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Guinada da Direita na Europa


Há algum tempo a Europa tem mostrado indícios de um redirecionamento que coloca em discussão sua identificação como um grupo de países que visa a cooperação e integração em diferentes âmbitos.


Diante do bloco considerado um exemplo de unificação, vale a ressalva, que outrora, seus membros eram altamente fragmentados. Tal assunto caberia uma análise densa sobre a soberania de núcleos de gestores, antecessores aos Estados e que vão de uma soberania fragmentada para uma soberania interdependente.


Para tal compreensão, recomendo a obra Coerção, Capital e Estados Europeus de Charles Tilly (1996), na qual o autor, a partir de uma construção cronológica, faz o recorte dos instrumentos de poder das organizações que existiam antes do que entendemos na contemporaneidade, por Estado, mas, este não é o objetivo deste artigo.


Os debates históricos em relação a soberania dos Estados europeus, são marcados por fortes crises econômicas, característica da própria manutenção do capitalismo. Porém, tal situação de flexão e inflexão da economia tem provocado desgastes para além das questões financeiras e interferindo em demandas sociais e políticas. Além disso, tem-se o viés econômico, no qual há preocupação com a crise de refugiados e a crise de segurança, dentre outras variáveis que têm fomentado o questionamento da Europa em relação ao posicionamento político de direita.


Neste sentido, diferentes situações têm desenhado uma nova paisagem política na Europa. O Brexit, que representa a saída da Inglaterra da União Europeia (UE), é carregado pela onda do “euroceticismo” que tomou proporções maiores com a crise migratória e também e com as sequelas da crise do euro. Isto é interpretado como uma rejeição dos europeus à centralização de poderes na UE. Esta questão desfaz algumas das intenções primordiais da comunidade como, por exemplo, a formação do forte “Estado da UE”. Tal discurso é apoiado por preferências políticas tradicionais de muitos países europeus e, em relação aos britânicos, mais conservadores, o discurso se dá no “resgate da antiga glória” britânica.


Outra questão em nível macro e histórico é a descrença nas políticas do welfare state (Estado do Bem Estar Social),que visava não somente a correção estrutural social, mas também, uma reorganização das relações sociais mediada por fortes intervenções estatais na década de 1970 esta tentativa de organização perdeforça, pois passou-se a criticar os padrões morais de comportamento, o que instigava a disputa entre as políticas econômicas e as políticas sociais, já que a primeira passou a reger a segunda e valores passaram a ganhar destaques nas agendas dos países europeus.


Contudo, o welfare state deu consistência a sua própria armadilha em relação aos debates sobre capitalismo: o trabalho e o capital. O moralismo do trabalho, o empreendedorismo de si versus a domesticação do individuo foram promovidos pelo estado de bem estar. E, neste campo de disputa, acaba ocorrendo uma certa inflexão da esquerda política para contrapor os discursos neoliberais apoiados pela direita.


As abordagens acima, uma bastante pontual e outra em âmbito mais reflexivo, são apenas algumas das facetas que explicam o movimento da direita na Europa. Muitos outros podem, e devem ser abordados com mais profundidade – como por exemplo, um estudo que faça referência ao Partido do Povo Europeu (PPE), coalizão de centro direita, que tem garantido o maior número de cadeiras no Parlamento Europeu como 212 cadeiras contra as 186 cadeiras dos Socialistas e Democratas (S&D).


Contudo, é importante verificar com cautela tal fenômeno, levando em consideração que a trajetória destes dois movimentos, no contexto democrático, é de alternâncias que estão intrinsicamente ligadas, não apenas a questões nacionais, mas também, internacionais. Isto nos abre mais caminhos de pesquisa como, por exemplo, verificar a influência desta turbulência europeia com os acontecimentos políticos no Brasil.


REFERÊNCIAS


TILLY, Charles. Coerção, capital e Estados Europeus (990 – 1992). São Paulo: Edusp, 2000.


CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais / Thales Castro. – Brasília: FUNAG, 2012.


BIZZOTTO, Márcia. 'Brexit' reflete guinada a extremos e deve forçar reforma da UE para conter debandada. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36625629. Acessado em: 15 de out de 2016.


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