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A dualidade do Ramadã, sob a luz de Michel Foucault




“Ramadã” é o nono mês do calendário lunar islâmico, que pode ter 29 ou 30 dias de duração. Um mês islâmico começa com a visão da lua crescente no horizonte ocidental, logo após o pôr do sol. Os muçulmanos olham na direção do horizonte ocidental para a lua nova no vigésimo nono dia de Shaban (mês anterior ao Ramadan), o oitavo mês. Se a lua nova é avistada, o Ramadan se inicia ao pôr do sol, entretanto, o jejum começa com a próxima alvorada. Se a lua nova não é avistada no vigésimo novo dia, os muçulmanos completam 30 dias de Shaban e o Ramadã começa no dia seguinte.

O Alcorão é frequentemente citado no mês do Ramadan. No livro sagrado, é afirmada a ideia de “Sawm”, ou jejum, onde os muçulmanos se levantam antes da alvorada, comem o Suhur (a refeição pré-alvorada) e bebem uma quantidade adequada de líquidos, em preparação para o sawm. Durante o dia não é permitido comer, beber ou ter atividade sexual. Além disso, indivíduo muçulmano deve aderir estritamente ao código moral do Islã, haja vista que a não observância desse código pode violar os requisitos para o jejum.

Os muçulmanos jejuam, pois Deus ordenou, "ó crentes, está-vos prescrito o jejum, tal como foi prescrito a vossos antepassados, para que temais a Deus." (Alcorão 2:183). O jejum é quebrado imediatamente após o pôr do sol, geralmente com a ingestão de tâmaras e água (ou suco). Entretanto, qualquer alimento ou bebida lícita pode ser usado para quebrar o jejum. Depois fazem o salah (oração após o pôr do sol) de Magreb, que é seguido de uma refeição completa. Depois de um breve descanso, os muçulmanos vão para a mesquita oferecer a oração de Isha (oração da noite) e então uma oração noturna especial, chamada de tarawih.

A prática do Ramadã pode ser analisada sob diferentes perspectivas, dentre elas a de Michel Foucault, sobre as ações do indivíduo. De acordo com o autor, o poder disciplinar não é uma forma de destruição do indivíduo, e sim, a criação do mesmo. A ação sobre o corpo, o adestramento do gesto, a regulação do comportamento, a interpretação do discurso, com o objetivo de avaliar e hierarquizar faz com que o homem seja individualizado como produção do poder e objeto de saber das ciências humanas.

Foucault afirma que o poder é produtor de individualidade e o indivíduo é produção do poder e do saber. Para o autor, não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder. Internamente, aqueles que detêm o poder definem quem é o indivíduo através de julgamentos, classificações, medições a fim de individualizá-lo e, assim, direcionar sua convicção mental a realizar ações, assumir atitudes e padrões mentais de pensamentos para que seja utilizado ao máximo pela máquina do poder.

É possível notar que, no período do Ramadan, existem impactos positivos em diversos campos sociais, mas também há impactos negativos, como o aumento significativo do número de atentados em países do Oriente Médio, como no Afeganistão, Líbia, Iraque, Iemên e Egito e, também, na Europa (considerando o cenário contemporâneo). No Alcorão, encontram-se passagens onde é compreensível que Allah não ama agressores, entretanto, é possível encontrar passagens onde há a possibilidade de matar um inimigo por motivo de autodefesa.

Analisando isto, a partir dos preceitos de Foucault, o discurso, o saber-poder, são formas de dominação, onde uma determinada sociedade age a partir de um livro sagrado, neste caso, o Alcorão. Fazendo paralelo sobre a influência do Ramadan nos conflitos do Oriente Médio, é importante compreender que há diversos pontos de vistas e, entre estes, os grupos terroristas, que usam este período sagrado para mostrar ao mundo que não aceitarão a dominação ocidental, se apropriando de trechos do Alcorão para justificar atos terroristas. Entretanto, não podemos deixar de dar a devida importância ao mês do Ramadan, pelo fato de que este resulta em diversos benefícios para aqueles que o praticam. Durante esse mês as pessoas tornam-se mais generosas, mais cordiais, amigáveis e mais dispostas, se compararmos com outras épocas do ano.

Referências:

CULTURA BRASIL. Alcorão. Disponível em: http://www.culturabrasil.org/zip/alcorao.pdf

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. 11ª ed., Rio de Janeiro: Graal, 1997.

G1. Conflitos no Oriente Médio marcam o início do Ramadã. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/conflitos-no-oriente-medio-marcam-o-inicio-do- ramada. Acesso em 28 de junho de 2017.

THE RELIGION OF ISLAM. Ramadã e Jejum (parte 1 de 2): Jejum. Disponível em: http://www.islamreligion.com/pdf/pt/ramadan_and_fasting_part_1_of_2_624_pt.pdf. Acesso em 27 de junho de 2017.


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