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A história de um massacre


Data de Lançamento: 28 de setembro de 2007

Direção: Roger Spottiswoode

Gênero: Drama

País: Canadá


A História de um Massacre é uma obra que tem a árdua missão de, em pouco menos de duas horas, mostrar com precisão os horrores do genocídio em Ruanda, ao passo que explana os problemas sociais, políticos e étnicos de um povo tão sofrido e marcado pela pobreza e o descaso. Outro fator importante, antes que se adentre nos méritos cinematográficos da obra, que deve ser considerado é a questão de o filme ser uma adaptação do livro Shake Hands with the Devil, um relato pessoal de Romeo Dallaire, general canadense que serviu como Comandante de Força de Paz das Nações Unidas para Ruanda.

Diferentemente de obras mais conhecidas, como Hotel Ruanda (2004), a História de um Massacre se vale da experiência pessoal de um Comandante da ONU, e sequer começa com o massacre cometido pelos extremistas hutus contra os tutsi e hutus moderados, mas sim um ano antes, em 1993, no início da Missão de Assistência das Nações Unidas para a Ruanda (UNAMIR), que tinha como objetivo inspecionar e supervisionar a implementação do Acordo de Arusha, o qual tinha por objetivo justamente pacificar a relação entre os tutsi e hutus, representados, respectivamente, pelo governo de Ruanda e a Frente Patriótica Rebelde.

Ainda que o filme faça breves menções ao passado de colonização de Ruanda, inclusive tocando no assunto da divisão étnica do país perpetrado pela Bélgica, é a escalada de tensão política que dita os rumos do primeiro ato do filme. Nas falas iniciais de Romeo Dallaire (Roy Dupuis), fica claro que o objetivo das Nações Unidas não é a criação de uma paz, com o intuito de promover o statebuilding local, mas sim garantir a estabilidade na região, e não criar distúrbios que provocassem a quebra do acordo de paz entre as partes em questão.

Contudo, Dallaire é informado que a Frente Patriótica Rebelde está conseguindo acesso a armas brancas e de fogo, com a ajuda de um atravessador que desvia tais armas principalmente da França, país que apoia os hutus. Entretanto, dada as características da missão e do seu posto, não é possível investigar mais a fundo a denúncia que lhe fora apresentada. E, enquanto isso, a escalada de violência se dá nas regiões mais próximas de Uganda, um país vizinho que abrigou por muito tempo grande parte dos hutus extremistas.

Em meio a tantas informações, o filme sempre corta para cenas de Dallaire, já depois de passada a missão em Ruanda, conversando com superiores, evidenciando que seu estado mental não está em boas condições e que o ocorrido em Ruanda lhe causou danos irreparáveis. A firmeza de Dallaire no comando da missão é sempre ponderada pela sua figura fragilizada e triste, quando o filme trata de mostrá-lo após o término de sua missão. E uma das cenas em que Dallaire parece mais durão é exatamente quando recebe a notícia da morte do presidente, Juvénal Habyarimana.

Daí em diante, o clima de morte e violência toma conta do país. Com o finíssimo tecido político rasgado, é difícil conter o genocídio. A missão encabeçada por Dallaire se vê no meio de um grande impasse, pois as grandes potências se omitiam e algumas, como a Bélgica e França, faziam de tudo para tirar seus cidadãos – e alguns privilegiados ruandeses – do território. A ajuda humanitária não chegava, e, até mesmo os veículos de mídia que estavam em Ruanda, preferiam noticiar a situação na Bósnia, já que entendiam que a questão étnica no país africano era ‘mais uma bagunça’ da região.

O filme, embora retrate uma situação triste e complexa, instiga pensamentos que se ligam com a nossa realidade. Há algumas vozes que acreditam que a ONU é uma – pasmem – conspiração universal para acabar com as soberanias estatais e instaurar um Estado Único. Há também vozes histéricas bradando que a “ONU deveria se preocupar com seu país”. A realidade é que, muitas e repetidas vezes, o que a ONU faz é tudo menos intrometer-se nos países. No caso de Ruanda, a atuação, que fora, sem sombra de dúvidas, prejudicada pela logística oferecida pelos países envolvidos na missão, causou a morte de milhões – mas também salvou a vida de milhões.

Não raro, vemos notícias de presidentes e candidatos à presidência que prometem cortar o repasse financeiro para as Nações Unidas (algo que o Brasil faz muito bem), ou retirar-se da Organização (criando um pária no Sistema Internacional), incluindo casos de países que se retiraram de organizações do sistema onusiano (como os EUA em relação à UNESCO). Contudo, essa discussão se insere no panorama de fortalecimento de discursos mais nacionalistas e do reforço à imagem de soberania dos países, longe do que é propagado durante a película de Peter Raymont.

A mensagem principal é um tanto pragmática. O filme mostra claramente que há falhas nas ações da ONU, tão bem como há uma colossal burocracia em meio a uma tentativa de cooperação entre países diferentes que possuem interesses diferentes. No entanto, também mostra como seu trabalho é importante e necessário, longe da atribuição errônea que lhe é conferida, a de um “super-Estado”.

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