Resenha
AMISTAD
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Data de lançamento 20 de fevereiro de 1998
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Djimon Hounsou, Morgan Freeman, David Paymer
Gêneros: Drama, Histórico
Nacionalidade: EUA
Amistad é um filme de 1997, cuja história se passa na época das colônias e da escravidão, e que retrata profundamente as mazelas sofridas pelos escravos. Além disso, mostra a estrutura por trás de um mercado nefasto – e de alcance global – baseado no tráfico e comercialização de pessoas, elucidando, inclusive, práticas estatais que o asseguravam, tendo em legislações e acordos internacionais o sustento da cadeia de valores escravagista em todos seus estágios. Essa aparente ‘legalidade’, que o filme apresenta, passava a ideia de naturalidade no que acontecia, sem esquecer-nos que tal atividade esteve em vigor por séculos e foi uma das frentes que influenciaram o avanço de muitas nações.
Ao longo da obra, é aparente a preocupação de Steven Spielberg, em retratar as ideias por meio das ações humanas. A captura dos escravos ainda em Serra Leoa, e seu aprisionamento no navio, com o intuito de serem comercializados em Cuba e na Espanha, é um exemplo nítido desse esforço. Contando com um elenco excepcional: Morgan Freeman, Anthony Hopkins, Matthew McConaughey e Djimon Hounson, a carga de realismo do filme é avassaladora, nos colocando em um período marcado pelo confronto de ideias. Há um movimento abolicionista em andamento nos EUA, aliados a uma crescente tomada de consciência para os direitos humanos. Em contrapartida, ainda se percebe uma aristocracia hermética em relação à escravidão, e que teme a sua perda de influência e ganhos com esse ‘comércio’.
Cinqué (Djimon Hounson), o escravo que consegue se libertar dos grilhões, lidera um levante dentro do navio La Amistad, na luta contra os espanhóis, que são dizimados, com a exceção de dois, os quais são obrigados a os levarem de volta à África. Contudo, a direção tomada pela dupla sobrevivente os leva aos EUA, país onde a problemática do filme se passa efetivamente. Há um imbróglio na questão marítima, entre Espanha e Estados Unidos, pois, para a coroa espanhola, os negros são propriedade dela, sua mercadoria. Os americanos, por sua vez, retrucam afirmando que o navio avançou em suas águas e, portanto, reclama a posse da mercadoria – e do navio – para si.
Por fora desse embate a nível estatal, estão os grupos abolicionistas, que conjecturam para dar aos capturados a liberdade. A sua tarefa é provar que eles são africanos, e não cubanos, e leva-los de volta para a África. Esse embate é dotado de forte simbolismo, ao mostrar concretamente que já há uma leva da população que não aceita mais a escravidão, e também como ela ainda era rentável para as nações – grande parte delas. Por isso, o filme é uma importante ferramenta para que se possa compreender na plenitude o que o dia 25 de março realmente representa.
Instituído pela ONU como Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos, vem reforçar o consenso que se criou na Declaração de Durban, aprovada na conferência Mundial contra o Racismo, em 2001, e que reforça a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Os efeitos maléficos que a escravidão trouxe para o mundo podem ser vistos ainda hoje, infelizmente. Desde a estagnação das nações mais exploradas pelos escravagistas, até a segregação racial moderna.Todas as linhas de análise apontam para a crueldade da escravidão como a gênese dessas tristes situações.
E estes pontos sensíveis interessam sobremaneira as Relações Internacionais pois criam verdadeiras estruturas de relações internas que transbordam para o âmbito internacional, e, em períodos de extremismos, essa discussão se torna atualíssima e muito importante. Ainda porque existe escravidão, muitas vezes velada e patrocinada por grandes corporações, e também porque muitos dos descendentes dos povos escravizados estão dentre os milhões em busca de refúgio, em muitas partes do mundo. E ainda assim recebem portas fechadas. As quais ameaçam fechar-se cada vez mais, diminuindo, portanto, a esperança. E essas portas se fecham tal qual se fechavam os portões do La Amistad.