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Cúpula Mercosul e Aliança do Pacífico

Os últimos acontecimentos internacionais, sobretudo a guinada ao unilateralismo e as consequências de uma guerra comercial e fiscal em escala global afetam diretamente à América Latina – tradicionalmente mais vulnerável às mudanças geopolíticas e econômicas vindo dos países mais centrais. Além dessas vicissitudes aparentes, há uma grande movimentação sistemática dentro dos países da região que está redesenhando o mapa político local.

As eleições no Brasil, ainda em 2018, serão importantes para marcar o momento histórico em que o “socialismo do século XXI” parece perder o poder e o encanto das massas, inaugurando um capítulo que já passou por Chile, Peru, Colômbia, Paraguai e Argentina. No ambiente macro, já se observa o alinhamento de interesses dos países envolvidos, sobretudo no âmbito do Mercosul e da Aliança do Pacífico, que ganham novo fôlego a partir da estruturação de novas ações na política externa dos países. Por isso, no dia 24 de Julho, no México, aconteceu a 1ª Cúpula de Presidentes do Mercosul e Aliança do Pacífico, na qual é esperado que se dê continuidade nos acordos de livre comércio que já estão em andamento e sejam exploradas novas oportunidades econômicas, comerciais e políticas, sobretudo em um momento de mudanças de poder nos países envolvidos, assim como em um ambiente internacional que pede uma coordenação política mais efetiva dos países da região, a fim de não sofrerem os impactos mais severos de acordos comerciais menos favoráveis.

A Aliança do Pacífico, formada por: Chile, Colômbia, México e Peru, foi criada há cerca de seis anos, com o objetivo de fomentar as trocas comerciais entre os países, valendo-se, sobretudo, de sua posição geográfica favorável, com a vasta utilização da abertura para o Oceano Pacífico como propulsor do comércio. Já o Mercosul, com quase trinta anos de existência, tem como membros efetivos: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai; o bloco, que vem de intensas negociações com a União Europeia para acordos comerciais menos burocráticos e mais livres, vê na aproximação da Aliança do Pacífico uma grande oportunidade de expandir negócios e também aproximar-se de rotas comerciais mais volumosas.

A Aliança, espera-se que seja possível conseguir uma penetração maior nos mercados do Mercosul, ainda que estejam passando por problemas econômicos e também políticos. A cúpula marcará a estreia internacional do novo presidente mexicano, López Obrador, que terá reuniões agendadas e bilaterais com alguns presidentes, incluindo Maurício Macri e Michel Temer. Será também uma oportunidade importante para a apresentação de seu plano de política externa para o México.

No entanto, não se pode esquecer, de como a aproximação de tais blocos evidencia o binômio da vulnerabilidade e sensibilidade, trabalhados por Joseph Nye e Robert Keohane (1989). Em um mundo de interdependência complexa, os fatos políticos ocorridos a nível nacional tomam proporções gigantescas e vão atingindo outros países com uma velocidade impressionante. O protecionismo do presidente estadunidense, Donald Trump, põe em cheque toda a construção política e econômica de países latino-americanos em relação aos Estados Unidos; o México, que faz parte do NAFTA, é um dos países que mais sofre com as ações americanas, perdendo cada vez mais investimentos e empregos.

Por isso, vemos que a vulnerabilidade destes países é considerável em relação aos bloqueios impostos pelos americanos, mesmo que muitos destes países tenham a China – que já não tem a mesma ambição pelos mercados latino-americanos de antes – como principal parceiro econômico. Recentemente, o Brasil e a Argentina tiveram problemas com a exportação do aço para os Estados Unidos, que, embora visasse primeiramente a China na luta pelo lema “America first”, acabou atingindo também os dois países membros do Mercosul, que, inclusive, recorreram à OMC e utilizaram-se de seus órgãos diplomáticos para amenizar a situação.

A sensibilidade destes países em relação ao tema é o que rege a resposta que os mesmos têm de dar à sociedade internacional como um todo. É nítido que a ação isolada dos mesmos adiantaria muito pouco para ir contra uma guerra que se desenha entre EUA e China, sem artefatos bélicos; mas com a utilização de artefatos tão ou mais perniciosos, como: manipulação de mercados, leis de embargo, aumento de taxas e barreiras alfandegárias. É preciso compreender que o embate entre as potências hegemônicas de hoje se dá muito mais pela oscilação de mercados que pela utilização de meios tradicionais, militares.

Apostar na união destes países não é um mero aparato ideológico e partidário, mas sim uma estratégia para suplantar uma movimentação internacional que poderá ainda causar problemas mais graves para os países em questão. A Aliança do Pacífico, por exemplo, teve perdas gigantescas com a interrupção dos planos do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), assim como o Mercosul esbarra em tarifas e imposições que travam as negociações com a União Europeia, arrastando-se por anos, e que não vê com bons olhos a chegada de produtos agrícolas da América do Sul.

Deve-se acompanhar atentamente a cúpula que irá acontecer no México, mas, sobretudo as decisões que serão tomadas, haja vista que México e Brasil ainda são as maiores economias que estarão presentes e as duas estão em um momento delicado no cenário político nacional, e as decisões tomadas ainda no atual governo do presidente Temer deverão ser continuadas em um próximo governo do Brasil, pois é preciso formar alianças e contatos entre países próximos e com aproximação territorial, cultural e política, para diminuir a vulnerabilidade causada por crescentes atos de unilateralismo.

Referências:

MOLINA, Federico Rivas. Mercosul e Aliança do Pacífico se aliam contra o protecionaismo de Trump. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/07/internacional/1491590076_975735.html>. Acesso em julho de 2018.

Pedruzzi, Pedro. Primeira reunião de Cúpula Mercosul – Aliança do Pacífico será em Julho. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2018-06/primeira-reuniao-de-cupula-mercosul-alianca-do-pacifico-sera-em-julho>. Acesso em julho de 2018.

Oliveira, Eliane. Mercosul e Aliança do Pacífico terão 1° encontro de cúpula em julho, no México. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/mercosul-alianca-do-pacifico-terao-1-encontro-de-cupula-em-julho-no-mexico-22778831>. Acesso em julho de 2018.

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