MERCOSUL e Liderança da Venezuela
O MERCOSUL passa, mais uma vez, por instabilidade interna, agora relacionada a rotatividade na presidência do bloco. Por definição jurídica, presente em seu tratado constitutivo, cada um dos países assume a presidência pelo período de seis meses, por meio de um chefe de Estado de seu país. O fator peculiar para a presidência pro tempore é a obediência à organização alfabética. E é aí que reside o problema de relevância internacional: chegou a vez da Venezuela. A própria via adotada pela diplomacia brasileira – ‘sem atender a fins ideológicos’ – , somada a mudança de poder na Argentina – intensificam a questão. Anteriormente, tanto Argentina como Brasil já tinham questionado a Venezuela em temas como o desrespeito à democracia e a violação aos direitos humanos. Um dos bastiões mais fortes da esquerda sul-americana está erodindo – e seus vizinhos assistem e torcem por isso, muito diferente do que ocorreu entre julho de 2013 e julho de 2014, quando Nicolás Maduro foi o presidente do Mercosul pela primeira vez, desde a entrada da Venezuela no bloco, em 2012. E isso é muito devido Este fato se deve em grande parte a uma evidente preferência dos países do bloco ao unilateralismo. Após anos de entraves e embargos de ordem econômica e fiscal, Brasil e Argentina vêm se posicionando de forma diferenciada nos últimos anos. Os portenhos estão mais que atentos a Aliança do Pacífico, e buscam, após mais de uma década longe do mercado financeiro global, seu retorno triunfal, ainda que isto lhes custe cortes de direitos e insatisfação social.
Neste sentido, o Brasil segue na mesma linha, buscando parceiros externos, e tendo, inclusive, requisitado que o MERCOSUL permita a seus membros acordos comerciais em separado, obedecendo o ritmo de cada um. Além disso, é preciso desfazer a ideologia sobre a política externa, como afirma José Serra, e essas decisões são essenciais se os fins realmente justificarem os meios. O ápice, no entanto, foi a acusação, por parte do Uruguai, de que Serra, atual chanceler brasileiro, teria tentado comprar o voto uruguaio para que o voto fosse contrário a Venezuela. Este inusitado evento, se confirmado, demonstra que vale tudo para não dar margem aos ‘bolivarianos’, mantendo-os como uma ideia que, além haver indícios de que a política externa brasileira está se corrompendo, e, embora se diga em dizer não a ideologia, faz-se pior: usa-se como trampolim político, e isso inclui também passar por cima de uma instituição política, que, embora precise urgentemente de ajustes pontuais se quiser realmente ser relevante, possui um estatuto que merece ser respeitado. Seis meses, que parecem tão pouco, mas que geram um mal-estar de anos.
REFERÊNCIAS
Venezuela Rejeita Ameaça Paraguaia de Congelar Relações Diplomáticas. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/08/venezuela-rejeita-ameaca-paraguaia-de-congelar-relacoes-diplomaticas.html. Acesso em 20 de agosto de 2016.
Especialista: Polêmica no Mercosul é mais uma trapalhada do Governo. Disponível em: http://br.sputniknews.com/brasil/20160819/6088266/mercosul-socios-presidencia-exclusao-integracao-politica-economia-diplomacia.html Acesso em 20 de agosto de 2016.
Venezuela y Mercosur. Disponível em: http://www.lanacion.com.py/2016/07/07/venezuela-y-el-mercosur/ Acesso em 20 de agosto de 2016.
Uruguay y Brasil chocan por liderazgo de Mercosur. Disponível em: http://eleconomista.com.mx/internacional/2016/08/17/uruguay-brasil-chocan-liderazgo-mercosur. Acesso em 20 de agosto de 2016.
Uruguai entregó la presidencia del Mercosur y pide que asuma Venezuela. Disponível em: http://www.elobservador.com.uy/uruguay-entrego-la-presidencia-del-mercosur-y-pide-que-asuma-venezuela-n948646 Acesso em 20 de agosto de 2016.
La crisis del Mercosur crea desavenencias entre Brasil y Uruguay. Disponível em: http://internacional.elpais.com/internacional/2016/08/17/actualidad/1471470167_579511.html. Acesso em 20 de agosto de 2016.
El Mercosur debate la presidencia de turno de Venezuela en un clima de tensión. Disponível em: http://internacional.elpais.com/internacional/2016/07/11/argentina/1468265170_194896.html . Acesso em 20 de agosto de 2016.