Conflitos sociais no século XXI: Destruição ou transcendência?
No mundo moderno do século XXI, conflitos sociais estão cada vez mais presentes e empoderados. Conflitos universais de gênero, de tradições e costumes, de raça, de classe e de opinião, têm aumentado a necessidade incessante de valores como a tolerância, o diálogo e o respeito. Para muitos, o conflito é visto imediatamente como um ponto negativo, mas, para acadêmicos como (Johan Galtung, Louis Kriesberg e Simmel) e para o sexto secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Boutros Boutros-Ghali, o conflito, por meio de soluções criativas, pode ser o pontapé inicial para um entendimento mútuo e benéfico.
Trabalhar conflitos, no âmbito das relações internacionais, é a missão de todos os líderes e determinadores do andamento mundial e, para o primeiro secretário-geral africano da ONU, não foi diferente. Boutros-Ghali nasceu no Cairo, Egito, e se formou em Direito e em Relações Internacionais, trabalhando como diplomata e político, antes de assumir o seu primeiro mandato na ONU, em 1992.
Para Louis Kreisberg, um conflito social acontece quando duas ou mais pessoas ou grupos manifestam a crença de que eles têm objetivos incompatíveis (Kriesberg, Louis, 2012, p. 2) e, em outro nível, conflitos podem ser destrutivos, benéficos, sistematizados ou transformados. A importância deste estudo se valoriza no momento em que percebemos que, durante o mandato de Boutros-Ghali, o genocídio em Rwanda (1994), a guerra na Yugoslavia (Massacre de Srebrenica, 1995), a guerra civil na Angola (década de 1990) e o conflito entre Israel e Egito se alastraram pelo mundo e, juntos, deixaram aproximadamente um milhão de mortos, mesmo com a presença das tropas de paz das Nações Unidas em cada um destes respectivos conflitos.
Entendemos que era a época pós-Guerra Fria e o Conselho de Segurança (CS) da ONU ainda estava aprendendo a lidar com os objetivos incompatíveis de seus membros deste CS. Boutros-Ghali tentou se impor agressivamente no CS, mas a força dos Estados Unidos e das outras potências no Conselho, impediu que ele e a ONU tivessem mais impacto nos conflitos descritos acima. Sendo assim, a falta de entendimento entre Boutros-Ghali e os membros do CS foi um dos motivos principais de Ghali ser o único secretário-geral da ONU a não continuar no cargo por um segundo mandato.
Contudo, Boutros-Ghali viveu um mandato controverso na ONU. Ele mesmo disse que os seus posicionamentos opostos aos interesses dos membros do CS e a sua atuação em Rwanda foi o seu maior fracasso nas Nações Unidas. Embora isto tenha acontecido, podemos tirar como lição aquilo que Johan Galtung chama de método TRANSCEND para assim evitar futuros genocídios, massacres e violência, desproporcional nos conflitos que hoje tumultuam o mundo. TRANSCEND é o meio de transformar um conflito por meio de soluções criativas em que ambas as partes são vencedoras.
REFERÊNCIAS
BBC NEWS. Boutros Boutros-Ghali, former UN head, dies at 93. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/world-middle-east-35590039> Acesso em: 26 de agosto de 2017.
GALTUNG, Johan. Transcender e transformar: uma introdução ao trabalho de conflitos. São Paulo: Palas Athena, 2006.
KRIESBERG, Louis. Constructive conflicts: from escalation to resolution / Louis Kriesberg and Bruce W. Dayton. — 4th ed. - United Kingdom, 2012.
ONU. Boutros Boutros-Ghali. Disponível em: <https://www.un.org/sg/en/content/formersg/boutros-boutros-ghali> Acesso em: 26 de agosto de 2017.
THE GUARDIAN. Former UN chief Boutros Boutros-Ghali dies aged 93. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2016/feb/16/boutros-boutros-ghali-former-un-chief-dies-aged-93> Acesso em: 26 de agosto de 2017.