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Impactos do poder da FIFA em um cenário contemporâneo


A prática desportiva é vista pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um mecanismo para o alcance da paz (RAMOS, 2011). O futebol, em especial, por ser o esporte com maior número de praticantes no mundo, é uma ação que influencia desde indivíduos até a sociedade internacional de um modo geral, a partir da consequência de sua estruturação como fenômeno social.

Embora o tema esporte não seja frequentemente debatido pelas teorias e pelos teóricos das Relações Internacionais, sua importância não é tópico para discussão. Taylor (1986 apud OLIVEIRA, 2014) aponta quatro motivos que ratificam essa importância: os aspectos culturais e sociais presentes na prática desportiva; a interdependência que os Estados possuem graças a fenômenos como os eventos esportivos; o Esporte pode (assim como já foi e é) utilizado como arma política pelos Estados; as Organizações Internacionais que comandam os eventos esportivos são relevantes em todos os âmbitos, do ideológico ao econômico.

A Copa do Mundo, nesse sentido, é a expressão máxima de organização internacional da prática de futebol. Seleções representando Estados, em diversas cidades de um local pré-determinado por uma Organização Internacional, disputam, de quatro em quatro anos, a hegemonia do considerado maior esporte do globo. Tal explicação apenas exemplifica o papel de importância que a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) exerce internacionalmente.

A autonomia institucional, como afirma Rodrigues (2015), coloca a Organização em um patamar de poder equivalente ou superior a outros atores internacionais em muitas situações. A título de exemplificação, a entidade máxima do futebol possui 211 Estados-membro, enquanto que a Organização das Nações Unidas (ONU), 193. Seu poderio econômico a colocaria, em 2013, como a décima sétima maior economia do mundo (SOLIS, 2013).

A partir da utilização de eventos como a Copa do Mundo e seu discurso de “evento da paz”, a Federação construiu um legado que atraiu a captação de significativas quantias de recursos de diversas instituições (públicas e privadas) ao longo dos eventos. Merece ser problematizada a fala de um dos dirigentes máximos da entidade, até então, Jerome Valcke, quando este, no contexto da realização da Copa do Brasil, em 2014, afirmou que a realização de uma Copa do Mundo se torna mais fácil em um local com menos democracia para os indivíduos (REUTERS, 2013). Esse tipo de posicionamento pela organização é um claro exemplo de como o “poder brando”, tal qual postulado por Joseph Nye Jr. em seus estudos, é significante para as relações internacionais.

Tal fala emerge em um cenário no qual as relações internacionais contemporâneas são marcadas por padrões –embora assimétricos e desiguais- de fluxos econômicos que interligam nações. Esses fluxos corroboram positivamente em resultados políticos e sociais nos países, considerando a influência que a FIFA construiu para si nas últimas décadas.

Ademais, a forma como a organização da Copa do Mundo, coordenada pela FIFA, aponta as influências econômicas e políticas que os Estados exercem, pois, das trinta e duas seleções que participam de cada edição, no mínimo treze serão do continente europeu, o que reforça a hegemonia do continente que possui os representantes dos mais altos cargos da organização (embora essa divisão tenha sido questionada e que, a partir da Copa de 2026, o número de vagas seja igualitário para todos os continentes).

Como todas as áreas das relações internacionais, facetas ligadas ao futebol e a FIFA sofreram revezes com a Crise Econômica Internacional, que se iniciou em 2008, e que impactou negativamente nas remessas de investimentos estatais, nas iniciativas do meio privado, o que culminou em questões acerca do rumo que a entidade máxima do futebol tomaria para o século XXI (CHAMPAGNE, 2011).

Um interessante movimento realizado pela organização foi o de se voltar mais a territórios não frequentemente contemplados com eventos, ou mesmo reconhecimento. A mudança da sede do Mundial de Clubes da FIFA, que passou a ser realizada alternadamente em países como Marrocos e Emirados Árabes Unidos, ao invés do habitual Japão, aponta um movimento rumo a países que viram um súbito crescimento econômico.

Em texto produzido em 2011, o ex-dirigente da entidade Jérôme Champagne afirma que o futebol não é de “direita”, nem de “esquerda”, conservador ou progressista, considerando que o esporte não pertence a alguém exclusivo, sendo assim, pertencente a todos. O que se vê na contemporaneidade é a utilização do esporte, e dos eventos esportivos para fins privativos, sejam de cunho político, social, ideológico ou econômico.

Os impactos que a FIFA acarreta às relações internacionais são multifacetados, portanto, não esgotados em um artigo. Conhecer as implicações que as dinâmicas políticas, econômicas, culturais, ideológicas, jurídicas que Estados e atores não estatais podem acrescentar a prática comum do futebol e vice-versa é um excelente exercício de visualização da realidade a qual se está inserido, sendo adepto ao esporte ou não.


Referências

CHAMPAGNE, J. Which FIFA for the Twenty-One Century?. Disponível em: <http://www.playthegame.org/fileadmin/documents/FIFA.Which_FIFA_for_21st_century.pdf>. Acesso em 21 de dezembro de 2017.

OLIVEIRA, L. S. Esporte e Relações Internacionais: megaeventos esportivos e poder brando. Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Relações Internacionais. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014.

RAMOS, P. de O. Por que a FIFA funciona?- Uma análise da organização internacional que controla o futebol no mundo. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização Lato Sensu em Relações Internacionais. Brasília: Universidade de Brasília, 2011.

REUTERS. Soccer: Less democracy makes for an easier World Cup- Valcke. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-soccer-fifa/soccer-less-democracy-makes-for-an-easier-world-cup-valcke-idUSBRE93N18F20130424>. Acesso em 15 de dezembro de 2017.

RODRIGUES, M. R. O poder institucional da FIFA como um ator não estatal na política internacional. Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2015.

SOLIS, D. M. Impacto social y económico de los Mundiales de Futbol de FIFA. Disponível em: <https://prezi.com/an-rnk6tislg/impacto-social-y-economico-de-los-mundiales-de-futbol-de-la/>. Acesso em 15 de dezembro de 2017.

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