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A Independência do Brasil: perspectiva crítica à luz do paradigma globalista


A visão de um internacionalista sobre a independência do Brasil deve apoiar-se em uma análise crítica que ultrapasse a caracterização popular do dia 7 de setembro. Desta maneira, torna-se primordial a compreensão do longo processo de constituição do Estado-Nação que conhecemos hoje sob o viés do paradigma globalista de Relações Internacionais.

De acordo com Sarfati (2005), o paradigma globalista é composto por um conjunto de teorias e teóricos que apresentam uma visão similar das Relações Internacionais. Este autor afirma que o globalismo pode ser sintetizado por uma série de princípios, no entanto, cabe destacar os mais importantes para o tema abordado: compreender os elementos históricos de formação do contexto internacional contemporâneo, enfatizar os mecanismos de dominação entre classes ou elites além do papel essencial da economia para o processo de construção política do Estado.

Neste contexto, faz-se necessário elucidar os momentos históricos de emancipação presenciados pela antiga colônia. Em 1808, a chegada da corte portuguesa ao Brasil e o decreto de D. João para a abertura dos portos brasileiros às nações amigas acarretaram no término da dominação econômica pela metrópole. Consequentemente, a Grã-Bretanha assumiu o papel de principal parceiro comercial em face da desvinculação entre Brasil e Portugal. Já em 1815, o país conquistou autonomia política, quando foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, aliado à transformação do Rio de Janeiro em centro político do império luso-brasileiro. Além disso, o aumento das desavenças entre as Cortes de Lisboa e as elites brasileiras sinalizaria o turbulento ano de 1822.

A declaração da independência pelo príncipe herdeiro D. Pedro I, em 1822, vinculou-se principalmente às pressões das elites brasileiras interessadas na manutenção das vantagens comerciais oriundas da ampliação das relações externas. Aliás, o suporte dos gastos do Estado foi extensamente financiado pela elite. Grande exemplo disso está relacionado à criação do Banco do Brasil, em 1808, como outra ferramenta de interiorização metropolitana.

Já a questão da dominação de classes abordada por Karl Marx, principal filósofo influenciador do globalismo, está retratada na acentuada desigualdade econômica do recém-criado Estado brasileiro. Baseado nisso, os autores Fragoso (1998) e Florentino (1997) explanam as raízes dessa histórica concentração de renda perpetuada no país, responsabilizando os comerciantes fluminenses pela acumulação primitiva do capital. No momento em que a elite assumiu as rédeas da independência houve a manutenção da economia escravocrata ligada a forte repressão da população, que teve seus direitos sociais e políticos renegados por anos.

Naquele momento, amplas concessões e gastos econômicos foram inferidos pelo país no caminho para o reconhecimento externo de sua independência. Segundo Ricupero (2004), o reconhecimento português gerou a assinatura dos chamados “tratados desiguais”, no ano de 1810, oferecendo vantagens alfandegárias aos produtos importados da Inglaterra. Além disso, exigiu-se o pagamento de uma indenização de duas mil libras esterlinas a Portugal e uma série de outras concessões por parte do império brasileiro.

Contudo, a trilha desse panorama, analisada, traz a percepção de que a independência não significou uma ruptura, mas a extensão do domínio dinástico e elitista. Pressupondo-se que o conjunto de fatores históricos que originaram a autonomia brasileira foi fruto do jogo de poder das elites, na busca pela sustentação de seus interesses econômicos. Afinal, infere-se que a inserção do país no cenário internacional teve um caráter de dependência econômica e vinculação às potências europeias.


Referências


DORATIOTO, Francisco; VIDIGAL, Carlos Eduardo. História das relações internacionais do Brasil. 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p.8-19.


ALMEIDA, João Daniel de. Manual do Candidato: História do Brasil. Brasília: FUNAG,2013. p.65-115.


SARFATI, Gilberto. Teoria de Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005. p.37-44.

WESSELS, David. International Relations 2: notes. 2009. Disponível em: <http://pweb.cc.sophia.ac.jp/wessels/irnotes22009edecomplete.pdf>. Acesso em 2 set.2016.

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