Breve Análise Internacionalista sobre a situação da Turquia
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Recentemente a Turquia se tornou foco da mídia internacional, principalmente após o dia 15 de julho quando foi noticiada a tentativa de golpe militar enquanto o presidente do país, Recep Erdogan, estava em período de férias.
Este fato não é o fator que deu visibilidade recente ao país, mas a aumentou consideravelmente. Desde que a Turquia manifestou interesse em ser Estado-Membro da União Europeia (UE) vem passando por várias situações críticas na política e segurança interna e externa que chamam a atenção internacional.
Para compreender a tentativa de golpe militar no mês passado, precisamos relembrar que em 1960, 1971, 1980 e em 1990 governos eleitos, na Turquia, foram interrompidos pelos militares. Isto porque, tradicionalmente, os militares turcos se consideram como guardadores da constituição do país e em meio a divisões ideológicas veem-se no dever de intervir.
Essas divisões ocorrem, geralmente, entre mulçumanos e defensores do Estado laico, que se dá por parte da sociedade civil e dos partidos políticos, a exemplo da posição política de Erdogan que é conservador do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP).
A tentativa de golpe pode ser descrita como um retrocesso mediante aos avanços da democracia nos últimos anos, e avançar em democracia não significa uma hegemonização de pensamentos. Segundo Jürgen Habermas (1996) “A inclusão do outro significa que as fronteiras da comunidade estão abertas a todos (...), não é um coletivo que obriga a uniformidade”, o Estado democratizado é um espaço de aceitação da diversidade de pensamentos e posições e de diálogo junto a sociedade para que se alcance o bem comum. Assim, este acontecimento, se mostra preocupante não apenas aos turcos, mas para toda a sociedade internacional.
Ademais, apesar de serem recentes os esforços da Turquia (noticiados pela mídia) para entrar na UE ante a atual crise migratória, seu pedido de adesão para se tornar Estado-Membro é antigo, foi feito em 1987 e desde então inúmeros acordos foram estabelecidos.
Após a fracassada tentativa de golpe o governo determinou três meses de Estado de Emergência em todo o país e está repensando a introdução de pena de morte em sua constituição, despertando imediatamente duras críticas de Federica Mogherin, chefe de política externa da UE, que afirmou que caso isso ocorra, definitivamente, a Turquia não entraria no bloco.
Andrew Linklater (2007) aponta a comunidade internacional e o cosmopolitismo como dois importantes fatores para política atual. Dilemas referentes à segurança, educação, meio ambiente, política, entre outros, não são vivenciados por um único Estado. A comunidade internacional compartilha de problemáticas semelhantes e para Linklater o natural do individíduo ante os problemas que enfrentam é procurar soluções solitárias ou que abrangem apenas a sua comunidade, no entanto, a interdependência global propõe uma reflexão universalista para além das fronteiras.
Pensar em cosmopolitismo global não cabe no pessimismo proposto pelo sistema de estados e pode ser rechaçado diante dos atuais acontecimentos terroristas e da crise migratória. Apesar disto, a União Europeia resguarda valores cosmopolitas, de cooperação, democracia e igualdade, e a Turquia se encontra, por vezes, na contramão destes valores.
Em um primeiro plano, é necessário que o governo turco crie um espaço de diálogo com sua sociedade civil em meio a sua própria diversidade cultural e ideológica, refletindo e encontrando valores comuns que impulsionem soluções agradáveis a todos. A candidatura do país para ser parte do bloco europeu se constrói no decorrer deste processo de desenvolvimento interno e no apoio as políticas de ajuda externas já iniciadas na atual crise migratória.
Referências
Euro News. Disponível em: <http://pt.euronews.com/tag/turquia> Acesso em: 02 de Ago. 2016.
HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro. Edições Loyola, São Paulo, 2002.
LINKLATER, Andrew. Critical Theory and World Politics. Taylor & Francis e-Library, New York, 2007.