Os maiores desafios da União Europeia são discutidos em Malta
A União Europeia (UE) enfrenta um dos piores momentos desde a sua fundação em 1993. A segurança do bloco, assim como da Europa inteira, está potencialmente ameaçada. Por conseguinte, na última sexta-feira (3), os líderes europeus foram convidados a se reunirem em uma Cúpula na cidade de La Valeta, em Malta, para discutirem os desafios que ameaçam o futuro do bloco.
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Não são apenas os problemas internos – como a política migratória, segurança, nacionalismo, xenofobia e Brexit – que fizeram parte da agenda da reunião, mas também, as provocações do governo de Donald Trump, o novo presidente norte-americano passou a representar uma grande ameaça a UE. Dessa forma, a Cúpula teve a finalidade de definir mecanismos de reação frente aos obstáculos atuais.
A crise dos refugiados e a constante luta contra o terrorismo definitivamente corroeu os pilares da União Europeia, e com eles as ameaças da xenofobia e autoritarismo ganharam cada vez mais espaço. Políticos de centro-direita e ultra-direita tem ganhado destaque como, por exemplo, o partido alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) que defende o fechamento de fronteiras para refugiados e mais rigidez em relação aos imigrantes, e a candidata Marine Le Pen na França que já afirmou que se eleita organizará um referendo para decidir de a França permanece na União Europeia. Dessa forma, na Cúpula os líderes aprovaram medidas para tentar diminuir o fluxo migratório no Mediterrâneo central, desde Líbia até a Itália.
Após a decisão do Brexit a UE tornou-se mais instável, como em efeito dominó, outros países manifestaram-se com uma possível saída. Tal situação compromete as fronteiras, o fluxo de refugiados e o desenvolvimento econômico dentro do bloco. Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, recebeu apoio de Trump no processo de separação, e em Malta tentou a estratégia de ser como uma “ponte” entre a UE e o líder norte-americano. Sendo claramente rejeitada, os líderes europeus em Carta aberta definiram a ordem executiva de imigração de Trump como “um assalto aos interesses e valores europeus”.
As afrontas de Donald Trump são direcionadas, principalmente, a Alemanha, denominando a UE um “veículo alemão” para beneficio econômico, Trump encoraja o fim do Euro e o futuro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ainda é incerto. Vários países demonstraram-se insatisfeitos com as ações de Trump; François Hollande, presidente da França, as nomeou como “inaceitáveis”.
Pelo viés da teoria Construtivista das Relações Internacionais, a realidade é socialmente construída; essa afirmação pressupõe que a realidade é o resultado da relação entre agente e estrutura que é socialmente emergente, nesse sentido, o agente – crise econômica, terrorismo – altera a estrutura da dinâmica dos Estados, pois a realidade é socialmente construída. A vitória de Donald Trump, o crescimento da aceitação popular de partidos de direita radicais, e todos seus derivados como xenofobia, nacionalismo e isolamento – são resultas do cenário de insegurança que a sociedade internacional enfrenta.
Angela Merkel, chanceler alemã, apontou que as investidas de Trump tornaram a necessidade de redefinir a UE cruciais e no fim da reunião a decisão foi manter precauções e, seguindo o conselho de Merkel, de cooperar com Washington. Mas alertaram que as relações amistosas com os Estados Unidos seriam mantidas unicamente se os valores continuarem comuns.
Recuperar a estabilidade na Europa é mais complexo que determinar novas rotas de fluxos migratórios. Após a vitória de Trump o retrocesso da política mundial tornou-se evidente. A União Europeia costumava ser um exemplo de sucesso de integração, pois o bloco possibilitou o desenvolvimento econômico e intercambio de tecnologia e de pessoas, contudo, não foi capaz de proteger-se da instabilidade acarretada pela crise econômica e de segurança.
O cenário atual é de retorno de políticas nacionalistas e isolamento provocado pelas mesmas. Hollande pontuou que em pouco tempo, após da saída do Reino Unido, a França será o único membro do Conselho de Segurança da ONU que faz parte da UE. Ou seja, as relações, já não são amigáveis, estão sustentadas apenas pela lógica da estratégia. O futuro da União Europeia é incerto e sofrerá abalos decisivos nas próximas eleições.
REFERÊNCIAS
ADLER, Emanuel. O Construtivismo no estudo das Relações Internacionais. Lua Nova. 1999, n° 47. p. 207-246.
Politike. A Europa não está mais segura. Disponível em: http://politike.cartacapital.com.br/a-europa-nao-esta-mais-segura/#more-2023. Acesso em fevereiro de 2017.
The Guardian. EU leaders round on Trump and rejects May’s bridge-building efforts. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2017/feb/03/eu-leaders-trump-may-attempt-act-bridge-malta-summit. Acesso em fevereiro de 2017.
El Pais. La UE recibe a Trump com críticas y preocupación tras aparcar la dureza. Disponível em: http://internacional.elpais.com/internacional/2017/02/03/actualidad/1486110468_428136.html. Acesso em fevereiro de 2017.