A relação entre os Estados Unidos e Coreia do Norte: uma análise do risco de uma guerra nuclear
Nos últimos dois meses temos acompanhado notícias sobre a relação crescentemente conflituosa entre os EUA e a Coreia do Norte. Pode-se dizer que tal relação esteve amenizada até o momento em que o presidente Donald Trump assumiu a liderança de uma das maiores potências do Sistema Internacional.
Desde o início do ano a política da Coreia do Norte tem ficado cada vez mais ofensiva, demonstrando a afirmação de um oficial de alto escalão norte-coreano, Kim In Ryong, na qual afirmou que uma guerra Termonuclear poderia ter início a qualquer momento. Com isto, a Coreia do Norte vem fazendo testes de mísseis, na tentativa de
validar sua afirmação de detenção de mísseis intercontinentais, como o Hwasong-14, que atingiu uma altitude de 2.802 quilômetros.
Em resposta aos mais recentes testes dos mísseis norte-coreanos e postura ofensiva de Kim Jong-un, Donald Trump afirmou que seria melhor para a Coreia do Norte aceitar as condições propostas sobre o seu regime nuclear, pois, caso contrário, o país “vai se encontrar com uma fúria e um fogo jamais visto no mundo”, conforme o último pronunciamento do presidente norte-americano.
Com tais ameaças e ofensivas de discursos, as maiores agências de notícias tem divulgado sua preocupação por uma nova guerra fria e de forma mais intensiva, uma guerra nuclear. Ao modo de analisar tal risco, é necessário entender a conjuntura do pensamento de John Mearsheimer. O autor é professor de Ciência Política e teórico das Relações Internacionais, cujas análises partem do Neo-realismo.
Partindo do pensamento de Kenneth Waltz, Mearsheimer (2001) concorda que o Sistema Internacional é regido por um principio ordenador, no caso a Anarquia Internacional. Desta forma, os estados buscam maximizar seu poder para alcançar a hegemonia, que seria um ponto máximo de segurança em um mundo ofensivamente conflituoso.
Para alcançar a hegemonia, os estados devem “ter uma dissuasão nuclear que pode sobreviver a um ataque nuclear contra ele” (MEARSHEIMER, 2001, p. 03). Desta forma, os EUA e a Coreia do Norte buscam construir um arsenal nuclear cada vez mais tecnológico, nos quais os testes são essenciais para a aplicação de melhorias, para que o Estado com maior poder nuclear pudesse ganhar superioridade sobre os rivais.
O autor argumenta ainda que é improvável um estado alcançar uma superioridade nuclear clara (MEARSHEIMER, 2001, p. 22), pois há o impedimento principal, que seria a dificuldade em projetar poder em todos os oceanos do mundo. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, que apesar de ser uma das maiores potências mundiais, não exerce poder sobre grande parte do continente, Europeu e Asiático.
Diante deste cenário, é possível verificar que o risco de uma Guerra nuclear seria improvável, de acordo com o teórico, haja vista que “as armas nucleares podem infligir destruição devastadora em um estado rival em um curto período de tempo” (MEARSHEIMER, 2001, p. 24). Por esta razão, os Estados vão hesitar em lutar contra os demais. Assim, as disputas entre Coréia do Norte e Estados Unidos, podem ser configuradas como uma disputa de poder que acaba gerando o Dilema de Segurança, porém como compreendemos a partir da Guerra-fria, um conflito desse nível ainda é algo a se pensar, pois vivemos em um mundo anárquico, onde os países ainda têm motivos para temer uns aos outros.
REFERÊNCIAS
AHRENS, Jan Martinez. Coreia do Norte afirma que lançou um míssil intercontinental. Disponivel em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/04/internacional/1499131946_957832.html?rel=mas>. Acessado em 01 de agosto de 2017.
AHRENS, Jan Martinez. Trump ameaça a Coreia do Norte: “Nossa paciência acabou”. Disponivel em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/30/internacional/1498844048_027917.html>. Acessado em: 01 de agosto de 2017.
John J. Mearsheimer, The Tragedy of Great Power Politics (New York: Norton, 2001). Updated Edition (New York: Norton, 2014).
MARS, Amanda. Trump ameaça a Coreia do Norte “com fogo e fúria jamais vistos no mundo”. Disponivel em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/08/internacional/1502219237_304327.html>. Acessado em 29 de agosto de 2017.