.com/mundo/20160315/3821524/retirada-putin-siria.html> Acesso em: 29 de mar. 2016. ALJAZEERA. Russia begins withdrawl of forces of Syria. Disponível em <http://www.aljazeera.com/news/2016/03/russia-begins-withdrawal-syria-160315071011068.html> Acesso em: 29 de mar. 2016.

COUNTERPUNCH. Russia is pulling out of Syria, when will teh US?. Disponível em <http://www.counterpunch.org/2016/03/16/russia-is-pulling-out-of-syria-when-will-the-us/> Acesso em: 29 de mar. 2016.

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