Resenha: O Quarto de Jack

Data de lançamento: 18 de fevereiro de 2016

Direção: Lenny Abrahamson

Elenco: Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen

Gêneros: Drama, Suspense

Nacionalidades: Canadá, Irlanda

O Quarto de Jack é um filme cuja carga emocional é o fio condutor entre os atores, roteiro, fotografia e o telespectador. Baseado no livro de Emma Donoghue, o filme traz a história de Jack, um garoto criado pela sua mãe, Ma, e que, com cinco anos, passa pela fase de querer perguntar sobre tudo e todos. De modo artificial, Ma tenta mascarar a dura e sombria realidade de viver em um cativeiro com Jack. Então, com o aumento da curiosidade de Jack, ela chega a um ponto de ruptura. Diferentemente de seu filho, que tem seu mundo nos contornos das quatro paredes do quarto, Ma foi sequestrada aos 16 anos, e sofre abusos psicológicos e sexuais com frequência. O filme, inclusive, mostra momentos em que a personagem parece estar alheia a toda a realidade, como se estivesse anestesiada, mas é, na verdade, resultado de abusos constantes.

A presença de Old Nick, o sequestrador, é também muito simbólica. Nas cenas em que o personagem aparece, o clima todo fica tenso, evidente nas expressões faciais e corporais de Ma. E esse é um dos grandes trunfos do filme: conseguir criar angústia e apreensão em um espaço reduzido. Com isto, mãe e filho passam juntos, a pensar em um plano de fuga. A essa altura, é impossível não criar empatia pelos dois, uma vez que somos confrontados por uma mulher que abre mão do pouco que tinha para que seu filho se conforme apenas com o pequeno quarto. Ma quer então “quebrar as correntes” para que seu filho conheça o mundo não mais pelas suas lembranças. Parecendo muito com a Alegoria da Caverna de Platão – no qual retratava a vida de três prisioneiros que viviam acorrentados em uma caverna e tinham a percepção do mundo através de imagens projetadas por objetos, pessoas e animas – o filme de forma muito inteligente e delicado mostra a realidade de Ma e seu filho.

De volta a vida com sua família, Ma, que, na verdade, chama-se Joy Newsome, tem seu papel invertido. No cativeiro, era ela quem cuidava de seu filho, e fazia de tudo para que o garoto se mantivesse feliz, ainda que a liberdade inexistisse. Agora, contudo, é ela quem é confortada pelo seu filho. Como se os abusos de Old Nick não fossem o suficiente, o avô de Jack se recusa a aceitar a criança, pois a mesma é fruto dos anos de abuso, e não quer relacionar-se com ele, tornando difícil para Joy se inserir naquela nova realidade e também, livrar-se do estigma de Ma.

O brilhante papel de Jacob Trembley dá a sutileza e suavidade que a trama precisa. Por ser uma criança, somos arrebatados pelo seu carisma e carinho, e, junto com Brie Larson, formam uma dupla que se complementa e dialoga maravilhosamente bem em todos os momentos do filme. Não à toa, os dois ganharam muitos prêmios por sua atuação no filme. Brie Larson foi premiada com o Oscar e Globo de Ouro como melhor atriz e Jacob Trembley levou o prêmio Genie de Melhor Ator e o Critic’s Choice Award.

Conectando-o à realidade, que é o grande trunfo da arte, o filme nos proporciona profundas reflexões na ocasião do Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, instituído pelas Nações Unidas, em 1999. No dia 25 de Novembro, tem-se a oportunidade de alertar a sociedade para os crimes cometidos contra as mulheres, e inteirar-se sobre a situação atual de políticas públicas e a inserção da sociedade para coibir esse tipo de violência. Além disso, o filme é uma oportunidade em refletir e entender a realidade de muitas mulheres que sofreram e sofrem com os abusos retratados na obra do diretos Lenny Abrahamson.

O Quarto de Jack sem dúvida é um filme extraordinário que de maneira muito feliz soube retratar um tema tão delicado. Ma ou Joy, é a representação da realidade de muitas mulheres que sofrem com abusos, desrespeito e tortura psicológica sem os limites de paredes que confinaram Jack e sua mãe.