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O Novo Presidente dos Estados Unidos: Donald Trump




O dia 9 de novembro chocou o mundo com algo que parecia, até então, improvável, uma chacota de péssimo gosto: Trump elegeu-se presidente. Afinal de contas, há alguns meses, em especial quando áudios seus com conteúdo misógino e machista vieram à tona, muitos analistas sacramentaram a vitória de sua rival, a ex-secretária de Estado, ex-senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton, com o suporte de várias pesquisas dos mais diversos centros e metodologias diferentes.

O FBI resolveu retomar as investigações sobre os e-mails de Hillary, que eram administrados e foram criados por um servidor particular, contrariando a lei americana que obriga funcionários a usar o servidor federal, com a finalidade de evitar vazamento de informações importantes e nem sofrer ataques cibernéticos. Após ter divulgado mais de 30.000 e-mails das contas geridas e criadas por esse servidor privado, Hillary esperava ter solucionado o caso, muito embora outros milhares de e-mails tivessem sido sumariamente deletados. E é aí que entra o trabalho de agências como o Wikileaks. Foi a organização liderada pelo australiano Assange, a responsável por desnudar os sórdidos detalhes da venda de armas para países que apoiam e financiam o ISIS, como Qatar e Arábia Saudita, além das irresponsáveis decisões tomadas durante a missão na Líbia, sobretudo em Benghazi, que resultaram na morte de soldados americanos.

Além disso, também se tornou público o esquema vil que vigorava na Fundação Clinton, criada em 2001, principalmente nos casos do Haiti e dos financiamentos. Qatar e Arábia Saudita, mais uma vez, colocavam seu dinheiro em uma fundação que, dentre outras bandeiras, objetiva o fortalecimento da democracia.

Mas Hillary ainda tinha algo a mais, levou mulheres que sofreram assédio de Trump para o palanque, foi respaldada por uma leva de artistas e famosos em geral, numa lista que vai de Lady Gaga, Stevie Wonder ao astro da NBA Lebron James. Todavia, seu nome contava com o respaldo do mercado, que chegou a cravar categoricamente a vitória de Hillary, na estimativa dos mercados de ações.

Donald Trump não titubeou, e deu o seu troco. Também ele conseguiu mulheres que afirmavam ter sofrido assédio do marido de Hillary, o ex-presidente Bill Clinton. E a fábrica midiática de Trump não parava de produzir novos vídeos, de nível muito baixo, no qual Hillary Clinton, como o magnata punha em seus discursos, era execrada e escarniada.

Trump ganhou na Flórida, estado que é sinônimo de imigração, Michigan, Wisconsin, Ohio e Pensilvânia (onde teve uma virada improvável). Nem a vitória no estado da Califórnia, cujo colégio eleitoral tem 55 delegados, deu ânimo para Hillary.

O candidato que prometeu construir um muro na fronteira com o México – e pago pelos mexicanos -, deportar mais de 11 milhões de imigrantes, banir temporariamente a entrada de muçulmanos no país, rasgar tratados internacionais, deixar de negociar com a China, intensificar ações militares e chamou os imigrantes mexicanos de estupradores e ladrões realmente chegou ao salão oval da Casa Branca.

E os russos, que foram acusados por Hillary Clinton de querer influenciar e tumultuar as eleições estadunidenses, muito provavelmente, são os que mais comemoram a eleição de Trump. Se antes a mídia russa vivia em clima de declarações de amor pelo magnata republicano, agora o casamento está oficializado.

E isso implica num novo capítulo para a ordem mundial, para a geopolítica do Oriente Médio, e para a Europa, justamente onde movimentos extremos estão proliferando e no momento em que o Reino Unido expressou sua vontade de sair da União Europeia.

É uma inflexão dos EUA, uma repaginação antes difícil de ser imaginada, haja vista que os americanos dão sinais de que irão optar pelo bilateralismo, isolando-se, afastando-se da ideia de um país plural e multiétnico. Essa, inclusive, é uma característica desse nacionalismo mundial fajuto, que está na França (Marine Le Pen e a FN são casos a serem considerados na eleição francesa), na Alemanha, Itália, Holanda e outros países europeus.

E os EUA, terra do livre comércio, do mercado, do capitalismo a mil por hora, abraça o intervencionismo, o protecionismo. E isso, que fique bem claro, com um dito bilionário (o mesmo que não declara imposto de renda e teve prejuízos de quase US$ 1bi nos anos 1990). A cereja do bolo, contudo, é outra: o partido Republicano, outrora de Reagan, Ford, Nixon e Eisenhower, que levantava rigidamente a bandeira do livre mercado, do liberalismo, é hoje o partido que levou um homem que quer que as empresas americanas deem empregos primeiramente a americanos em todos os setores, e quer rever a política fiscal de empresas estrangeiras que se instalam nos EUA.

A eleição de Trump passa por um pente fino da Teoria da Estabilidade Hegemônica. Ora, para que seja assegurado a imagem e o status de hegemonia, ainda que local, Robert Gilpin preconiza que é preciso ter uma moeda, instituições e leis fortes – e algum país que as possa prover. Visto sob a ótica realista econômica, até agora, no calor da eleição de Trump, é uma tarefa complicada manter a moeda forte, ainda que em relação a outros países.

A moeda dos EUA, se a guinada protecionista se confirmar, será a responsável por casos negativos, e alguns indícios já podem ser comprovados agora. O índice Nikkei, do Japão, caiu mais de 800 pontos. A bolsa de Hong Kong, 2,5%. Já as bolsas europeias iniciaram seus trabalhos com uma baixa de 4%. E essa questão econômica, que muitas vezes faz os analistas de Relações Internacionais colocarem Gilpin com um pé no liberalismo, é essencial, haja vista que a hegemonia, para o autor, também se faz com empresas multinacionais fortes em várias regiões do globo, ainda mais para um país cujo PNB é maior que o PIB.

E as instituições americanas sofrem, também. Trump chegou a afirmar que não aceitaria um resultado das eleições caso não fosse o vencedor. E essa declaração pesou, muito por conta do histórico legalista dos EUA. As eleições na segunda terça-feira de novembro datam do ano de 1845. Inclusive o próprio sistema eleitoral americano, complexo e ímpar, também é dessa época rural dos Estados Unidos. Ambas as análises vêm à tona num momento em que muitos especialistas afirmam que o FBI virou a polícia política dos EUA.

E, no que diz respeito ao realismo mais de raiz na doutrina gilpiniana, a força bélica dos EUA, ao que tudo indica com Trump, será fortalecida, uma vez que o presidente republicano deu declarações de que não descarta o uso de armas nucleares e quer modernizar o poder-força americano, chegando inclusive a criticar a OTAN, devido ao fato de que muitos países não investem o suficiente em segurança e dependem demasiadamente dos EUA para tal.

Por fim, o mundo dá seu primeiro passo ao incerto. Com um senado e uma câmara majoritariamente republicanas – um dos problemas de Obama (cuja alta popularidade não se refletiu em votos para Hillary) – pode-se esperar, até internamente, uma cisão no partido, uma vez que muitos republicanos não apoiaram Trump, e até escolher um vice-presidente foi complicado.

E como Pence, o vice, é danoso! A ideia do magnata, outsider, bon-vivant na presidência dos EUA não é nova, vem desde o século XIX, e era uma característica dos democratas. Resta torcer, enfim, que Trump tenha, ainda que muito dificilmente, um lapso de lucidez, e reveja urgentemente alguns pontos de sua campanha, porque o país está polarizado e o mundo está observando com preocupação o que acontece nos EUA.


Referências

CASTRO, Thales. Teoria das relações internacionais. FUNAG: Brasília, 2012.

GILPIN, Robert. A Economia Política das Relações Internacionais. UNB: Brasília, 2002.

Notícias G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2016/noticia/2016/11/donald-trump-vence-hillary-clinton-e-e-eleito-presidente-dos-eua.html> Acesso em 09 de Nov. 2016.

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