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A Saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris: as perspectivas do cenário internacional e os desafio


O presidente Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, que foi assinado pelo seu antecessor, Barack Obama, em 2015. O acordo de Paris foi firmado por 195 países e determina que os signatários promovam esforços para conter o aquecimento global, limitando as emissões de carbono entre 26% e 28% até 2025. Ademais, o acordo determina que cada país deva expor, a cada cinco anos, planos para mitigar as alterações climáticas.

Os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gás carbônico do mundo, perdendo somente para a China. Mas, historicamente, foram os grandes responsáveis pela quantidade de gases de efeito estufa que estão na atmosfera. No acordo, eles responderiam por 21% das reduções totais de emissões obtidas pelo pacto até 2030. O impacto da saída levará meses ou anos para trazer resultados, mas deve afetar diretamente os setores energéticos do país, principalmente aqueles de energias renováveis.

Com a decisão de retirar os EUA do Acordo de Paris, Trump visa favorecer as empresas energéticas “tradicionais”. Dentre elas estão, principalmente, as grandes companhias que operam nos setores de petróleo, carvão e gás natural, as quais são consideradas pelo presidente norte-americano como “recursos nacionais”, defendidas com a premissa de geração de empregos nesse setor. Entretanto, pensando nos trabalhadores do setor do carvão, Trump poderia estar diminuindo as chances de gerar mais empregos no setor de energias renováveis.

Todavia, a decisão do presidente norte-americano poderia colocar as empresas chinesas do setor das energias limpas a frente das americanas. Assim, deixando o “caminho livre” para a China se tornar a grande protagonista do setor, que prontamente ratificou o acordo e, afirmou que se manterá firme nas ações climáticas. E, por conseguinte, candidatando Canadá e México como fortes representantes da América no pacto.

Outro fator deixado em segundo plano pelo presidente, ao abandonar o acordo, é o de promover o soft power (“poder brando”), termo cunhado por Joseph Nye, teórico neoliberal de Relações Internacionais, que visa influenciar outros países, por meio da cultura e política, não utilizando a coerção por meio do poderio militar.

Não obstante, até 2030, o mercado das energias renováveis chegará a atingir um valor de aproximado US$6 trilhões (cerca de R$19 trilhões), representando uma contribuição fundamental na produção do PIB dos EUA. A China, por exemplo, planeja realizar um investimento de quase US$360 bilhões (cerca de R$ 1,1 trilhão) neste setor, criando aproximadamente 13 milhões de novos empregos.

É possível entender o presente cenário político internacional a partir do pensamento de Robert Gilpin, teórico de Relações Internacionais. De acordo com Gilpin (2002, p. 40-42), um Estado deve aproveitar as oportunidades de se manter a frente na economia internacional, buscando novas formas de investimentos para não se tornar ineficiente em um determinado setor, pois a competitividade e a interdependência geram vulnerabilidades que podem ser exploradas,.

Nesta perspectiva, os Estados Unidos, ao deixar de lado o setor de energias renováveis, tendem a perder na competitividade internacional e, por consequência, as empresas americanas poderiam perder investimentos na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Além disso, outros países que assinaram o acordo poderiam penalizar as empresas norte-americanas como forma de represália, por exemplo, reduzindo os impostos alfandegários de outros países produtores de infraestruturas energéticas renováveis e aumentando os impostos sobre os produtos americanos.

Já o cenário doméstico pode ser analisado a partir da Teoria dos Jogos de Dois Níveis (Two-Level Games) jogos de dois níveis, com as contribuições de Roberto Putnam. De acordo com o este modelo, um processo de negociação internacional sempre estará envolvido com nível doméstico, dado que o que for acordado externamente terá que ser ratificado domesticamente pelo Legislativo, que buscará pressionar o governo para que se adotem políticas que atendam suas preferências. O fato pode ser representado pelas grandes indústrias de combustíveis fósseis do país, onde o presidente foi pressionado por representantes deste setor, por terem sido grandes apoiadores do presidente nas eleições.

Desta forma, o abandono do esforço norte-americano contra o avanço mundial das mudanças climáticas, deve gerar uma nova onda de protestos, ações e enfrentamentos políticos dentro dos Estados Unidos. Putnam (1993) entende que o nível doméstico deve ser considerado em igualdade de importância com o nível internacional e, é dever do líder do Estado, conciliar os dois cenários para manter a estabilidade do país.


Referências


GILPIN, R. The Political Economy of International Relations. Princeton, N.J.: Princeton University press, 1987

NAÇÕES UNIDAS. Acordo de Paris. Disponível em: https://nacoesunidas.org/acordodeparis/

NYE, J. S. O Futuro do Poder. São Paulo: Benvirá, 2012. p. 119

________. Soft Power. New York, Estados Unidos: Public Affairs, 2004.

PUTNAM. R. D. Diplomacia e política doméstica: A lógica dos jogos de dois níveis. Revista de Sociologia e Política. vol.18, n.36, pp.147-174, jun. 2010.

THE GUARDIAN. EU to bypass Trump administration after Paris climate agreement pullout. Disponível em: https://www.theguardian.com/environment/2017/jun/02/european-leaders-vow-to-keep-fighting-global-warming-despite-us-withdrawal

THE NEW YORK TIMES. Trump Will Withdraw U.S. From Paris Climate Agreement. Disponível em: https://www.nytimes.com/2017/06/01/climate/trump-paris-climate-agreement.html?_r=0

THE WASHINGTON POST. Trump announces U.S. will exit Paris climate deal, sparking criticism at home and abroad. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/politics/trump-to-announce-us-will-exit-paris-climate-deal/2017/06/01/fbcb0196-46da-11e7-bcde-624ad94170ab_story.html?utm_term=.b0a9d21b3aa7

WORLD BANK. Past Presidents. Disponível em: http://www.worldbank.org/en/about/archives/history/past-president


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