Feminismos e a Questão de Gênero: Enfoque Internacional
Em seu livro "Bananas, Beaches and Bases", Cynthia Enloe nos propõe uma visão mais ampla e atenta aos atores no Sistema Internacional, a fim de incluir a participação das mulheres, visto que estas durante muito tempo não tiveram uma participação visível, atuando sempre como subalternas ou em segundo plano. Devido a histórica não equivalência de salários, as mulheres eram direcionadas a funções de secretárias ou bibliotecárias, porém, puderam assim atuar, também no cenário internacional, como no episódio citado pela autora, onde no período de 1920 e 1930, com a fundação da Liga das Nações, empregos foram criados, onde as mulheres eram cruciais para a produção e arquivamento dos documentos oficiais que concretizaram o surgimento da Liga e os acordos entre os Estados.
Enloe, também engloba a situação das mulheres refugiadas, fazendo-nos perceber a complexa rede de situações, sentimentos e dificuldades que estão ligadas a esta situação, como o que atualmente as mulheres sírias vem enfrentando. Fugindo de suas casas com os seus filhos, para escaparem do conflito entre as tropas do governo e soldados rebeldes, elas cruzam fronteiras e abrigam-se em tendas nos campos de refugiados, precisando lidar com o não reconhecimento de sua individualidade, sendo tratadas juntos de seus filhos, como a autora chama “womanandchildren” (ou “mulherecriança", em tradução livre).
Podemos destacar as mulheres que recentemente se tornaram visíveis internacionalmente: "Hillary Clinton, Mary Robinson, Angela Merkel, Christine Lagarde, Michelle Bachelet, Ellen Johnson Sirleaf and Shirin Ebadi" (ENLOE, 2014). Estas que elaboraram mudanças em seu cenário político, puderam conquistar espaço em um meio inteiramente composto por homens, devido às mudanças sociais que o feminismo vem trazendo e concretizando.
As teorias feministas de Relações Internacionais em suas vertentes, assumiram o papel de ressaltar o enfoque à questão de gênero no Sistema Internacional, já que assim como o Construtivismo, elas enfatizam a sociedade civil como um importante agente internacional. Porém, este tema, assim como qualquer outro na agenda internacional, é necessário o interesse daqueles detentores do poder econômico e político, surgindo a necessidade de legitimar a questão como algo que mereça ser analisado pelos Estados.
A dificuldade neste processo está na necessidade e importância de abordar várias perspectivas ao fazer uma análise feminista, podendo despretensiosamente apagar um grupo de pessoas vivendo em situações de injustiça. A questão de gênero ou abordagens feministas em relação ao papel da mulher na sociedade, tem como tendência enfatizar análises da esfera pública e privada, que são assuntos necessários e importantes de serem discutidos e analisados. Nunes ressalta que:
Ao unir a dificuldade de se assegurar que realmente a totalidade de variáveis foram analisadas, as pesquisas sobre gênero acabam por ter sua validade contestada quando utilizadas para criação de ações efetivas para mudanças em cenários de descriminação, por exemplo. (NUNES, Máximo, 2014).
A constante lutas das mulheres, sejam refugiadas, trabalhadoras (em seu país de origem ou como migrante), políticas ou empresárias, sempre implica grande pressão seja esta social, procurando banir certo comportamento outrora dito como banal, ou ao governo para a exigência de novas políticas públicas que assegurem os direitos das mulheres.
Referências
ENLOE, Cynthia. Bananas, Beaches and Bases: making feminist sense of international politics. California: University of California Press, 2014.
NUNES, Máximo. O Construtivismo e a Inserção do Movimento de Gênero na Agenda de Discussão Internacional. 2014. Disponível em: <http://www.repositorio.uniceub.br/bitstream/235/5985/1/20918737.pdf>. Acessado em: 20 de Jan. 2018.