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O papel de atores não-estatais na prática do “soft power”


O poder foi e continua sendo o principal assunto a ser discutido, entendido e dentro do campo de estudos da teoria política de Relações Internacionais. Este pode ser definido como a capacidade de uma ator influenciar as ações de outro de forma tal à alterar o comportamento do mesmo. Por está razão, entender o poder é uma necessidade, haja vista que dominar o mesmo é um imperativo nas relações entre pessoas e também países.

Existem diferentes fatores que podem influenciar o grau de poder que um país tem, entre eles: território, população, recursos naturais, poder militar, economia e estabilidade política. A escola de pensamento Realista considera o poder em termos de capacidade militar e força econômica, ao cujos pilares e características são chamamos de “Hard Power”. Contudo, Joseph Nye, cientista político norte-americano e professor na Universidade de Harvard, elaborou um conceito diferente de poder. Nye compreende que existe uma capacidade de influência, denominada de “Soft Power”, que vem de fontes intangíveis, tais como: a cultura, princípios básicos e valores, instituições políticas e diplomacia pública.

Desta forma, pode-se identificar que “Hard Power” se baseia em ameaça e persuasão, enquanto o “soft power” se concentra nos princípios e ideias de um país para influenciar outro no âmbito da política mundial. Usando este último tipo de poder, seria possível resolver problemas em momentos nos quais a ameaça e persuasão seriam inúteis.

O cientista político Alexander Vuving afirma que o “Soft Power” consiste em três moedas de troca: beleza, esplendor e benignidade (até os nomes relacionados a essa forma de influência soam positivos). Por isso, Vuving definiu beleza como a relação que o Estado tem com ideias, valores e visões, o que tem como resultado credibilidade, legitimidade e autoridade moral. Esplendor pode ser definido como a relação entre o Estado e seus trabalhos e resultados, podendo levar ao respeito, reverência, tentativas de imitar tal país e, até mesmo, medo. Benignidade é a relação entre o Estado e outros, especificadamente, os clientes da relação de poder, baseada no “soft power”, o que pode ter como resultado simpatia e gratitude.

É importante considerar que existem outros agentes, além dos Estados, que podem se utilizar do “soft power” para influenciar outros atores não estatais e o próprio Estado. Joseph Nye, em seu livro “Soft Power: The means to success in world politics” (2009), destaca:


“Muitas organizações não governamentais agem como uma “consciência global” representando um interesse público que vai além do alcance do Estado. Elas desenvolvem novas normas diretamente através da pressão à empresários e governos, e indiretamente através da alteração da percepção pública do que o governo e empresas deveriam estar fazendo (…). Não apenas o número de contatos transnacionais, mas também o número de tipos dessas organizações tem crescido (…). Essas organizações não governamentais flexíveis e networks são particularmente eficientes em penetrar nos Estados sem respeito pelas fronteiras. (…) A revolução da informação torna os Estados mais porosos. Os governos agora têm que dividir a atenção com atores que podem usar informação para aumentar seu “soft power” e pressionar governos diretamente, ou indiretamente através da mobilização dos seus públicos” (p.90 - 91).


Aaron Swartz, um jovem empreendedor e organizador político, passou boa parte de sua vida envolvido com criação de programas de computador e ativismo digital. Ele foi um dos fundadores do grupo "Demand Progress", que se tornou mundialmente conhecido pela campanha contra o "Stop Online Piracy Act” (uma lei contra a pirataria) que membros do congresso americano desejavam aprovar. Este é um dos exemplos mais recentes de como Organizações Não Governamentais (ONGs), pequenas, mas com uma enorme capacidade de alterar a percepção de seu público alvo, especialmente através dos novos meios de comunicação, pode influenciar as políticas do governo e dos empresários. Aaron Swartz, principal ator na luta contra o "Stop Online Piracy Act”, contribuiu também para a mobilização de milhares de pessoas e, por consequência, de empresas privadas, de forma tal que a lei em questão não foi aprovada.

Em Israel, a organização B’Tselem, uma organização de direitos humanos, busca fiscalizar possíveis violações de direitos humanos e divulgar os mesmos para o público, caso sejam encontrados. Ultimamente, ela teve acesso a um vídeo no qual soldados Israelenses atiram em um terrorista Palestino, após o mesmo já ter sido imobilizado e não apresentar-se mais como uma ameaça. Tal ação viola os códigos de conduta éticos e procedimentos de combate do exército de Israel.

O vídeo, divulgado na internet e nas redes sociais, chocou alguns segmentos da sociedade israelense, o que teve como consequência uma pressão maior sobre autoridades do Estado de Israel, para investigar o ocorrido e punir o soldado, além de provocar muitos questionamentos na população e nos intelectuais, a respeito do processo de ocupação que Israel vem fazendo há décadas.

Portanto, pode-se considerar que o “soft power” é a forma de poder do século XXI. Para entender esta forma de poder e exerce-la corretamente, é essencial investimentos em educação e tecnologia, pois estes são os pilares fundamentais da revolução tecno-científica informacional.

REFERÊNCIAS

TED. Ted Talks. [https://www.ted.com/talks/joseph_nye_on_global_power_shifts?language=pt-br].

NYE JR., Joseph. "Joseph Nye: Mudança do Poder Global". Disponível em <https://www.ted.com/talks/joseph_nye_on_global_power_shifts?language=pt-br>. Acesso em: 28 de maio de 2016.

YOUTUBE. "The internet's own boy". Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RvsxnOg0bJY>. Acesso em: 28 de maio de 2016.

DEMAND PROGRESS. "Home-Demand Progress". Disponível em: <https://demandprogress.org>. Acesso: em 28 de maio de 2016.

BTSELEM. "B'Tselem". Disponível em: <http://www.btselem.org>. Acesso em: 28 de maio de 2016.

KASHER, Asar. "I Wrote the IDF Code of Ethics. Here's My Take on the Hebron Shooting". Disponível em: <http://forward.com/opinion/337841/i-wrote-the-idf-code-of-ethics-heres-my-take-on-the-hebron-shooting/>. Acesso em: 28 de maior de 2016.

CHACRA, Guga. "O que é Wahabbismo, a ideologia por trás do ISIS (Daesh) e da Al Quaeda". Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/por-que-a-arabia-saudita-esta-ligada-ao-crescimento-do-terrorismo-jihadista/>. Acesso em: 28 de maio de 2016.

NYE JR., Joseph. "Soft Power: The Means to Success in World Politics". World Wide: PublicAffairs, 2009. Pg 90-91.

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