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Diplomacia no século 21: antigo ofício, novos desafios


O mundo no Século 21 é inegavelmente mais complexo. A tecnologia tornou os deslocamentos e a comunicação muito mais rápidos. Além disso, a distinção entre questões domésticas e internacionais não é mais tão clara diante das constantes interações entre os dois domínios. Isto posto, a diplomacia, - atividade baseada em tradições e práticas muito antigas, - deve estar atenta às tendências atuais. De início, convém elucidar o funcionamento do mundo atual para depois fazer uma análise dos desafios com que a diplomacia deve lidar.

Os diplomatas hoje trabalham em um cenário marcadamente instável e volátil. T.G. Otte (2017), no artigo “A dissolução da ordem do pós-Guerra”, busca explicar de forma coerente para os eventos atuais, uma tarefa que ele mesmo considera muito difícil. O fato é que os eventos que estão acontecendo nos anos de 2016 e 2017 são de grande magnitude e geram muitas incertezas. A ironia atual é que existe uma inversão da ordem natural das coisas: em um embate entre uma potência que represente o status quo e outra em ascensão, é de se esperar que a segunda busque desafiar a ordem vigente. Contudo, os EUA, por exemplo, geram desequilíbrios quando atacam a ordem criada por eles mesmos e, a China, a nova potência, é quem busca mantê-la.

Outro ponto importante é que o debate político interno de muitos países, é marcado por políticas de identidade. O que Freud chamava de “narcisismo de pequenas diferenças” ajuda a explicar, em parte, os conflitos étnicos, separatistas e nacionalistas em muitos países, que agravam-se com a política do medo. Relacionado a questão acerca do terrorismo e da crise dos refugiados, as mudanças ocasionadas por estes eventos geram o sentimento de perda de normalidade do cotidiano. Quando há um conflito as pessoas tendem a fortalecer alianças entre seus iguais, o que pode ser algo positivo ou negativo e, a atuação do diplomata sobre estas questões é essencial, tendo ele ferramentas que irão auxilia-lo, sobre uma problemática.

O avanço tecnológico das comunicações é o principal fator de mudança da prática diplomática atual. A rapidez que as informações circulam na mídia cria expectativas igualmente velozes no público para as questões internacionas. Conferências multilaterais são um exemplo disso. Hoje, elas são muito mais comuns, especializadas e com maior presença de líderes nacionais, onde há pressão em alcançar resultados práticos. As reuniões internacionais permite que os líderes confraternizem, gerando proximidade entre eles, o que pode ajudar em um momento de crise entre os países.

Como resultado da própria melhoria tecnológica das comunicações, a sociedade civil se tornou outro ator com maior participação na arena internacional. Tanto governos, quanto Organizações Internacionais tiveram que se ajustar e dar oportunidades para essa voz ser ouvida. Nesta perspectiva, a diplomacia do século 21 deve interagir de forma construtiva com várias perspectivas diferentes sobre determinadas questões. Isso requer aceitar críticas pesadas e pressões significativas, proporcionando legitimidade para ambos os lados.

Contudo, os avanços das comunicações levantam questionamentos sobre a função do diplomata não ser mais necessária. O primeiro ministro do Canadá, Pierre Trudeau, afirmou “por que manter vários diplomatas no exterior se eles apenas vão informar o mesmo que está escrito no jornal?”. O valor que o diplomata agrega é o profundo conhecimento sobre o cenário internacional e como algumas adversidades podem afetar os interesses do seu país. Os diplomatas nunca vão ter o mesmo conhecimento dos especialistas de temáticas específicas como nuclear ou ambiental, por exemplo, e nem devem, mas são os melhores para mapear a estratégia de alcance dos interesses nacionais internacionalmente.

A realidade deve estar acima de teorias abstratas, logo, as políticas não podem estar desconectadas da realidade, devem estar ancoradas em uma análise fiel dos fatos. Isso é imprescindível na atividade diplomática, já que eles estão a serviço da política externa. Essa é uma política pública sui generis, pois tem um sentido de permanência maior, além do fato que o tempo dela não é igual ao de outras políticas públicas, da imprensa e das redes sociais. Na sua formulação, ainda permanecem fatores de difícil mudança, porém, política externa não é imutável, contudo não se pode cair na ingenuidade de que é possível começar do zero, ignorando completamente a trajetória histórica do país. Isso geraria instabilidade e falta de credibilidade perante a comunidade internacional.

Quando se fala em diplomacia, fala-se muito em política e jogos de poder, porém não devemos ignorar a dimensão humana que não se trata de coerção, mas de persuasão. É sobre achar pontos em comum e balancear os benefícios para ambas as partes saírem com algum grau de satisfação. Diplomacia é um trabalho que requer paciência e mente aberta: tendo interesse genuíno na história e na cultura do país. Mais do que uma profissão, a diplomacia é um estilo de vida que pressupõe um olhar atento e inteligente para o outro, para o diferente, para o estrangeiro. É sobre ter empatia com a outras culturas. E isso não é apenas aprender outro idioma, mas conhecer realmente aqueles que pertencem a outras culturas. É um ato de generosidade cultural, ou seja, um reconhecimento de que existem várias outras formas de expressão, diferentes da nossa e que são igualmente ricas e únicas.

Portanto, a diplomacia ainda possui muitas características antigas. Os privilegios especiais nos países que trabalham e os rituais da entrega de credenciais, por exemplo, não são apenas tradições, são uma lembrança de regras de civilidade que foram acordadas desde a Paz de Vestfália, há séculos atrás. É uma grande honra poder ser o representante de seu país no exterior e ninguém o faz sem emoção ou orgulho. Também é verdade que a globalização e interdependência fizeram com que pessoas pudessem representar seu país em algum momento, porém, a manutenção de profissionais especializados ainda é uma ferramenta essencial para a condução da política externa de um Estado.

REFERÊNCIAS

INTITUTO RIO BRANCO. A Formação do Diplomata Contemporâneo. Disponível em:<http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/images/pdf/Marilia.-Semana-de-Relaes-Internacionais.-Palestra-JEAS-revisada-27-set.pdf>. 28 Set. 2017.

FRÉCHETTE, Louise. Foreword Diplomacy: old trade, new challenges. In: COOPER, Andrew; HEINE, Jorge; THAKUR, Ramesh. The Oxford Handbook of Modern Diplomacy. Oxford: Oxford University press. 2013.

OTTE , T.G. The Waning of the Post-War World. ISSF Policy Series. 2017. Disponível em: <http://issforum.org/roundtables/policy/1-5P-Otte>. 28 Set. 2017.

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