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Atentados na Inglaterra a partir do Construtivismo Crítico


Ultimamente, vem ocorrendo atentados na Inglaterra, que colocam temor na população britânica. Um deles foi o atentado suicida no show da cantora pop, Ariana Grande, no último dia 23 de maio, na cidade de Manchester, onde morreram 22 pessoas, incluindo crianças e adolescentes, e 59 ficaram feridas. A autoria do ataque foi assumida pelo grupo terrorista Estado Islâmico. Além disso, no último dia 3 de junho, ocorreu outro atentado desta vez na London Bridge, onde a polícia identificou três pessoas, responsáveis por atropelarem outras com uma Van deixando sete mortos e dezenas de feridos.

A partir destes acontecimentos, pode-se perceber uma ameaça sendo moldada, em que muçulmanos vêm se tornando uma intimidação à segurança da sociedade, fato este que já vem atemorizando Reino Unido há tempos. É válido lembrar que um dos motivos da sua saída do bloco Europeu se deu a partir do argumento da imigração, a qual não poderia controlar o número de pessoas entrando no país, enquanto continuasse no bloco. Por isso, e era preciso retomar o controle das fronteiras e garantir a soberania nacional.

É importante destacar também, que uns dos atentados aconteceu dias antes das eleições para Primeiro Ministro na Inglaterra, fazendo com que as mesmas fossem adiadas e, contribuindo para o resultado. Isto acabou influenciando na vitória de Theresa May, do partido conservador, que promete levar adiante o Brexit ( saída do Reino Unido no bloco Europeu).

Desde então, o Reino Unido elevou o alerta terrorista ao estágio crítico (máximo), devido ao medo de outro ataque iminente. Além disso, a Primeira Ministra e o Ministério da Defesa intensificam a ação do exército, que se posicionará nas ruas, substituindo a polícia na vigilância de possíveis ações terroristas.

A partir das situações e dos discursos gerados, podemos analisar a situação a partir do Construtivismo Crítico, conceito desenvolvido por Buzan (1998), teórico de Relações Internacionais. De acordo com o autor, as ameaças são construídas e, com isto, o discurso influencia e cria um temor, ao qual chama de securitização. O processo de securitização é dividido em dois estágios. O primeiro diz respeito à interpretação de certas questões, pessoas ou entidades como ameaças existenciais para objeto referente. Este pode ser iniciado tanto por parte do Estado quanto dos demais atores do Sistema Internacional.

Sendo assim, percebemos o discurso de medo sendo gerado na Inglaterra, devido a insegurança internacional. O novo inimigo “terrorismo” entrou em voga principalmente a partir da segunda guerra mundial e vem causando insegurança às nações. Com isso, a “culpabilização” de um povo, no caso os muçulmanos taxados de terroristas, passam a sofrer hostilidades e rejeições. Essa instabilidade é reforçada por discursos de governos, chefes de Estados e líderes populares.

Segundo Buzan (1998), o segundo estágio do processo de securitização terá sucesso somente quando o ator (ou atores) que iniciou o processo, obtenha sucesso em convencer a audiência (opinião pública, políticos, militares e outras elites) da necessidade do assunto se tornar objeto de segurança. Ressalta-se que no processo de securitização, os atos de fala são de suma importância. Esta última etapa do modelo é definida como a representação discursiva de uma determinada questão como uma ameaça existencial à segurança.

Diante disso, o fato que legitima a consequência dos discursos, aconteceu na noite de 18 de junho, quando uma van atropelou muçulmanos que saíam de uma mesquita em Finsbury Park, em Londres, em pleno ramadã, deixando um morto e dez feridos. Segundo uma testemunha do ocorrido, o motorista dizia querer matar todos os muçulmanos. O mesmo foi identificado como europeu, britânico e, este fato, para o Conselho Muçulmano Britânico, incide em uma manifestação de islamofobia.

Sob a análise de discurso, pode-se verificar que tanto dos governos quanto dos influenciados, representados pelo britânico que matou os muçulmanos, é perceptível a influência da fala e das ideias, onde alguém é taxado como “mal” e outro como “bom”. Ou seja, a linguagem e atos de fala têm enorme importância para os estudos de segurança, porque eles têm poder de “securitizar”, como observa Huysmans (2002, pp. 44-45): “Linguagem não é apenas um instrumento de comunicação utilizado para falar de um mundo real fora da linguagem; é uma força definidora, integrando as relações sociais”.

Neste sentido, a linguagem de segurança pode criar um cenário diferente acerca de um problema social ou sobre a fonte que gera insegurança. O Construtivismo Crítico afirma que as definições de segurança são construídas discursivamente através de representações e de elementos linguísticos – substantivos, adjetivos, metáforas e analogias (BUZAN; HANSEN, 2012). Ademais, as políticas de segurança não nascem somente de um interesse objetivo, mas são legitimadas através das “regras do jogo” criadas discursivamente (FIERKE; JORGENSEN, 2001).


REFERÊNCIAS:

FRIZZERA, Guilherme. Análise de discurso como ferramenta fundamental dos estudos de Segurança – Uma abordagem Construtivista. Conjuntura Global, Curitiba, Vol. 2, n.2, abr./jun.,2013.

BUZAN, Barry; Hansen, Lene. A Evolução dos Estudos de Segurança Internacional. São Paulo: Ed. Unesp, 2012.

BUZAN, Barry; WAEVER, Ole; WILDE, Jaap. Security: The New Framework for Analysis. Boulder: Lynne Rienner, 1998.

COLLINS, Alan. Contemporany Security Studies. New York: Oxford University Press, 2010.

FIERKE, Karin M.; JORGENSEN, Knud Erik. Constructing International Relations: The Next Generation. New York: M. E. Sharpe, 2001.

HUYSMANS, Jef. Defining Social Constructivism in Security Studies: The Normative Dilemma of Writing Security. Alternatives, 27, 2002, pp. 41-62.

DEUTSCH WELLE. Atropelamento próximo a mesquita de Londres deixa um morto. Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/atropelamento-pr%C3%B3ximo-a-mesquita-de-londres-deixa-um-morto/a-39301157 Acesso em: 17 de Junho de 2017


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