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Flor do Deserto


Data de lançamento: 25 de junho de 2010

Direção: Sherry Hormann

Elenco: Liya Kebede, Sally Hawkins, Timothy Spall

Gênero: Biografia, Drama

Nacionalidade: Reino Unido, Áustria, Alemanha


Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) 6.000 meninas sofrem mutilação genital diariamente no mundo, e estima-se que mais de 200 milhões de meninas e mulheres já tenham sido vítimas desta intervenção em seus corpos. Esta prática, recorrente em pelo menos 30 países, faz parte de uma cultura na qual o prazer da mulher é combatido e repreendido fortemente, de modo que, segundo esta crença, deve-se preservar a pureza feminina. Além de incapacitar as mulheres na sua vida sexual, tira sua autonomia e viola seus direitos mais básicos, podendo, inclusive, aumentar o risco de complicações fatais na gravidez, o que reflete, nessas sociedades, a crença cristalizada de que as meninas e mulheres ocupam uma posição social inferior.

Essa dor excruciante foi vivenciada por Waris Dirie quando tinha somente 3 anos. Hoje, a ex-modelo de sucesso e voz ativa contra a mutilação feminina, a somali, nascida em uma família nômade em seu país de origem, já conseguiu mudar as leis de muitos países no que diz respeito à essa terrível prática. Flor do Deserto é um filme que conta sua história, baseado na sua biografia, e que relata de maneira muito rica o caminho percorrido por Waris até ser reconhecida e ganhar voz ativa na luta pelos direitos de meninas e mulheres.

A vida nômade é retratada bem no início do filme, em que a jovem Waris é mostrada em meio a seus irmãos, divertindo-se com os animais de sua família e inserida em um meio extremamente patriarcal e repressivo.

Aos doze anos, a agora adolescente Waris foi prometida em casamento a um homem muito mais velho que ela, que já ia para o seu quarto casamento. Para não se casar a contragosto, fugiu do seio familiar e atravessou o deserto sozinha. Chegando a Mogadíscio, viu que a vida na capital da Somália tampouco era muito diferente do que vivia em regime nômade.

Então, movida por um desejo de vencer na vida, escolheu Londres para ser seu ponto de recomeço. Mas antes, sofreu muito nas ruas, conseguindo trabalhos esporádicos e mal remunerados, sem falar inglês e sem conhecer nem a cidade, nem pessoas que lhe pudessem ser úteis. Foi então quando conheceu Marylin que Waris passou por um maior choque de realidade. Ao fazer confissões pessoais à sua nova amiga, diz-lhe que fora circuncidada aos 3 anos. Isso explica as dores intensas que sente até quando tem que urinar, mas que, para ela, é algo normal. Marylin, espantada, argumenta que as mulheres, sejam britânicas ou não, que ela conhece, jamais passaram por isso, e que imagina o quão difícil deve ser a vida, sexual ou não, de alguém que tenha passado por uma mutilação tão severa.

Neste ponto, fica claro que o filme joga com a ideia de universalismo e relativismo em Direitos Humanos. Essa dualidade tem sido uma característica marcante de toda a discussão sobre direitos fundamentais, podendo ser abordada de inúmeras maneiras. A questão aqui mostrada é a seguinte: como intervir – se é que é possível intervir – em casos como esse, que, embora pareçam horríveis aos nossos olhos, são tão normalizados – e em muitos casos, normatizados – em tantos outros países e até regiões?

A carreira de Waris, seu início e percalços, até o sucesso fica como um termo acessório do filme, mas também é importante para o entendimento da obra. Descoberta pelo fotógrafo Terry Donaldson, enquanto trabalha como faxineira em uma filial de uma restaurante de fast-food, Waris é um diamante bruto, que é lapidado para se tornar uma voz poderosa em uma luta que deve ser universal e constante.

Flor do Deserto é uma produção que nos dá um referencial para entendermos a profundidade, atualidade – e extrema necessidade do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, que é celebrado no dia 25 de novembro.

O estabelecimento da data relembra o assassinato das irmãs Mirabal na República Dominicana, e atua na denúncia da violência contra as mulheres no mundo todo e exige políticas em todos os países para que promovam a sua erradicação. A própria UNICEF tem planos contundentes para que, até 2030, a mutilação feminina esteja completamente erradicada.

Waris Dirie é uma verdadeira sobrevivente. Sua história de vida também deixa evidente um dos grandes obstáculos para a erradicação da violência de gênero: a impunidade. E essa chaga social, infelizmente, não passa em branco no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 503 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no Brasil em 2016. A soma total chega a 4,4 milhões de mulheres.

A conscientização deve começar desde muito cedo, com a desconstrução de preceitos depreciativos e humilhantes para as relações de gênero, combatendo-os com a educação, desde muito cedo, para a mudança de panorama. Contudo, é também necessário fortalecer instituições, dar voz às vítimas e combater incansavelmente a impunidade. Espelhando-se no exemplo de Waris, é preciso lutar contra as adversidades em todas as ocasiões, e ser uma voz implacável nesta luta que é de toda a sociedade.

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