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Burkini: Questões Políticas e Culturais



Após os acontecidos na França, onde, em mais de 30 locais, o uso de um traje de banho criado para mulheres mulçumanas é considerado uma “perturbação a ordem pública” , pelo fato, de como propõe o primeiro ministro francês Manuel Valls, “não ser compatível com os valores da França e da República”, a controvérsia sobre o uso do burkini tomou proporções globais.

Ao longo dos anos, a França tem tido dificuldade quanto à integração da população muçulmana na sociedade, a qual consiste em 10% da população que hoje reside no país. Adotadas pelo Estado francês como medidas de libertação e prevenção, de forma contrária, o banimento do uso do burkini têm alimentado a criminalização de pessoas adeptas da religião islâmica, especialmente mulheres. O policiamento extremo sobre vestimentas dessas mulheres tornou-se aceitável como uma medida anti-extremismo, e, além disso, elas têm sido retratadas como vítimas de suas próprias crenças.

De origem australiana, “o burkini foi criado com a intenção de prover maior liberdade para as mulheres mulçumanas, e não tira-la”, como diz sua criadora, a libanesa Aheda Zanetti. Contrapondo o motivo primordial de sua criação, o discurso que as autoridades francesas vêm defendendo é que o burkini é uma “consequência da escravização de mulheres”. Basicamente, o que têm ocorrido é um choque cultural entre o liberté, équalité, fraternité francês contra a religião e cultura islâmica, onde o fato de uma mulher cobrir suas pernas, braços e cabelos, pode ser apenas uma escolha baseada na verdade dela.

Analisando o fato de acordo com a teoria relativista de Relações Internacionais, a qual defende que cada sociedade possui seu próprio conceito de dignidade e direitos fundamentais, e esses conceitos não podem ser julgados de acordo com o certo ou errado a partir da experiência de vida de outra pessoa, pode-se compreender claramente a existência de diferentes formas de perspectivas influenciadas por diversos fatores externos, como o contexto cultural, familiar e até mesmo geográfico.

No município de Villeneuve-Lobet, a proibição do uso do burkini já fora anulada e a decisão do Conselho de Estado francês tende a se propagar pelas demais regiões. É inegável que conflitos de cunho político-cultural pareçam estar em ascensão, entretanto, tais conflitos sempre existiram. A diferença é que hoje vivemos em um mundo globalizado e dinâmico, onde mais pessoas possuem a capacidade crítica de se posicionar.

O objetivo de um diálogo intercultural é alcançar um catálogo de valores que tenha a concordância de todos os participantes. A preocupação não deve ser descobrir valores, eis que os mesmos não têm fundamento objetivo, mas sim buscar um consenso em torno deles (BHIKHU, 1999). Logo, é compreensível, de certa forma, a ideologia do Estado francês, não somente a forma que se têm sido aplicada tal ideologia sobre seres humanos por eles somente possuírem um saber diferente.



REFERÊNCIAS


ABU-LUGHOD, Lila. As mulheres muçulmanas precisam realmente de salvação?: reflexões antropológicas sobre o relativismo cultural e seus outros. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 451-470, Ago. 2012.

LUCENA, Marina Barrêto Nóbrega de. O anti anti-relativismo como perspectiva de direitos humanos para as mulheres. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=bea274dd9c29a248. Acessado em: 25 de agosto de 2016.

ZANETTI, Aheda. I created the burkini to give the women freedom, not to take it away. Disponível em: https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/aug/24/i-created-the-burkini-to-give-women-freedom-not-to-take-it-away. Acessado em 25 de agosto de 2016.

MANZOOR-KHAN, Suhaiymah. Dear white people of France: being forced to undress wasn't exactly the liberation I was longing for. Disponível em: http://www.independent.co.uk/voices/burkini-ban-muslim-women-france-nice-beach-forced-undress-liberation-burkha-islam-dear-white-people-a7207811.html. Acessado em: 26 de agosto de 2016.

SHEFTALOVICH, Zoya. Australia’s lesson in burkini politics. Disponível em: http://www.politico.eu/article/australias-lesson-in-burkini-politics-muslim-immigrants-cronulla-beach-riots-france-solution/. Acessado em: 26 de agosto de 2016.

VILLORO, Luis. Sobre relativismo cultural y universalismo ético. Disponível em: http://www.cervantesvirtual.com/nd/ark:/59851/bmc0z7g6. Acessado em: 28 de agosto de 2016.

BHIKHU, Parekh. Non-ethnocentric universalism, In: Tim-Dunne e Nicholas J. Wheeler, Human Rights in Global Politics, Cambridge, Cambridge University Press, 1999, p.139-140.


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