A relação entre a Alemanha e a América Latina através do Jogo de Dois Níveis de Putnam
A América Latina tem um perfil plural em seus posicionamentos ideológicos. Percebe-se, desde o final da segunda guerra mundial, uma mudança de hábitos para que sejam integrados ao mercado mundial, onde o capitalismo apresenta como um padrão de dominação e exploração que, eventualmente, resulta em conflitos. Para a sobrevivência de um Estado nacional em meio a este cenário, é necessário que o Governo tenha um perfil mediador.
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A fim de fugir do protecionismo dos EUA, a chanceler Alemã Angela Merkel cumpriu uma agenda de viagens pela América Latina, indo à Argentina com a intenção de fortalecer as relações bilaterais entre os dois países e mostrar o seu apoio ao governo Macri, que em 2018 será presidente do G-20. Porém, o Brasil foi excluído da agenda da Chanceler alemã devido sua atual crise doméstica de instabilidade política.
A imagem internacional do presidente interino do Brasil, Michel Temer, está fortemente desgastada devido seu envolvimento com fortes escândalos que o mantêm na incerteza de continuidade no poder. Devido a este fato, líderes mundiais como o Papa Francisco e Angela Merkel suspenderam suas visitas e têm redirecionado sua atenção a outros países da América Latina, como a Argentina de Macri e a Colômbia de Juan Manuel Santos (ANSA, 2017).
Sob a visão do teórico Robert Putnam (2010), as relações internacionais e a política doméstica estão entrelaçadas e uma influencia a outra. Desta forma, para que as políticas obtenham resultados positivos no âmbito econômico, se torna necessário a barganha. E, utiliza-se do que o autor chama de jogo de dois níveis, ou seja, a importância de dois níveis de negociação, para solucionar certas questões no Sistema Internacional.
Compreende-se, então, o primeiro nível como doméstico (nacional), onde causas domésticas tendem a ter efeitos internacionais e; o segundo nível corresponde ao internacional, e sua capacidade de ter efeitos no nível doméstico. Sendo assim, um influencia o outro, tanto em causas quanto em efeitos e, no meio desta relação entre níveis, encontra-se o governo que tem a função de mediar possíveis conflitos entre estes. (PUTNAM, 2010).
Neste sentido, é perceptível que o interesse da Chanceler Alemã nos países da América Latina é decorrente de todas as diferenças que foram visíveis no último encontro do G-7, devido ao atual governo norte-americano. Isto que pode ser uma ameaça ao próximo encontro do G-20, devido a outras ameaças difundidas contra países latinos, em especial o México. Devido ao desinteresse dos EUA, todos os outros países têm se esforçado para ganhar a confiança dos países emergentes para expandir seu raio de influência diante do cenário econômico mundial.
Em meio a mudanças no nível internacional, o Brasil passa por crises domésticas nas quais o governo não está sendo capaz de administrar de forma eficiente. Portanto, a instabilidade política (causa nacional) tem efeitos internacionais (cancelamento de visitas de chefes de Estado, por exemplo) e, a ausência de apoio de líderes internacionais no atual mundo globalizado (causa internacional) tem efeitos domésticos (aprofundamento da crise devido ao isolamento do país). Logo, para que o Brasil volte a ser foco dos líderes mundiais, é necessário que crise interna do país seja resolvida o quanto antes, a fim de evitar maiores reflexos internacionais.
REFERÊNCIAS
ANSA-LATINA. Solo, a Temer no lo visita nadie. Disponível em: <
http://www.ansalatina.com/americalatina/noticia/brasil/2017/06/13/sin-escalas-lideres-mundiales-evitan-brasilia_776ea0c5-9487-4d96-950a-101f0526e9d9.html >. Acesso em junho de 2017.
EL PAÍS. Merkel afaga Argentina em giro na América Latina que exclui Brasil. Disponível em: < http://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/08/internacional/1496920021_735838.html >. Acesso em junho de 2017.
PUTNAM, Robert D. Diplomacia Doméstica: A lógica dos jogos de dois níveis. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 36, p. 147-174, jun. 2010