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Terrorismo na Europa - Stuart Hall e os Novos Radicais


Nos últimos anos, o número de atentados terroristas dentro dos territórios de países da Europa ocidental só vem crescendo. Entre eles, podemos citar três casos de grande relevância. Primeiro, o atentado à revista satírica Charlie Hebdo na França em 2015, onde os irmãos Saïd e Chérif Kouachi atacaram o estabelecimento matando 12 pessoas e ferindo mais 11. Segundo, a explosão ocorrida durante o concerto dentro do Manchester Arena na inglaterra em maio desse ano, atribuída a Salman Abedi. E finalmente, os recentes casos de atropelamentos reivindicados pelo Estado Islâmico na Espanha, em agosto, cujo último suspeito, Younes Abouyaaqoub, foi morto pela polícia espanhola dias após o ocorrido. Nesses três casos, os atentados foram executados por jovens civis que residiam nos países onde os atentados ocorreram. Portanto, há de se questionar o que tem levado tais indivíduos a abraçar os ideais terroristas.

Stuart Hall trabalha com o conceito de identidades em sua obra “A Identidade Cultural na Pós-Modernidade”. Segundo o autor, as identidades pessoais dos indivíduos são formadas por suas relações dentro da sociedade e pelo entendimento daquilo com que se identificam. Hall (2005) afirma que tais constantes transformações na sociedade moderna infligem um deslocamento do sentido de identidade dos sujeitos, privando-os de um reconhecimento do que vem a ser de fato o “eu”. Portanto, as novas dinâmicas mundiais fragmentam essa noção em diversas identidades conflitantes dentro de si, com as quais os sujeitos passam a eleger qual identidade lhes é mais significativa em diferentes situações, o que é conhecido como Jogo de Identidades.

Logo, o deslocamento dos indivíduos de seu lugar na estrutura social moderna, e consequentemente de si mesmos, culmina no que Hall (2005) chama de “crise de identidade”. Essa crise interna na identidade dos indivíduos transborda para os grupos sociais, que antes representavam a noção coletiva de identidade. Como consequência, identidades externas como sexuais, nacionais, étnicas, sociais e de gênero também entram em crise.

Em todos os atentados citados acima, os responsáveis pertenciam à segunda geração de imigrantes que haviam perdido sua conexão com seus países de origem e nunca puderam, de fato, se conectar com sua realidade atual. Os atentados não necessariamente denotam uma devoção por dogmas islâmicos, trata-se, todavia, de uma rota de escape na qual os jovens terroristas encontram um propósito. Família e amigos dos envolvidos nos ataques na Espanha ficaram chocados com o ocorrido, pois muitos nunca suspeitaram que os jovens fossem parte de uma célula terrorista. Eles eram vistos como adolescentes normais, até que, diante de sua crise interna, eles elegeram a identidade de radicais islâmicos como a que melhor os representava.

Assim como Hall afirma, a dissociação do “eu” com suas identidades, leva à crise do sujeito. No que diz respeito aos terroristas, houve um real deslocamento dos jovens ou de suas famílias, de uma contexto cultural para outro, fragilizando suas identidades e sentimento de pertencimento. Essa dissociação criou um “vácuo identitário” que deu espaço para violência extremista. Neste contexto, suas identidades entraram em crise, pois não foram capazes de definir um referencial com quais podiam associar seu “verdadeiro eu”. E, é por esta razão, que em casos semelhantes aos relatados, jovens por todo o mundo aderem ao radicalismo islâmico mesmo sem que haja uma conexão direta com seu contexto cultural ou social.

De certa forma, os jovens eram parte da própria sociedade que eles atacaram. Aqui entra a ideia do “jogo de identidades” referido por Stuart Hall; quando confrontado por uma situação onde duas ou mais identidades entram em conflito, o sujeito deve escolher qual identidade prevalecerá. Os terroristas nasceram ou moraram boa parte de suas vidas em países “ocidentais”, imersos em sua cultura e ideais. No entanto, eles rejeitaram essa visão em detrimento de uma identidade que, apesar de mais distante, de alguma forma representava-os melhor, ou ao menos, que dava vazão à sua busca por pertencimento.

Como visto, os recentes ataques terroristas na Europa podem ser vistos como consequência do colapso das identidades modernas; é impossível haver um sujeito integrado, que compreende exatamente quem ele é. Portanto, os jovens terroristas encontravam-se fragmentados, divididos entre diferentes identidades culturais, muitas delas contraditórias e conflituosas. Essa massa, fluida de identidades pessoais, permitiu que os “novos-radicais” participassem do Jogo de Identidades e que a identidade cultural representada pelo Jihad suplantasse as outras.

REFERÊNCIAS


HAARETZ. It’s not islam that drives young europeans to jihad, France’s Top terrorism expert explains. Disponível em: < http://www.haaretz.com/world-news/europe/1.791954> Acesso em: 31 de Agosto de 2017

Hall S. A identidade cultural na pós-modernidade. 10a ed. Rio de janeiro: DP&A; 2005.

FOZ NEWS. Clearer Picture of emerging of terror cell in Barcelona attack. Disponível em: <http://video.foxnews.com/v/5548132809001/> Acesso em: 31 de Agosto de 2017


THE GUARDIAN. Spain terror attacks death toll rises to 15 as main suspect hunted across Europe. Disponível em: < https://www.theguardian.com/world/2017/aug/21/spain-terror-attacks-death-toll-main-suspect-hunted-across-europe > Acesso em: 31 de Agosto de 2017


THE GUARDIAN. At least 22 killed ,59 injured in suicide attack at Manchester Arena. Disponível em: <https://www.theguardian.com/uk-news/2017/may/22/manchester-arena-police-explosion-ariana-grande-concert-england> Acesso em: 31 de Agosto de 2017

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