As Perspectivas para o 2º Turno das Eleições da França
Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais ocorridas na França no último dia 23 de abril marcaram uma ruptura com o bipartidarismo de facto existente no cenário político francês. Pela primeira vez em décadas, a disputa do segundo turno das eleições francesas, que ocorrerá no próximo dia 7 de maio, não entre os candidatos do Partido Republicano e o Partido Socialista, mas entre o candidato centrista Emanuel Macron, do partido independente “En Marche!”, e a candidata do partido de extrema-direita “Front National”, Marine Le Pen.
Emanuel Macron é um candidato diferente dos que normalmente figuram no segundo turno das eleições francesas, não apenas por apresentar pouca experiência política, tendo apenas uma breve experiência como ministro da Economia e Indústria e como assessor do presidente François Hollande, mas também por buscar se posicionar no centro do espectro político esquerda-direita, o que é incomum no cenário político francês. De acordo com Macron: “como o General de Gaulle, escolho o melhor da esquerda, o melhor da direita e até o melhor do centro”, ele fundou o partido centrista “En Marche!”, em abril de 2016, de discurso fortemente europeísta.
De acordo com as pesquisas de intenção de votos mais recentes, o cenário onde a vitória de Emanuel Macron figura é o mais provável. Além de Macron tem o apoio da Comissão Europeia, de diversos políticos da esquerda e da direita francesa, e o candidato derrotado do Partido Republicano, François Fillon, que afirmou que irá votar em Macron para frear o avanço das ideias da ultranacionalista de Marine Le Pen.
A possível vitória de Macron representaria, acima de tudo, uma vitória para a União Europeia, importantíssima após os resultados do referendo britânico sobre o BREXIT, a saída do Reino Unido do bloco, que provocaram instabilidade e incertezas quanto ao futuro do projeto europeu. Se posicionando abertamente favorável à continuidade da França na União Europeia, defendendo a ideia de que o fortalecimento do bloco fortalece cada um de seus membros, Macron demonstrou acreditar na promoção de debates mais democráticos sobre os rumos e prioridades do bloco europeu como o caminho certo para restabelecer a confiança da população francesa na União Europeia e nos ideais de liberalismo, multiculturalismo e da integração regional.
Além disso, o resultado desta eleição será capaz de influenciar até mesmo nas negociações da saída do Reino Unido da União Europeia. Se para o construtivismo, agentes e estruturas se coconstroem, Macron, que criticou abertamente a decisão do Reino Unido de deixar o bloco, provavelmente exercerá influência no processo adotado pela União Europeia para conduzir as negociações no que diz respeito ao BREXIT, por acreditar na importância de negociações mais duras para defender a integridade e os interesses do bloco europeu.
Já Marine Le Pen, ao contrário de seu adversário, não é uma recém-chegada ao cenário político francês. Filha de Jean-Marie Le Pen, político de discurso ultranacionalista que concorreu cinco vezes à presidência da França, ela cresceu intimamente envolvida com a política na França.
O partido “Front Nacional”, pelo qual Le Pen disputa as eleições presidenciais de 2017, foi fundado na década de 1970, após anos estigmatizado no cenário político da França, em especial por seus ideais “antissistema” e ideias antissemitas, o partido tomou um novo fôlego após as reformas internas promovidas por Marine Le Pen.
De discurso fortemente populista, nacionalista e eurocético, a campanha de Le Pen percebeu as desigualdades existentes entre a realidade da população do “centro” da França, que mais se beneficia dos processos de globalização e de integração, e das províncias mais “periféricas”, que frequentemente se sentem à parte deste processo.
Le Pen se fortaleceu ao dar voz ao sentimento de insatisfação com as elites econômicas e de rejeição aos processos de globalização, integração, crescimento da imigração e do multiculturalismo, sua campanha foi conduzida baseada no ideal de identidade nacional francesa, apoiando a “retomada da soberania total da França” – que representaria a saída do país não apenas da União Europeia, mas também da Zona do Euro.
Os resultados do primeiro turno mostraram a consolidação dos discursos defendidos não apenas por Le Pen, como também pelo candidato de extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon.
Embora um cenário que confirmasse a vitória de Le Pen no segundo turno das eleições francesas seja menos provável, de acordo com as pesquisas eleitorais mais recentes, é imprudente descartar esta possibilidade, considerando que a realidade está em constante construção e evolução.
Este cenário representaria um duro golpe ao projeto europeu, aprofundando o processo de crise institucional na União Europeia, que poderia estar fadada à fragmentação. A vitória de Le Pen fortaleceria não apenas a identidade nacional francesa, os discursos protecionistas e anti-imigração, mas também a “onda populista” que vem ganhando força pelo Ocidente. Por fim, considerando que uma das propostas de Le Pen envolve a saída da França da Zona do Euro e o reestabelecimento do franco francês como moeda nacional, uma presidência de Le Pen poderia significar um período de forte instabilidade econômica para a França.
Nas votações do segundo turno das eleições presidenciais francesas, será marcante a disputa não somente entre dois candidatos ou dois partidos, mas fundamentalmente, entre dois discursos opostos: o do protecionismo e o da integração. Independente do resultado, este processo eleitoral pode impactar o futuro não apenas da França, como também da Europa e do resto do mundo.
Referências:
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