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A crise Venezuelana no cenário Latinoamericano


A crise na Venezuela tem se agravado nestes dias com as constantes manifestações contra e a favor do governo de Maduro. Sucessor político e, para alguns, espiritual do ‘Grande Comandante’ Chávez, sempre busca manobras políticas que validem cada vez mais seu poder e também calem a oposição, que ganhou mais espaço na cena nacional após as eleições legislativas em 2015, nas quais obteve a maioria 112 assentos na Assembleia Nacional, contra 51 do Partido Socialista Unido da Venezuela, o recanto político do chavismo.


Desde então, os embates entre a população e o governo se intensificaram, até mesmo chegando a haver uma animosidade com a Colômbia. Entretanto, esse choque entre a maioria da sociedade e as forças políticas no comando parece ser apenas uma linha de uma receita explosiva, que abarca todas as funções básicas de um estado, que vão desde as finanças até mesmo o abastecimento e assistência social. À beira do completo caos – há quem afirme que a Venezuela já é um caso sem volta – a pátria de Simón Bolívar definha.


E o definhamento da Venezuela diz respeito inexoravelmente ao Brasil. Somente em 2016, segundo a Humans Right Watch, mais de 7,1 mil venezuelanos entraram no Brasil. Esse número, contanto, pode passar longe da realidade. A maioria daqueles que vêm ao Brasil buscam uma colocação no mercado de trabalho brasileiro, assistência médica básica e de emergência. Muitos vendem seu trabalho em troca de um simples prato de comida, e o conjunto desses fatores também traz à tona casos calamitosos como a exploração sexual infantil, a xenofobia e também a crise humanitária de alimentação, denunciada pela própria Assembleia Nacional.


Desta feita, é necessária uma resposta eficaz da classe política brasileira, que, embora envolvida em outros tem apenas tentado conciliar a situação, com projetos de cunho mais humanitário. O estado de Roraima, maior afetado pela situação, vem constantemente fazendo apelo ao Governo Federal, e reconhece que, se mantido o fluxo de venezuelanos, não poderá mais arcar com questões médicas, educacionais e sociais em geral. Porém, essa questão também perpassa pela conjuntura sul-americana em geral. Michel Temer, em uma declaração endereçada diretamente ao caso venezuelano, afirmou que somente eleições livres e democráticas poderão iniciar o projeto de pacificação no país vizinho.


Desde a vitória de Mauricio Macri na Argentina, que criticou e ajudou a isolar a Venezuela diplomaticamente, as mudanças políticas só fazem solapar o projeto governista na Venezuela. Depois da Argentina, foi a vez do Brasil, que, com Michel Temer, endossou as posições de Buenos Aires e, mais recentemente, foi a vez do Peru optar por Pedro Paulo Kuczynski, de centro-direita. Do núcleo duro do projeto bolivariano, Evo Morales já tem uma data de validade: seu desejo de candidatar-se novamente em 2019 não foi aceito, e no Equador, que ainda se mantém, de certa forma, alinhado aos preceitos bolivarianos, Correa viu seu apadrinhado Lenín Moreno ganhar as eleições.


Entretanto, retomar o crescimento na Venezuela é uma tarefa hercúlea. Tendo-se baseado na exportação de commodities, sobretudo o petróleo (o país é detentor da maior reserva mundial), viu o preço do barril despencar. As dívidas contraídas pelo país chegam a US$ 15 bilhões, e as reservas internas somam menos de US$ 12 bilhões. Assim, não se tem dinheiro para fazer rolar a dívida e a inflação corrói o pouco que o dinheiro pode comprar. Segundo o FMI, a Venezuela possui uma inflação da ordem de 800%, sendo que, no ano passado, o PIB encolheu quase 19%.


Ainda colocando a culpa na “guerra econômica encabeçada pelos Estados Unidos e outras potências”, o povo venezuelano lida com filas enormes em supermercados (quando ainda aparecem produtos para serem comprados), além de terem de conviver com um mercado negro cada vez mais presente. E isso tudo sendo intermediado por uma moeda extremamente debilitada, e que obriga as pessoas a carregarem um volume considerável em cédulas, para conseguir comprar itens básicos. Não é à toa, em um cenário sem perspectiva de melhora à curto e médio prazo, que Caracas, a capital venezuelana, seja hoje a cidade mais perigosa do mundo, segundo a ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal.


Com todos esses indicativos em mente, é de bom tom concluir que o aprofundamento da crise na Venezuela trará problemas enormes para a América do Sul, e abalará ainda mais a combalida democracia no continente. É preciso pensar estratégias que devolvam ao povo venezuelano a sua dignidade, criando espaços de governança local que consigam incluir as reivindicações do povo e que traga à tona os reais planos de ação a serem tomados pelo país, com a observação muito próxima dos países vizinhos, que são, sem sombra de dúvidas, partes interessadas no recrudescimento dos problemas na Venezuela.


Referências

BBC. 5 mitos sobre la crisis em Venezuela (y lo que pasa em realidade). Disponível em: http://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-36837574. Acesso em abril de 17.


InfoMoney. As 50 cidades mais violentas do mundo. Disponível em: http://www.infomoney.com.br/minhas-financas/turismo/noticia/6337904/cidades-mais-violentas-mundo-delas-brasil. Acesso em abril de 17.


Exame. Inflação na Venezuela chega a 800% e PIB recua quase 19% em 2016. Disponível em: http://exame.abril.com.br/economia/inflacao-na-venezuela-chega-a-800-e-pib-recua-quase-19-em-2016/. Acesso em abril de 17.


Semana. Colombia y diez países pieden a Venezuela garantizar las manifestaciones pacificas. Disponível em: http://www.semana.com/nacion/articulo/colombia-pide-a-venezuela-garantizar-las-manifestaciones-pacificas/522318, Acesso em abril de 17.


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