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O cenário das eleições na América Latina em 2018


Neste ano de 2018, Brasil, México, Colômbia, Venezuela, Paraguai, Costa Rica e Cuba terão eleições presidenciais, sendo que alguns já iniciaram o processo. Esse cenário está chamando a atenção do mundo, já que o caminho que os países vão seguir influenciarão em suas relações com os demais atores do Sistema Internacional, no destino da economia, nos investimentos externos e no próprio desenvolvimento social do país.


Em uma análise geral sobre as opiniões de especialistas no principais sites de notícias, percebemos que alguns apostam em uma tendência do eleitorado para candidatos da direita, assim como ocorreu nas eleições do Chile no final de 2017 com a vitória de Sebastián Piñera.


Já outros apostam em candidatos que não se intitulam como de esquerda nem direita, seriam os casos de novas figuras ou figuras tradicionais que tentam se desvincular de partidos tradicionais, devido aos grandes escândalos de corrupção e descredibilidade das instituições políticas. Nesse panorama, se destacam o Brasil e o México .


Ocorre que mesmo com algumas tendências apontadas pelos especialistas, a maioria admite a imprevisibilidade do resultado face às diversas variantes que ainda não estão precisas e que podem influenciar drasticamente na mudança do rumo das eleições.


Esse panorama nos faz questionar acerca de situação importante na América Latina. Independente do candidato eleito ser de esquerda, direita, direita-centro ou outra definição que lhe for atribuída, será que aqueles que passaram e que vão passar pelo poder realmente representam os verdadeiros interesses dos cidadãos da América Latina? É relevante trazer alguns aspectos históricos para refletir sobre o assunto. A história nos ajuda a compreender aspectos sociais e culturais de um país, a forma de distribuição de poder bem como elementos de sua identidade.


Iniciando pelo próprio nome América Latina. No artigo “América Latina: da construção do nome à consolidação da ideia” dos autores Rafael Leporace Farret e Simone Rodrigues Pinto (2011), depreende-se primeiramente que a denominação América foi atribuído e utilizado pelas nações que “descobriram” o novo mundo e que viam esse novo local basicamente apenas como um território apto a lhe servir e ser explorado.


Outro ponto interessante do artigo supramencionado é sobre o fato da designação América Latina ter sido construída sob um olhar externo e sem levar em consideração a individualização dos diversos povos, culturas e aspectos geográficos. Por fim, os autores abordam a própria dificuldade em definir critérios para classificar um país como pertencente a América Latina.


Sob um ponto de vista geral da autonomia da América Latina, é possível afirmar que o processo de independência não foi direcionado para atendimento dos anseios e interesses do povo. Na verdade, a autonomia da colônia foi vista como um processo que passava ser interessante para as elites, já que não lhes convinha mais ser dependente da metrópole. Assim, a independência dos países da América Latina não significou necessariamente a construção de países democráticos e igualitários, basicamente ocorreu a transposição dos poderes da metrópole para a aristocracia da América Latina.


A proposta deste trabalho é tentar refletir por qual motivo ainda os cidadãos da América Latina não conseguiram reverter significativamente essa situação. Trata-se de uma minoria governando em prol de seus próprios interesses e deixando de lado os direitos básicos, como educação, saúde, segurança, lazer, de lado.


O trecho do livro “A Construção da Democracia na América Latina: Estabilidade democrática, processos eleitorais, cidadania e cultura política” (1998) que sintetiza esse panorama:

“Trata-se de buscar, como ponto de partida, as raízes culturais sobre as quais desenvolveu-se um padrão de adaptação e conformação dos agentes individuais frente ao fenômeno de escolha política. Seu epicentro teórico encontra-se, atualmente, na verificação da influência, em termos de condicionantes da escolha eleitoral, dos padrões patriarcais de mando mesclados ao desenvolvimento de padrões modernos de representação política” (PEREIRA. p, 168)

Neste contexto, em Discurso da Servidão Voluntária (1576), o autor Etienne de La Boétie, reflete sobre o porquê uma pessoa consegue mandar em tantos. A obra foi escrita em outro momento histórico, mas que é possível fazer conexões e releitura para o presente.


Na obra “O príncipe” de Maquiavel nota-se que o autor olha mais para o governante, enquanto Etienne de La Boétie estuda o comportamento dos governados. Boétie faz uma reflexão de como o poder do tirano só existe e se mantém em razão dos próprios governados alimentarem isso. Assim, seja na época do autor seja no momento atual, acreditamos que já seria um grande passo não nutrirmos o poder daqueles que não nos representam verdadeiramente.


Diante do exposto, a proposta deste trabalho é instigar a reflexão. Se somos responsáveis pela construção da nossa história, como cidadãos latino-americanos temos as ferramentas nessas eleições para mudar os jogos de poder que ainda se perpetuam.


REFERÊNCIAS


BAQUERO, M.; CASTRO, E. C. O.; GONZALES, R. S. (Orgs.). A Construção da Democracia na América Latina: Estabilidade democrática, processos eleitorais, cidadania e cultura política. Porto Alegre: Ed. UFRGS; Canoas: Centro Educacional La Salle de Ensino Superior, 1998.


BOÉTHIE, Etienne de la. Discurso da Servidão Voluntária. LCC. 2004. Disponível em: <http://culturabrasil.org/zip/boetie.pdf>. Acesso em março de 2018.


Café Filosófico. A Servidão Voluntária com Leandro Karnal. Disponível em: <https://youtu.be/shUKfvyo4NE>. Acesso em março de 2018.


ElPaís. Um ano crucial para América Latina, com eleições no Brasil, no México e na Colômbia. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/01/internacional/1514806043_746437.html>. Acesso em março de 2018.


Estadão. Escândalos e guinada à direita marcam eleições na América Latina em 2018. Disponível em: < http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,escandalos-e-guinada-a-direita-marcam-eleicoes-na-america-latina-em-2018,70002135033>. Acesso em março de 2018.


FARRET. R L; PINTO, Simone Rodrigues. América Latina: da construção do nome à consolidação da ideia. Revista Topoi, v.12, n.23. 2011. p. 30-42.


NEXO. Em 14 meses, 8 eleições presidenciais: a maratona política latino-americana. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/11/08/Em-14-meses-8-elei%C3%A7%C3%B5es-presidenciais-a-maratona-pol%C3%ADtica-latino-americana>. Acesso em março de 2018.


PIRES, Marcos Cordeiro; MENDONÇA, Marina Gusmão de. Formação Econômica da América Latina. Editora LCTE. 2012.

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