Amina Mohammed e os desafios futuros da ONU
Alvo de críticas quanto à necessidade de uma “transformação estrutural” em suas dinâmicas funcionais, a Organização das Nações Unidas (ONU), na terça-feira (28), teve a nova vice-secretária geral assumindo seu cargo, em Nova York. A escolha de Amina Mohammed, ex-ministra do Meio Ambiente da Nigéria, para o cargo, expõem a busca da ONU por se apresentar internacionalmente como mais aberta para a discussão de temas sociais de sua extensa agenda.
Mohammed iniciou em seu cargo afirmando que “soluções do passado não vão, sozinhas, enfrentar os desafios do futuro” (NAÇÕES UNIDAS, 2017). A agora vice-secretária possui como algumas de suas funções “ajudar na gestão das operações do Secretariado, além de assegurar a coerência das atividades e programas intersetoriais e interinstitucionais” (PREMIUM TIMES, 2017).
Considerando as dinâmicas contemporâneas, que envolvem cada vez mais a participação de atores não governamentais, a análise cratológica do poder exercido pela ONU deve ser constantemente problematizada. Sob a perspectiva dos estudos das Relações Internacionais, o poder, a partir do pensamento de Castro (2016), possui dois sentidos: o amplo e o restrito. Enquanto o primeiro diz respeito à presença do poder em qualquer relação humana, o segundo faz referência aos “(...) vários cenários do estudo tradicional da ciência política contemporânea envolvendo os órgãos do Estado em todos os seus níveis, e também fora dele, com direto interesse e conjugação” (p.166).
O autor continua, afirmando que o poder é dinâmico, ou seja, pode mudar com relativa frequência, dependendo do cenário no qual se encontra. Ele pode ser pluridimensional, pois possui várias formas de ser controlado e utilizado, a partir do objetivo que se almeja; relacional, já que necessita de uma ligação entre dois ou mais atores internacionais; situacional, considerando a necessidade de uma posição no tempo e na história e; mensurável, a partir de sua capacidade de ser quantificada.
Assim sendo, a partir de sua experiência no campo do meio ambiente, Mohammed possui a capacidade de, juntamente com Antonio Guterres, atual secretário-geral, fortalecer o papel das Nações Unidas como polo de desenvolvimento de políticas e assistência nessa área que, embora venha, nas últimas décadas, sendo debatida com maior frequência, ainda carece de esforços práticos conjuntos.
Em um cenário no qual as intervenções da ONU vêm sendo cada vez mais problematizadas, atestar sua influência na sociedade internacional, a partir da maior abrangência de temas e políticas, acaba se constituindo como passos dianteiros nas dinâmicas atreladas ao poder, que, não necessariamente serão tangíveis, embora para Castro (2016), possam ser mensuradas.
Deste modo, Amina Mohammed possuirá significativo papel nas posteriores discussões da organização. Importante personagem na discussão de temas como pobreza, reforma do setor público e desenvolvimento sustentável, nos últimos anos, principalmente na Nigéria, a vice-secretária será uma das porta-vozes de demandas que as Nações Unidas cada vez mais precisarão debater.
REFERÊNCIAS
CASTRO, T. Teoria das Relações Internacionais Brasília: FUNAG, 2016.
NAÇÕES UNIDAS. ‘Soluções do passado não vão, sozinhas, enfrentar os desafios do futuro’, diz vice-chefe da ONU. Disponível em: https://nacoesunidas.org/solucoes-do-passado-nao-vao-sozinhas-enfrentar-os-desafios-do-futuro-diz-vice-chefe-da-onu/. Acesso em 04 de março.
PREMIUM TIMES. Amina Mohammed assume duty as UN Deputy Sec.-Gen. Tuesday. Disponível em: http://www.premiumtimesng.com/news/more-news/224719-amina-mohammed-assume-duty-un-deputy-sec-gen-tuesday.html. Acesso em 04 de março.
______________. Amina Mohammed sworn-in, lists priority at UN. Disponivel em:
http://www.premiumtimesng.com/news/more-news/224926-amina-mohammed-sworn-lists-priority-un.html. Acesso em 04 de março.