Amor Sem Fronteiras
Ano: 2004
Gênero: Drama; Romance
País: EUA; Alemanha
Diretor: Matin Campbell
Atores: Angelina Jolie; Clive Owen; Linus Roache; Terri Polo
Amor sem Fronteiras é um filme de 2004, dirigido por Martin Campbell, e que, apesar de ter seus momentos de drama totalmente romanceado, consegue manter a coerência a partir da questão das causas humanitárias na África e o fato de haver um descaso por parte de órgãos importantes, como a CIA, e grandes corporações e governos que, , lucram com a desgraça, a fome e a morte em locais extremamente ricos em recursos naturais, porém paupérrimos e profundamente desestabilizados.
Um dos grandes insights do filme é mostrar a desconstrução pessoal da personagem interpretada por Angelina Jolie (atriz que é reconhecida pela atuação em causas humanitárias), Sarah Jordan. De socialite bem casada com Henry Bauford (Linus Roache), um importante empresário americano, a ativista ferrenha, sua rota de conversão passa pelo médico voluntário Nick Callahan, (Clive Owen), que durante um jantar de gala em Londres, interrompe a cerimônia e faz um discurso acalorado, mostrando como são hipócritas aquelas pessoas que dançam e se embriagam no jantar, pensando estar ajudando as pessoas na África.
As cenas de dor e sofrimento dos refugiados etíopes são tocantes, e, embora o filme tente ‘espetacularizar’ essa triste realidade, acabamos envolvidos por ela, o que é fundamental para o desenrolar do filme. Aqui, os produtores deixam bem claro uma linha entre os corruptos, aí incluídos os governos, contrabandistas, funcionários locais etc. e os que lutam pela população local, como Sarah e Callahan. Juntos, eles enfrentam a escassez de recursos, as ínfimas condições de trabalho no campo de refugiados e a dificuldade de encontrar eco na mídia e na sociedade dos países ditos ‘desenvolvidos’. Então, à medida que os dois trabalham com mais sintonia, , surge o amor entre a ex-socialite e o médico voluntário.
Como já dito antes, o filme explora esse ambiente triste – porém real – para contextualizar o romance, porém não deve ser visto com esse viés se o objetivo máximo é extrair dele uma ferramenta de análise prática sob a ótica das Relações Internacionais. É sabido que as guerras na África aprofundam os problemas históricos da região e também normalizam o pensamento de que os africanos jamais sairão da posição onde se encontram. É esse desdém que se observa ainda hoje nas guerras do Sudão do Sul, no Mali, na República Centro Africana e, nos casos que são ainda mais complicados, como na Nigéria, berço do grupo terrorista Boko Haram. Esses conflitos, inicialmente locais e regionais, acabam influenciando toda a rede do sistema internacional, porém só recebem atenção quando os refugiados, que saíram de tais locais, vêm morrer nas praias e ilhas da Itália, Grécia ou França.
E, infelizmente, essa problemática não fica restrita somente ao continente africano e suas mazelas. Recentemente, Irma, José e Katia devastaram a América Central, tão pobre quanto a África, mas em muitos casos, só foram causar comoção ao atingir os EUA. Outro ponto sensível tocado pelo filme é o que diz respeito à segurança alimentar e a própria segurança física-espacial. O conceito daquilo que se entende por segurança está em constante expansão, e o filme deixa bem claro em que medida as questões alimentares influenciam a segurança física de milhares e milhares de pessoas, além de mostrar o impasse entre os que acham que não é um tema de segurança, e os que divergem desse ponto de vista.
Por fim, o filme oferece uma leitura muito profunda sobre as questões de refugiados, problemas de segurança alimentar e as intricadas relações da política com tudo isso. Assim é mostrado quando no filme se fala sobre o Camboja, que mostra o quanto os conflitos são moldados por inúmeros fatores, e que saem da alçada dos Estados em muitas vezes, além da atuação de ONGs, Organizações Internacionais e até cidadãos, de variados países, nas situações de deslocamento populacional forçado e também de falência de estados. O filme é de 2004, mas a situação continua, infelizmente, muito atual.