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Precisamos Falar Sobre o Iêmen


A fim de analisar a situação caótica que o Iêmen está vivenciando, propõe-se o uso da Teoria Critica Internacional do internacionalista Andrew Linklater, que levanta questionamentos sobre a fragilidade e força do Estado moderno, e sobre o protagonismo necessário da sociedade civil, como superação de um histórico sistema de inclusão e exclusão.

Os conflitos no Iêmen tiveram inicio ainda em 2011, na chamada Primavera Árabe, durando até os dias atuais. No entanto, há falta de visibilidade internacional sobre as reverberações desses conflitos em relação à sociedade civil. É importante ressaltar que a natureza dos conflitos no Iêmen é sócio-política. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), entre março de 2015 e 30 de setembro deste ano, o conflito no país fez 10.963 vítimas, incluindo 4.014 mortos.

O exercito do governo iemenita formou uma coalisão militar com a Arábia Saudita, que defende seus interesses de liderança geopolítica no Oriente, contra os houthis, que são um grupo político armado ligado aos xiitas, e é financiado pelo Irã. Além disto, ainda há o conflito com células terroristas, como a Al-Quaeda. No dia 19 de Outubro, as partes envolvidas no conflito aceitaram o pedido da ONU sobre cessar-fogo por 72 horas, para que fosse possível levar ajuda humanitária aos atingidos.

Segundo o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), cerca de 12 milhões de pessoas (mais da metade da população) precisam de assistência. Em setembro de 2016 foram mortos e feridos 379 civis.

Segundo Andrew Linklater (1998), o Estado moderno tem capacidade para pacificar, monitorar e regular a sociedade com a ascensão do capitalismo. Apesar da grande extensão do poder, os Estados – constituídos por soberania, territorialidade, cidadania e nacionalidade – têm sido incapazes de impedir que ideologias contrárias às suas características inerentes sejam difundidas através de fronteiras ou blocos nacionais.

É comum no Oriente a articulação de grupos sociais e políticos que se rebelam contra o Estado, principalmente pela maioria dos governos serem ditatoriais. O protagonismo destes grupos vai além de células terroristas – como a Al Quaeda – são minorias que são privadas de seus direitos e que são obrigadas a se submeterem à vontade estatal. Os conflitos são estimulados por essas divisões, que surgem principalmente, por causa da defesa do Estado de seus interesses econômicos através da dominação.

Com base em Jürgen Habermas, Linklater (1998) afirma que o direito à participação nos processos de tomada de decisão, mesmo em Estados democráticos, estão cada vez mais restritos a determinados setores das sociedades nacionais, que estão à mercê de operações sistêmicas. Nesse cenário, analisa-se a baixa prioridade dos direitos humanitários em meio às disputas políticas no Iêmen. A sociedade civil é a mais atingida pelos conflitos militares na região, que não tem meios para se proteger e não participa dos processos decisórios sobre ter ou não uma guerra armada na região.

Linklater (1998) descreve processos como o que vem ocorrendo no Iêmen como um sistema de inclusão e exclusão. Este sistema pode ser superado pela análise social e política que parte do pressuposto de que é possível melhorar as explicações e entendimentos do mundo social que há no nível da existência cotidiana. Isto é, apesar de que sempre haverá espaços não inclusivos, para que haja a reconstrução de sociedades participativas, é necessário traçar um entendimento sobre a historicidade do sistema de exclusão.

Apesar da ONU estar atrelada à vontade dos Estados, os órgãos responsáveis por Direitos Humanos são fundamentais para que os iemenitas recebam apoio humanitário emergencial. Porém, esta ação externa não isenta o governo local da responsabilidade da preservação de sua população, embora torne evidente a incapacidade estatal de administrar seus conflitos de forma pacífica e de prover os direitos inerentes aos seus.

Os esforços para que os conflitos militares no Iêmen cheguem ao fim deveriam passar, obrigatoriamente, por um olhar de compaixão à sociedade civil que sofre com a violação de seus direitos, às milhares de crianças que não podem frequentar escolas, àqueles que não encontram nem mesmo em hospitais um lugar seguro para cuidar seus ferimentos, aos que não podem enterrar seus entes. Um olhar de compaixão para os que serão portadores de traumas ou de superação para a próxima geração, por isso, precisamos falar sobre o Iêmen.


Referências


LINKLATER, Andrew. The Transformation of Political Community. Blackwell Publishers Ltd: Cambrigde, UK, 1998.


The Guardian. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/yemen> Acesso em: 26 de Out. 2016.


ONU Brasil. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/?post_type=post&s=I%C3%AAmen> Acesso em: 26 de Out. 2016.

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