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Resenha de Livro: Plataforma


Ano de publicação 2002

Autor: Michel Houellebecq

Editora: Record

O império francês foi um verdadeiro instituto colonial, cujas raízes se encontram ainda no século XVI e, que de certa forma, ainda perdura atualmente, sob o nome de ‘territórios ultramarinos’. É interessante observar a abrangência das possessões francesas. Da África a Ásia, a pátria de Napoleão e De Gaulle estendeu-se não só em termos geográficos, mas culturais, sociais e – principalmente – econômicos. Essa expansão, é claro, continua a ter reverberações hoje. Esse elemento é um dos principais ingredientes do livro de Michel Houellebecq, A Plataforma, lançado em 2002.

Naquele ano, o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie, a exemplo de sua filha, também chegou ao segundo turno das eleições presidenciais. O seu discurso, muito mais duro que o da filha, arrebatou muitos franceses, e afirmou o Front Nationale no mapa político nacional. Há 15 anos atrás, portanto, o Frente Nacional não era novidade na política francesa, e tampouco os embates culturais naquele país. Nesse panorama, o livro de Houellebecq veio como uma fagulha em um pavio curto, levando a um barril de pólvora.

No livro, o personagem principal é Michel, funcionário do Ministério da cultura francês que, após a morte do seu pai, diverte-se com peep-shows. Para tentar sair da rotina que o aprisiona, ele parte em uma viagem para a Tailândia, onde faz turismo sexual. Lá, conhece Valérie, a mulher que preenche o vazio de sua vida. Os dois, então, complementam-se, mas, embora a jornada romântica tome conta de uma boa parte do livro, não é exatamente por essa nuance que Houellebecq se tornou um autor “maldito”, no sentido amplo da palavra. A atribuição deve-se, sobretudo, à acidez com a qual o autor retrata as pessoas, os locais e as relações sociais.

Como Valéry é uma funcionária do alto escalão do ramo de viagens, é logo recrutada para um projeto de estruturação de redes de resorts, o que dá a ela e a Michel a oportunidade de muitas viagens. Ao passo que o livro se desenvolve, há uma clara crítica ao islã, muitas vezes de forma debochada, e outras de forma tácita, sobretudo em viagens a países islâmicos. É interessante notar que essas críticas religiosas feitas na França não são necessariamente algo novo, mesmo porque o livro de Houellebecq já possui mais de uma década e meia de existência e foi tanto criticado quanto aplaudido. Entretanto, o desfecho do livro, com um atentado terrorista que deixa vários mortos, perpetrado por um muçulmano, torna o livro uma crítica aberta ao islã, atribuindo equivocadamente a religião como propulsora das práticas terroristas.

A França possui uma população islâmica considerável, haja vista que muitos vieram – ou nasceram de famílias – de países outrora colônias francesas, como Argélia, Marrocos ou Tunísia. Houellebecq, para essa parcela da população, tornou-se uma “persona non grata” e chegou, inclusive, a sofrer ameaças de morte. Estes fatores deram ainda mais visibilidade a sua obra e para si como autor.Embora o livro seja construído de uma maneira polêmica, é preciso ter cuidado ao discernir a realidade da ficção. A França já foi palco de terríveis atentados, diferentemente de 2001-2002, quando o livro foi lançado, observando-a mais atentamente o país se encontra muito polarizado.

A gestão de François Hollande exemplifica muito bem a atmosfera na França. Acusado de ter pouco vigor na tomada de decisões e, de ser um presidente medíocre, o membro do Partido Socialista basicamente fez ruir as bases do seu partido, que viu-se entre um político jovem, Macron, pró-europa ex-ministro e banqueiro e Le Pen, com experiência na política e que, incrivelmente, angariou o apoio de muitos socialistas na França. A Plataforma faz um aparato geral destas variáveis em forma de romance e, embora fosse um pouco utópico na época de seu lançamento, hoje voltou à tona com mais força e pior: sendo muito mal interpretado.


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