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Resenha: 1933 Foi um ano Ruim

Título: 1933 Foi um ano Ruim

Autor: John Fante

Editora: L&PM EDITORES

Romance: 144 páginas.


Uma das grandes emoções de um bom romance é alocar os seus acontecimentos em nossa realidade, ainda que com distorções e ajustes essenciais. Ainda mais emocionante é saber que muito do que se lê é fruto de uma imaginação, em um plano idealístico, que acaba contagiando nossas vidas. E tudo isso é possibilitado por uma das maiores tecnologias atemporais, a letra preta no papel branco. Essa projeção emocional toda é diluída nas páginas de “1933 foi um ano ruim”, de John Fante, autor americano falecido em 1983.

Publicado em 1985 no livro, o jovem Dominic Molise, de 17 anos, vê-se preso em uma realidade triste, mas que é apenas fruto de sua imaginação.

Rodeado por um ambiente nada saudável – um pai infiel e que lhe pede confidência, uma avó ranzinza e amargurada, além de uma mãe depressiva e confusa consigo mesma, o garoto sonha em ser um grande jogador de baseball, exatamente quando a liga nacional americana estava em voga. Em um país devastado pela crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque, ter uma perspectiva de vida, por si só, era um luxo que poucos se davam de ter.

Seu estilo de vida simples e humilde é contrastado com a vida opulente de Kenny, um dos garotos mais ricos da cidade, e cuja casa é visitada por Dominic. Em um dos inúmeros encontros dos garotos, a irmã de Kenny, Dorothy, logo desperta a atenção do jovem Dominic.

Os gestos finos e o comportamento delicado de Dorothy são a personificação do muro social que se cria entre ele e os ‘outros’. Enquanto os ‘outros’ podem passar as tardes à beira de lareiras, com uma mesa farta e em conforto, Dominic precisa apenas contentar-se com a aprendizagem do ofício de pedreiro, o fundamentalismo religioso de sua mãe e o saudosismo conservador de sua avó – além da difícil relação com os irmãos.

Ao longo do livro, percebe-se que há uma grande gama de documentação histórica, vivida por John Fante, sobre o ‘American Way of Life’, compondo um retrato da sociedade estadunidense pós 1929.

Este modo de vida esgotou-se, mas, antes de acabar, foi propagado como um evangelho da prosperidade. Os efeitos foram devastadores na geração que cresceu sob o signo da crise de 29 – na qual Fante está incluído, além de marcar a história de todo um país e do mundo. E o insight mais genioso de Fante é justamente relacionado a isso: como algo que, à primeira vista, parece estar tão distante da nossa realidade, acaba moldando-a.

Em meio a tantos dilemas pessoais, vamos ganhando afeição por Dominic, familiarizando-nos com sua família e com seu affair contrastando o pensamento nas disparidades da vida, na realidade difícil e, sobretudo, a esperança de dias melhores.

Embora 1933 tenha sido um ano ruim, com certeza o ano foi bom para muitas pessoas tal qual 2016. Separados na linha cronológicas por décadas, mas tão perto em acontecimentos que abalam nossas vidas. Podemos questionar como gerenciamos, como lidamos com a esperança? Difícil falar com as primeiras palavras que vêm à cabeça.

Embora o livro não seja um dos maiores sucessos de Fante – conhecido muito mais por “Pergunte ao Pó”, é um dos que mais dialoga com o leitor, e dá um tom acolhedor, pois os personagens são bem alicerçados e, com certeza, todos conhecem pessoas que, mentalmente, associamos aos personagens do livro.

A mensagem a ser entendida é que em um mundo muito mais conectado e ligado que em 1933 tudo está ao nosso alcance enquanto nada parece nos abalar – e tudo abala. O tempo irá tratar do julgamento de 2016, assim como o fez com 1933, que foi ruim – principalmente para Dominic Molise. Contudo, como se sabe, 2016 foi um ano bom – para muitos – e ruim para muitos outros.


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