O Futuro do Projeto da União Europeia Pós-BREXIT
A saída do Reino Unido da União Europeia, ainda que sem previsão de quando será efetivada, constitui num duro golpe ao projeto de integração do continente europeu que vem sido pensado e, até certos níveis, executado pelo bloco europeu. O Reino Unido era, afinal, um dos mais poderosos e influentes membros da União Europeia, embora tenha se posicionado de maneira bastante cética quanto a muitos avanços no projeto de integração.
Muito se cogitou sobre o que pode vir a acontecer com a (UE) caso a campanha favorável ao BREXIT obtivesse a maioria dos votos no referendo realizado em junho deste ano. As pessoas rapidamente se posiciona de forma pessimista quanto ao futuro da (UE) a partir da saída de um de seus mais importantes membros, afirmando que o bloco provavelmente se desintegraria a partir da efetivação dessa saída.
De acordo com análise de Nogueira e Messari (2008), para Kratochwil (1989), não poderia se falar em verdades fixas, mas sim em uma realidade onde a estrutura do sistema internacional é construída de acordo com a ação dos agentes, e onde esta realidade simultaneamente influencia os próprios agentes. Dessa forma, o futuro da (UE) é um cenário que vai se desenvolver de acordo com as decisões tomadas pelo bloco europeu no decorrer do processo de negociações com o Reino Unido, assim como após a finalização do mesmo.
Em um possível cenário, para fortalecer-se após a consumação do BREXIT, a (UE) promove mudanças em seu funcionamento, buscando realizar reformas em pontos críticos do seu projeto, em que a (UE) representa para evitar o crescimento do sentimento de ceticismo para com o bloco.
Nesse cenário, o bloco estaria focado em tornar suas instituições comunitárias mais democráticas. Antes mesmo da realização do referendo britânico, muitos especialistas já criticavam a forma pouco democrática de tomada de decisões adotada pelas instituições que compõem a (UE), o que foi inclusive exposto em documentários investigativos como “Euromania”, de 2014.
Essas críticas, que trouxeram a tona um lado “antidemocrático” e “burocrático” da (UE), são frequentemente usados como argumento por grupos eurocéticos. Uma maior democratização poderia ser posta em prática pensando em reverter essa imagem. Além disso, a (UE) ainda poderia promover reformas no sistema de imigração e no setor de segurança. Tais reformas também seriam promovidas como tentativa de renovar a confiança dos países membros e dos cidadãos europeus neste projeto, essencial para fortalecer o bloco durante e depois do fim do processo de saída do Reino Unido.
No decorrer desse longo processo, as ações dos outros países membros, em especial da França, da Alemanha e da Itália, influenciarão diretamente no tipo de relação que o bloco europeu buscará ter com o Reino Unido após a consumação do BREXIT. Simultaneamente, a relação que ficar estabelecida entre o bloco europeu e o Reino Unido vai refletir na relação dos países membros com os britânicos.
Em um cenário onde os países da (UE) tivessem uma relação de concorrência acirrada com o Reino Unido (em detrimento de uma relação de parceria), um aprofundamento no processo de integração entre os países membros poderia ser adotado como forma de fortalecimento do bloco. Isso foi reforçado pelo posicionamento dos líderes de Itália, França e Alemanha ainda naquela semana, que reafirmaram o interesse de estreitar laços entre os países membros da União Europeia, com o objetivo de reforçar o projeto europeu para que este possa resistir aos desafios que poderão vir a partir da invocação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa, quando o Reino Unido der início ao processo de saída do bloco.
Embora existam diversos possíveis cenários acerca da (UE) após a consumação do BREXIT, de acordo com as premissas construtivistas, o comprometimento por parte das lideranças dos países membros restantes e a forma como tais agentes se comportarão no decorrer dos próximos anos serão fatores determinantes para o futuro da (UE), bem como da própria relação que o bloco virá a estabelecer com o Reino Unido a partir do BREXIT.
Embora existam dúvidas quanto à credibilidade do projeto de integração europeu, bem como críticas ferrenhas que antecedem o referendo britânico, também existe otimismo por parte de lideranças europeias que um cenário onde a União Europeia possa ser reformada e fortalecida para resistir a esse período de negociações e incertezas seja possível.
REFERÊNCIAS
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FREUDENSTEIN, Roland; DREA, D. Eoin; AGGELOU, Aggelos. Brexit in Focus: Six ways it will fundamentally change the EU. Bruxelas: Wilfried Martens Centre for European Studies, 2015.
NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais: Correntes e Debates. 2 ed. São Paulo: editora Campus, 2008.
WISHART, Ian; CAMPBELL, Matthew. What Now? Brexit Win Sets Stage for Two Years of Bitter Talks. Bloomberg, Nova York, 24 de jun. 2016. Disponível em: <https://www.bloomberg.com/news/articles/2016-06-24/what-now-brexit-win-sets-stage-for-two-years-of-bitter-talks>. Acesso em: junho de 2016.
‘Big Three' leaders insist EU not finished after Brexit. The Local, Roma, 22 de ago. 2016. Disponível em: < http://www.thelocal.it/20160822/italian-pm-says-eu-not-finished-after-brexit>. Acesso em: agosto de 2016.
O Brexit pode marcar o princípio do fim para a União Europeia?. BBC News, Londres, 26 de jun. 2016. Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36633977>. Acesso em: agosto de 2016.
Euromania: the EU uncovering documentary. Disponível em: <www.euromaniafilm.com>. Acesso em: agosto de 2016.