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“Teorias para quê?”- As teorias das Relações Internacionais na América Latina


Fonte retirada do site https://www.estudopratico.com.br/america-latina-origem-do-nome-e-economia/


Teorias para quê? é a pergunta que faz Israel Barnabé, em seu artigo, que investiga o estudo das Relações Internacionais (RI) no continente latinoamericano (2010). Em síntese, o autor conclui que em qualquer espaço geográfico, teorias são relevantes, pois podem ordenar racionalmente a realidade, analisar objetos não apenas de forma descritiva, e possibilitam prováveis análises.

Como toda ciência, as Relações Internacionais iniciaram a construção de suas teorias a partir dos novos objetos existentes, no caso, as transformações que eram vistas no mundo no início do século XX (BARNABÉ, 2010). Entretanto, na grande maioria dos fatos considerados como fundamentais para as RI, a América Latina aparece como “personagem secundária”, quando aparece. A isto, Ossa, Uribe e Parias (2015) denominam de papel de jogadores-objeto, realizado pelos Estados na região, enquanto assistem os Estados do Norte, jogadores-ator atuarem nas diferentes dinâmicas da política internacional.

Isso se dá, pois, valores, regras e interesses, dentre outros fenômenos possibilitadores do desenvolvimento da Sociedade Internacional, foram (e são) moldados a partir de características de países que, por serem considerados hegemônicos, os fazem serem universais.

Os países latinoamericanos, com suas características peculiares de formação colonial, a forma como estes se inserirem nas dinâmicas econômicas e políticas globais, interferem em suas relações internacionais (RAPOPORT, 2006), como, por exemplo, na forma como a realidade é analisada, a partir das teorias.

Teorias foram pensadas da região na tentativa de analisar as dinâmicas internas e externas dos países a ela pertencente, como busca sintetizar Bernál-Meza em seu artigo (2006). Dentre os exemplos apresentados pelo autor, serão destacados três: a Teoria da Dependência; as contribuições de Amado Luís Cervo para o estudo da Política Exterior e de Aldo Ferrer para as discussões acerca da globalização.

Quanto à Teoria da Dependência, esta é considerada a principal contribuição teórica produzida por estudiosos latinoamericanos que buscassem analisar a realidade da região (BARNABÉ, 2010; COUTO & NOGUEIRA, 2006; FRÓIO, 2012), embora, tenham construído um pensamento híbrido, ao articular pressupostos de teorias mainstream a realidade vivenciada na região no período (COUTO & NOGUEIRA, 2006). Esta surgiu no pós- Segunda Guerra, em um contexto de incapacidade das teorias desenvolvimentistas em identificar obstáculos e possibilidades para o avanço das economias da região.

Em síntese, a Teoria da Dependência objetiva criar “(...) possibilidade(s) de se construir na região um capitalismo autônomo a partir de um continuum evolutivo” (DUARTE & GRACIOLLI, ano, p. 9). Como principais contribuições, é possível citar a participação de autores da Economia, da Sociologia e da Ciência Política, como Fernando Henrique Cardoso, Enzo Faletto e Ruy Mauro Marini. A relevância desta Teoria se dá por enxergar o processo de subdesenvolvimento como produto das dinâmicas capitalistas, podendo assim, expandir as possibilidades de desenvolvimento para a América Latina.

Amado Luis Cervo, também é um importante autor a ser destacado nas contribuições da América Latina para as Relações Internacionais. O historiador brasileiro formulou, na década de 1990, um modelo analítico para o estudo das políticas externas, utilizando como exemplo as práticas do Brasil, relacionando tais práticas com o modelo de desenvolvimento que o Estado apresentava (BERNÁL-MEZA, 2006). Para Cervo, existem quatro tipos de Estado: os liberais-conservadores; os desenvolvimentistas; os neoliberais e os logísticos. Sua contribuição ultrapassa o campo da História, de origem, e perpassa as Relações Internacionais, considerando a utilização no ensino de diversas universidades latinoamericanas.

Por fim, é necessário também ressaltar os estudos de Aldo Ferrer, economista argentino, que problematizou as dinâmicas de globalização frente à realidade da região, no final da década de 90 e início da década de 2000. Ferrer analisou a história econômica mundial, teorizando em seus estudos, fatores fundamentais para a construção de divisões como desenvolvimento-subdesenvolvimento e centro-periferia. Uma das principais conclusões de Ferrer é de que o desenvolvimento econômico e político dos Estados estão vinculados a como estes articulam seus contextos internos com o contexto internacional. Assim, desde ao menos o século XVI, sempre houve globalização (BERNÁL MEZA, 2010).

Importante ressaltar que o objetivo desse texto não é o de reforçar o pensamento de que as teorias produzidas além do Atlântico não devem ser rechaçadas, ignoradas. É necessário reconhecer as cargas de impressões, valores, identidades atribuídas a estas, e após, problematizá-las, visando destacar como tais ferramentas podem ser úteis às explicações das realidades latinoamericanos.

Contudo, a necessidade da criação de pressupostos, teorias da América para a América não deve ser negada. Encontra-se fortes tentativas de reverter esse negativo quadro, com contribuições dos estudos pós coloniais (Arturo Escobar, Walter Mignolo e Ricardo Salvatore, por exemplo) e dos estudos de gênero (como Mariza Corrêa, Maria Lugones e Yuderkys Espinoza).

Em artigo publicado, Medeiros, Barnabé, Albuquerque e Lima (2016) analisaram a produção e utilização de teorias de RI na América do Sul, e como resultado, os autores afirmaram que o campo das RI no continente parece uma cópia do campo na América do Norte, mesmo com suas idiossincrasias, “(...) maybe because South American authors understand that those idiosyncrasies are not relevant and in the majority of cases the Realism and Liberal paradigms are able to explain how nations behave” (p. 25).

Respondendo a pergunta de Israel Barnabé, a América Latina, como qualquer outra região, necessita de teorias, entretanto, necessita de teorias que estejam atentas aos padrões políticos, econômicos, ideológicos, sociais que foram reforçados ao longo dos séculos. Que estejam atentos em conferir aos Estados (e logo as pessoas) um senso de autonomia, fazendo com que conceitos como igualdade entre as nações, e desenvolvimento saiam do campo da ficção e atinjam verdadeiramente o dia a dia dos indivíduos.


Referências

BARNABÉ, I. R. O Estudo das Relações Internacionais na América Latina: teorias em xeque?. Revista Electrónica del Departamento de Estudios Ibéricos y Latinoamericanos de la Universidad de Guadalajara, Guadalajara, 2010, 1 (2).

BERNÁL-MEZA, R. Aportes Teórico-Metodológicos Latinoamericanos Recientes al Estudio de las Relaciones Internacionales. Revista de Historia Actual, Cádiz. 4 (4), 2006, p. 227-238.

COUTO, A. B. & NOGUEIRA, J. F. A. P. A Produção Teórica de Relações Internacionais na América Latina. Resumo do Relatório de Iniciação Científica da PUC-RIO, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2006/Resumos%202006/CCS/IRI-OK/Alessandro%20Biazzi%20Couto.pdf>. Acesso em 17 de fevereiro de 2018.

DUARTE, P. H. E. & GRACIOLLI, E. J. A Teoria da Dependência: interpretações sobre o (sub) desenvolvimento na América Latina. In: V Colóquio Internacional Marx e Engels, Campinas, UNICAMP, 2007.

MEDEIROS, M. de A.; BARNABÉ, I.; ALBUQUERQUE, R. & LIMA, R. What does the Field of International Relations look like in South America?. Revista Brasileira de Política Internacional, 59 (1), p. 1-31, 2016.

OSSA, G. L.; URIBE, D. M. & PARIAS, C. M. Reseña de la evolución de las Relaciones Internacionales en América Latina. Punto de Vista, Bogotá, 2015, 6 (10), p. 37-59. http://dx.doi.org/10.15765/pdv.v6i10.757.

RAPOPORT, M. Una contribución al estudio de la historia de las relaciones internacionales en América Latina desde fines del siglo XXI. Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas, Argentina. Disponível em: <http://ri.conicet.gov.ar/bitstream/handle/11336/10824/CONICET_Digital_Nro.13734.pdf?sequence=1>. Acesso em 17 de fevereiro de 2018.

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