Moonlight: Sob a Luz do Luar

MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR

Data de lançamento 23 de fevereiro de 2017

Direção: Barry Jenkins

Elenco: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes

Gênero: Drama

Nacionalidade: EUA

Está em curso, no cinema, um movimento mais consciente e politizado no que diz respeito às temáticas de racismo, e que vai desde a atuação de destaque de atores negros nos papéis principais. No caso do filme Moonlight: sob a luz do luar, se mostra uma leitura ponderada e bastante introspectiva de temas como a identidade afro-americana e os obstáculos sociais trazidos pelo racismo, que é estrutural e altamente ramificado.

Numa mistura de biografia com um drama refinado, o diretor Barry Jenkins, confirma por que é um dos grandes nomes do cinema atual, e como consegue captar claramente suas ideias através das lentes. Neste filme, temos a construção física e social de Chiron (Ashton Sanders). Dividido basicamente em três atos, as partes se complementam e unem os pontos que são deixados em aberto, mantendo um fio condutor durante a execução do longa, que é exatamente como Chiron percebe – e sofre– com a sociedade, nem sempre positiva, sobre o protagonista.

Filho de uma viciada em drogas, o pequeno Chiron é abandonado, e encontra refúgio com Juan (Mahershala Ali), e sua companheira Teresa (Janelle Monáe). Nessa primeira etapa, a preocupação do diretor é mostrar como o pequeno Chiron vai tendo contato com o mundo externo, embora Juan seja bem-intencionado, ainda assim é um traficante, e leva uma vida de muitos perigos e riscos, que acabam trazendo perigos a esposa e seu protegido.

O segundo ato do filme traz Chiron, já na adolescência, representando um jovem que vive cercado pelo medo, descrença, bullying e indiferença. Na busca por sua afirmação no mundo, ele vai percebendo que há obstáculos quase intransponíveis, que acaba gerando enorme desânimo no protagonista, como sua fase de descobertas sobre sexualidade, além do bullying sofrido na escola. A fotografia de James Laxton, constrói muito bem o ambiente, mesclando com primor os dilemas pessoais de Chiron e os impedimentos que lhe são postos pela sociedade.

Na sua fase adulta, o protagonista é vivido por Trevante Rhodes, que, inteligentemente, sabe conduzir o personagem a um impasse moral muito importante. O ambiente no qual Chiron viveu boa parte de sua vida é decadente, sem perspectivas, os quais, emocionalmente, deixaram traumas e marcas. Agora já como uma espécie de Juan, seu ‘tutor’ na infância, procura acertar pontos pendentes com Paula, sua mãe, que o abandonou em virtude do vício e Kevin, que exerceu uma influência sobre seu passado.

Embora não seja um filme de reviravoltas, o trunfo de Moonlight é tratar sobre pessoas, descrever um quadro psicológico e trabalhar sobre o mesmo, de modo a fazer com que quem assista ao filme, tenha empatia pelo protagonista e seus coadjuvantes. Este trunfo se mostra um verdadeiro royal straight flush e ganha o coração de todos que o assistem, sobretudo aqueles que passam – ou já passaram – pelas provações que Chiron é exposto na obra.

Somos apresentados para uma Miami nada glamorosa e paradisíaca, com a população marginalizada e excluída socialmente de direitos socais básicos que as mantém segregadas, em ambientes perigosos e inóspitos. A fotografia é muito bem explorada ao longo do filme – aliás, mereceu os prêmios que ganhou, que é realmente uma ferramenta audiovisual de grande valor para compreender um pouco a questão do racismo e, sobretudo, como essas agressões, por mais despretensiosas e ‘sem maldade’ mudam – e muito – a vida de uma pessoa.