Eleições na Alemanha e as desconstruções teóricas de Richard Ashley
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Richard Ashley, teórico de Relações Internacionais (RI) que não se preocupou em defender uma teoria específica, chamou de práticas heroicas o engajamento do Estado em contínuas práticas de reafirmação e de manutenção de sua posição privilegiada, segundo Resende (2012). Em corridas eleitorais, por exemplo, pode-se notar a tentativa do Estado em se legitimar como provedor de ordem, estabilidade e de previsibilidade.
As eleições na Alemanha acontecerão em setembro de 2017 e, assim como em toda a Europa, há grande atenção sobre a ascensão da extrema-direita, que se utiliza de argumentos eurocéticos para vencer as eleições. É importante ressaltar que Alemanha e França são os Estados-Membros da Uniao Europeia com maior peso econômico, e consequentemente, político.
Frank-Walter Steinmeier, do partido social-democrata (SPD) – opositor da União Democrata-Cristã (CDU) de Ângela Merkel – foi eleito presidente da Alemanha em fevereiro deste ano, e direcionou duras criticas a Donald Trump. Merkel lançou sua candidatura a reeleição em momento muito conturbado, dada sua política e apoio a centenas de refugiados que chegaram na Alemanha nos últimos meses.
O discurso de Merkel tem sido pautado na defesa dos valores democráticos, na liberdade e defesa da lei que garante a igualdade social. Seu principal opositor, Martin Schulz (ex-presidente do parlamento europeu e social-democrata), apesar de pouco conhecido pelos alemães, ganhou força na disputa política, por se apresentar como novidade, diferente de Merkel que é chanceler desde 2005.
Segundo Ashley, um dos principais debates teóricos em RI envolve a política externa dos Estados, criticando aqueles que a entendem como fórmulas prontas de previsibilidade das ações estatais, mediante a ausência de uma reflexão crítica. De fato, cada partido político e cada político que se propõe ao governo têm diferentes visões sobre política externa. No caso da Alemanha, o presidente Steinmeier e, o candidato a chancelaria, Schulz, direcionam críticas ao protecionismo de Trump, e, muito provavelmente, seria estabelecido um distanciamento político-econômico dos Estados Unidos.
Em contrapartida, apesar das críticas que Merkel já fez ao presidente norte-americano, sua política tende a ser apaziguadora e diplomática, e provavelmente buscaria meios de conciliar diferenças políticas, como tem feito na União Europeia com Estados-Membros que divergem no acolhimento de refugiados. Estes são possíveis cenários sobre a política externa dos candidatos, e, como afirma Ashley, racionaliza-los tecnicamente, seria um erro.
Estranhamente, a Alemanha parece estar na contramão dos demais países europeus em período de eleição. Enquanto a extrema-direita ecoa através de discursos legitimadores do controle estatal, em prol da segurança nacional e retomada do crescimento interno nos demais países, os alemães terão que optar entre o partido conservador de Merkel e o de centro-esquerda de Schulz, que propõe reformas trabalhistas em favor do cidadão alemão.
Rezende (2012) nos descreve uma importante crítica de Ashley, enquanto nos propomos a analisar as relações internacionais, e neste caso, as eleições na Alemanha, procuramos sempre por teorias que concordem e respondam as indagações como: De que lado estou? Qual sua posição? Qual perspectiva você representa? Procurando sempre por respostas instantâneas.
Não se pode moldurar a construção histórica e a vivacidade de um Estado com o fim de prever exatamente como será, no entanto, como bons cidadãos do mundo – não apenas aos internacionalistas, mas principalmente – devemos nos ver como um condottiero nômade, que nas palavras de Ashley, é um crítico que está em todos os lugares e, ao mesmo tempo, em lugar nenhum, pois não dirige sua lealdade a uma única linha de análise.
Não se sabe o futuro da Alemanha e nem o da União Europeia no pós-eleições, mas deve-se haver atenção a este processo, para que análises que sejam feitas constantemente e a partir de cosmovisões diferentes, não com o objetivo de teorizar o futuro de uma nação, mas para não limitar possibilidades.
REFERÊNCIAS
Alemanha. BBC. Disponivel: <http://www.bbc.com/portuguese/internacional-38487679> Acesso em: 10 de Marco. 2017.
LIMA, Marcos. et al. Teóricos das relações internacionais. São Paulo: Hucitec-Facep, 2012.