Olimpíadas e Soft Power
Pierre de Frédy (1863-1937), mais conhecido como Barão de Coubertin, idealizou um conjunto de competições que homenageassem os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. Aquilo que foi vislumbrado pelo francês, entretanto, alcançou uma abrangência inimaginável, sendo utilizado como ferramenta visando o poder, a partir da concepção de teóricos das Relações Internacionais, como Joseph Nye. Nye, em sua obra “Soft Power: The Means to Success in World Politics” afirma que a cultura é uma fonte de aquisição desse tipo de poder (NYE, 2004, p.11). Desta forma, cultura, em seu sentido amplo, é “todo complexo de conhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente. Além disso, é também todo comportamento aprendido, de modo independente da questão biológica.” (SILVA; SILVA, 2006). Assim sendo, o esporte pode facilmente ser um exemplo de atividade cultural. Os Jogos Olímpicos, ao longo de suas edições, foram marcados por acontecimentos de cunho político-ideológico, influenciando e sendo influenciado por estes acontecimentos. Em 1916, os Jogos que seriam realizados em Berlim, foram cancelados devido aos acontecimentos da I Guerra Mundial. Na primeira edição pós-guerra, realizada em Antuérpia, na Bélgica, os países derrotados na guerra não puderam participar. Em 1936, em um dos episódios mais conhecidos, no auge do regime nazista, Jesse Owens e Cornelius Johnson, atletas norte-americanos e negros, alcançaram a vitória em suas respectivas provas de atletismo, causando a negação por parte do führer em entregar as medalhas, ato este que foi advertido pelo Comitê Olímpico Internacional. O período da Guerra Fria também foi marcado por acontecimentos nos Jogos Olímpicos. Em 1960, em uma atitude inédita para os lados Ocidental e Oriental da Alemanha, resolveram competir em uma única delegação no evento realizado em Roma. Este período também foi marcado pela continuação das disputas entre os Estados Unidos e a União Soviética, disputas estas que entravam em campos mais profundos, nos quais ambas as potências realizavam demonstrações de força. Além disso, em 1972, terroristas palestinos invadiram, no ápice da problemática árabe-israelense, alojamentos da delegação de Israel, assassinando nove atletas e causando comoção internacional. Diante disto, pode-se ver que a última década da Guerra Fria também pontua importantes acontecimentos nas competições, quando em 1980, nos Jogos de Moscou, lideradas pelos Estados Unidos em resposta à invasão soviética no Afeganistão, delegações de 65 países boicotaram o evento. Tal fato teve como “resposta” o boicote da União Soviética e de mais 14 delegações das Olimpíadas seguintes, realizadas na cidade americana de Los Angeles. O Brasil, mais especificamente a cidade do Rio de Janeiro, terá a partir de 05 de agosto de 2016, receberá os Jogos Olímpicos e está será uma oportunidade de aplicar os pressupostos das teorias de Relações Internacionais, mais espeficamente de Joseph Nye. As práticas culturais criam sentido para a sociedade (NYE, 2004, p.11), e em eventos internacionais a identidade nacional brasileira sempre é colocada em patamares estratosféricos. Além do aspecto cultural, a construção de uma Olimpíada requer esforços exorbitantes por parte dos governos (municipal, estadual e federal), seja em investimentos ou em propaganda positiva. Assim sendo, o legado deixado pelas competições é um tópico de suma importância para futuras discussões.
REFERÊNCIAS
Dicionário de Conceitos Históricos - Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva – Ed. Contexto – São Paulo, 2006. NYE, JR., Joseph S. Soft Power: the means to success in world politics. PublicAffairs. 2004. http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/7-fatos-da-historia-que-ajudam-a-entender-as-olimpiadas/ http://www.cartacapital.com.br/internacional/de-londres-a-sydney-o-que-sobrou-do-legado-das-olimpiadas-1050.html