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A Somália no palco internacional: convite ao universalismo


Passado o período colonial e da busca por independência, a Somália viveu um longo tempo sob o regime do ditador Muhammad Siad Barre, apoiando a finada União Soviética na Guerra Fria. Com o fim do conflito e as incertezas sobre como se dariam as relações com os Estados Unidos, o país estava devastado pela dívida externa, por tentativas de acabar com o regime Barre e pelo crescimento de inúmeros grupos opositores. A instabilidade era representada na insegurança total, em uma guerra interna de todos contra todos.


Em 2009 a Somália declarou Estado de exceção, clamando por ajuda internacional, por suas emergências humanitárias. A Missão da União Africana na Somália (AMISOM), a Organização das Nações Unidas (ONU), os Estados Unidos com ações humanitárias e militares, ONGS não governamentais como a Save the Children, dentre outros atores têm atuado tentando reverter à situação de calamidade nesse país, que já declarou três vezes estado de fome, possui 275.000 crianças sofrendo de desnutrição severa e que tem terceiro maior número de cidadãos vivendo como refugiados em outros países.


Apesar do estado deplorável da nação que enfrenta diariamente a violação dos direitos humanos, o país se tornou notícia internacional no dia 14 de outubro, quando ocorreram dois atentados terroristas em Mogadíscio, capital da Somália. Foi o pior atentado com uso de bombas do país, deixando 358 mortos, 56 pessoas desaparecidas e 228 feridos, fontes dizem que o grupo terrorista Al-Shebab foi o responsável, reforçando seu ideal de conter as ações estrangeiras no país, especialmente a dos Estados Unidos.


Desde o dia do ataque, inúmeras críticas foram levantadas sobre o fato da mídia internacional não enfatizar os atentados da mesma maneira que o faz quando eventos como estes ocorrem na Europa ou nos Estados Unidos, de fato a repercussão é muito inferior. Nesses dias não assistimos uma programação inteira direcionada à Somália, quem eram as vítimas? Quais os seus nomes? O que eles gostavam de fazer e quais os sonhos que não foram realizados? Os chefes de Estados não deram nenhuma nota de condolência. Não há nada. Não há busca por essas informações. Há apenas mídias e pessoas criticando mídias e pessoas.


Neste cenário há tantos recortes para serem feitos e analisados, há muitos lados, muitos fatores, muitos atores e muitas histórias, aqui se detém o cerne de todas as análises. Segundo o teórico Crítico de Relações Internacionais, Andrew Linklater (1982), é necessário que haja um sentimento cosmopolita, através da afirmação do universalismo moral, em que quando ocorre à violação dos direitos humanos em qualquer parte do mundo, a sociedade sinta e compartilhe daquela dor. Para o autor, o processo em busca de paz para um Estado, só será possível quando os outros também obtiverem a paz.


O universalismo transpõe fronteiras, não apenas físicas, mas também sociais, políticas, culturais e econômicas. A ideia não é anulação de uma nação em prol de outra, mas o estabelecimento da consciência de promoção dos direitos humanos básicos para a manutenção da dignidade das gentes. A crítica às mídias e governos internacionais é válida, no entanto, é preciso que a própria sociedade civil repense seus conceitos sobre a importância e igualdade dos indivíduos, independente se são estadunidenses, europeus, brasileiros ou somalis.


A Somália e os demais países da África e Ásia precisam ser enfatizados na mídia, precisam da atenção dos Estados e do apoio das organizações não governamentais, assim como, do olhar da sociedade civil, não apenas agora quando estes atendados ocorreram, mas continuamente, pois nas semanas que virão suas debilidades permanecerão e ainda há muito a ser feito por essas nações e através delas.


REFERÊNCIAS

CARDOSO, Nilton. Conflito Armado na Somália: Análise das causas da desintegração após 1991. Trabalho de Conclusão de Curso (monografia) - Departamento de Economia e Relações Internacionais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, 2012.

EL PAÍS. Atentado na Somália, terror e caos em meio à fome aguda e à seca. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/21/album/1500662912_034063.html> Acesso em: 24 de Outubro de 2017.

LINKLATER, Andrew. Men and Citizens in the Theory of International Relations. London: Palgrave Macmillan, 1982.

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