top of page

O Fim do Mandato do Presidente Obama



No dia 20 de janeiro de 2017, a gestão de Barack Obama começará a ser registrada pelos livros de história e editoriais por todo o mundo. A grafia do prefixo mudará; surgirá o ‘ex-presidente Barack Obama’, o primeiro negro na presidência do país da exclusão e símbolo do racismo.

Comedido, visionário e sonhador, as grandes conquistas de Obama estão longe de serem unanimidades, de modo que muitos consideram suas ‘vitórias’ relativas, quase ‘decorativas’. Essa grande divergência se dá pela politização exagerada que se criou em torno da agenda política americana.

Nunca antes houve uma mídia tão ativa – e ativista – e nunca antes se esteve tão a par do que se passa. O outro lado da moeda, a desinformação, fez-se presente, e, não sem surpresa, foi um dos questionamentos em torno da eleição de Donald Trump.

A volatilidade da informação na democracia da pós-verdade nos deixa familiarizados com click-baits e hiperlinks, mas cada vez mais distante de um esclarecimento pessoal. E num panorama político nitidamente bifurcado como o americano, isso é ainda mais nocivo. Obama é um exemplo feito e acabado da abrangência dessa nocividade.

A produção de verdades nunca esteve tão forte no mundo. Os discursos que a promovem, igualmente. Esse monopólio das mentes acaba por gerar uma dominação por meio do saber, que é deformado para atender a certos interesses. Quando é levado para a sociedade, seu efeito danoso pode ser sentido na polarização da mesma, chegando ao extremo de pensamentos, opondo pessoas outrora próximas por conta de um simples posicionamento político – inflamado pela desinformação.

A sua tentativa de resgatar a economia, após 2008, quando ainda possuía a maioria do Congresso a seu favor, foi sendo dificultada paulatinamente. Até mesmo seu Obamacare, programa que se propunha a mudar a realidade de 50 milhões de americanos que não tinham assistência médica, foi amplamente criticado e sofreu duras derrotas no âmbito político, que inviabilizaram sua execução tal qual era planejada inicialmente. Inclusive, espera-se que o projeto seja encerrado, e execrado pela próxima administração.

Da mesma forma, o presidente que esteve no comando da missão que ceifou a vida de Osama Bin-Laden é o mesmo que é alvo de duras críticas sobre sua atuação na Síria, e virtual fortalecimento do Estado Islâmico, como tem noticiado o Wikileaks ultimamente. Este presidente é também aquele que mais autorizou ataques por drones, e, consequentemente, o que mais matou desta forma.

Nesse rol de aventuras e desventuras geopolíticas, figura também a ação na Líbia, que desfigurou o país, assim como, o escândalo de espionagem, tendo recaído inclusive sobre o Brasil. Obama sempre diplomático geriu a situação com maestria, nos mesmos moldes que lidou com Medvedev e Putin, seus análogos russos.

Um grande apoiador dos direitos humanos, reconhecido por apoiar causas mais identificadas com o progressismo como o casamento homoafetivo e as questões de gênero, foi ganhador de diversos prêmios, dentre os quais o mais importante é o Nobel da Paz de 2009.

Os dois mandatos de Obama foram exaustivamente documentados, e, ao que tudo indica, o futuro ex-presidente não se distanciará dos holofotes, ainda mais porque o seu sucessor – e muitos creditam a Obama, mais precisamente num deboche público a Trump feito por ele– é, de certa forma, criação de Obama.

Haverá sempre a divergência, porque, na verdade, é difícil descrever o próximo ex-presidente dos EUA em poucas palavras, seu legado é ambíguo. É louvado por muitos por ter sido o homem a desentravar as negociações entre Cuba e EUA, e por ter costurado o amplíssimo Trans-Pacific Partnership (TPP) (,que também será um defunto no futuro próximo). E odiado por muitos justamente por isso.

A sociedade internacional construirá uma realidade sem Obama, peça-chave no panorama mundial da última década e de metade dessa. Essa realidade, espera-se, tem o objetivo de ser diferente da que a grande maioria dos analistas internacionais trazem: altamente pessimista e sem perspectivas positivas a curto prazo.

Os agentes umbilicalmente ligados à estrutura serão os grandes responsáveis pelo molde do cenário internacional nos anos que virão, e haverá ainda mais atores nesse palco que já se encontra cheio de protagonistas, que podem mudar de importância no ato contínuo em uma velocidade muito alta, sem que as previsões as alcancem.

O mundo ainda terá algumas semanas para despedir-se de Obama, que certamente continuará optando por cerimônias públicas mais despojadas, em clima mais festivo. O apreço pelas câmeras e a lisura com as palavras permanecerão as mesmas.

Após o dia 20 de janeiro, Obama será um ex-presidente. Mais recluso, na linha de George W. Bush? Pouco provável. Programático na mídia como Clinton? Também não se sabe. Porém, é bom nos despedirmos, porque, entre erros e acertos, podemos nos ver em meio a saudade de Obama. E ainda sequer sabemos se isso é bom ou ruim.


REFERÊNCIAS


EL PAÍS. O legado ainda incerto de Barack Obama. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/27/internacional/1477587799_056706.html

EL PAÍS. O legado de Obama: o último discurso do presidente sobre o Estado da União. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/11/internacional/1452533002_110738.html

G1. Governo de Obama: um legado de luzes, apesar das sombras evidentes. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2016/noticia/2016/11/governo-de-obama-um-legado-de-luzes-apesar-das-sombras-evidentes.html

SPUTNIK BRASIL. ‘Legado’ de Obama: quais os problemas que o novo presidente terá que resolver?. Disponível em: https://br.sputniknews.com/americas/201611096760769-legado-obama-para-trump/

THE NEW YORK TIMES. The Wreckage of Obama’s Legacy. Disponível em: http://www.nytimes.com/2016/11/20/opinion/sunday/the-wreckage-of-obamas-legacy.html?_r=0

THE WASHINGTON POST. Obama: a virtual museum of his presidency. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/graphics/national/obama-legacy/

FOLHA DE SÃO PAULO. Nobel da Paz controverso, Obama tem mandatos marcados por guerras. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/10/1820764-nobel-da-paz-controverso-obama-tem-mandatos-marcados-por-guerras.shtml

THE ATLANTIC. Is Obama’s Drone War Moral? Disponível em: http://www.theatlantic.com/international/archive/2016/08/obama-drone-morality/496433/

THE INTERCEPT. Obama administration finally releases its dubious drone death toll. Disponível em: https://theintercept.com/2016/07/01/obama-administration-finally-releases-its-dubious-drone-death-toll/

Veja também
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Destaques

Um site que é a cara do curso de Relações Internacionais. 

Notícias do dia
Verifique em breve
Assim que novos posts forem publicados, você poderá vê-los aqui.
Redes sociais 
  • Instagram Social Icon
  • YouTube Social  Icon
  • Blogger Social Icon
  • Wix Twitter page
  • Wix Facebook page
Follow us 
  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Blogger Icon
bottom of page